[stock-market-ticker symbols="AAPL;MSFT;GOOG;HPQ;^SPX;^DJI;LSE:BAG" stockExchange="NYSENasdaq" width="100%" palette="financial-light"]
ANO 9 | OUT-DEZ 2016

Edição 31

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on telegram
Share on whatsapp
Share on email
Share on print

O fechamento desta edição aconteceu no final de setembro, mês em que a agência de classificação de risco S&P retirou o grau de investimento do Brasil, o governo apresentou o orçamento para 2016 com um déficit de R$ 30,5 bilhões e anunciou pacote de corte de gastos de R$ 26 bilhões, juntamente com a ameaça de ressuscitar a CPMF (o famigerado imposto sobre movimentações financeiras). Setembro também foi um mês em que as palavras crise e impeachment frequentaram o noticiário como há muito tempo não se via. Crise econômica e política, recessão, previsão de novo aumento de impostos, queda nas vendas e no emprego, PIB do Brasil em que já não cabem os gastos do governo.

Estas páginas foram construídas neste contexto e em meio a uma escalada de fatos que envelhecem rapidamente as notícias do dia, da semana e do mês. Os artigos da edição foram escritos por brilhantes economistas e por um respeitado jornalista da área de jornalismo investigativo.

José Roberto de Toledo (diretor do Estadão Dados) explica por que é necessária uma reforma política, diante de pulverização partidária, crise de representatividade do sistema político, encarecimento progressivo das campanhas eleitorais, perpetuação das oligarquias, influência crescente do capital no resultado das eleições e nas decisões do Congresso Nacional. Marcos Lisboa (Insper), Marcos Mendes (consultor legislativo do Senado Federal), Bernard Appy (diretor do Centro de Cidadania Fiscal) e Sérgio Lazzarini (Insper) são os autores do artigo “Os desafios para sair da crise”. Mansueto Almeida (funcionário de carreira do Ipea, atualmente em licença) analisa a rigidez do gasto público e indica soluções. Fabio Giambiagi (Ipea) aponta as razões para se mudar o contrato social que rege as regras de aposentadoria e de concessão de pensões. Naercio Menezes Filho (Insper) analisa o problema da educação e o que fazer para melhorá-la. Samuel Pessoa (FGV) e Bernard Appy (Centro de Cidadania Fiscal) discutem, respectivamente, o esgotamento fiscal e a necessidade de reforma no sistema tributário nacional.

O leitor de Interesse Nacional recebe uma edição com muitos dados, análises e sugestões para uma nova agenda de reformas estruturais, sem as quais será difícil, para qualquer governo, levar o Brasil de volta ao crescimento sustentável em níveis mais elevados. Diante da gravidade do quadro atual, o Conselho Editorial decidiu pela primeira vez, nos oito anos da revista, publicar um manifesto pedindo mudanças urgentes.

Manifesto
Os anos de modernização do Estado brasileiro e de inclusão de parcela significativa da população na economia de mercado, no período 1990 a 2015, ficaram para trás. A crise politica, econômica e ética acelera a hora da verdade para o Brasil, visto que não se veem saída e recuperação sem medidas estruturais de médio e longo prazos. O programa mínimo que a seriedade da crise atual exige é passar o Brasil a limpo e mudar o que tem de ser mudado, dentro dos princípios democráticos.

O Brasil enfrenta uma situação de extrema gravidade sem uma liderança política, empresarial e dos trabalhadores que expresse os anseios de todos por uma economia estável, um regime político funcional, que represente a maioria da população, e uma sociedade mais justa. O grau alarmante de corrupção, facilitado pela interferência e pela ineficiência do Estado todo poderoso, contamina a vida política e econômica do país e clama pelo fim da impunidade. Perdeu-se o sentido de autoridade e de garantia de segurança ao cidadão.

A retirada do grau de investimento do Brasil é a consequência da falta de rumo e da incompetência do governo na condução da política econômica, que fez o país mergulhar na recessão.

O desequilíbrio econômico, o crescimento do déficit público, da inflação e do desemprego e o gigantismo do Estado impõem a prioridade conjuntural do ajuste fiscal. O problema, contudo, é estrutural e torna urgente a discussão sobre a agenda de reformas microeconômicas, iniciada, mas interrompida. A perda da competitividade e do dinamismo do comércio exterior torna urgente a mudança da agenda interna com uma visão de médio e longo prazos.

A ausência de liderança efetiva no Executivo, no Legislativo e no Judiciário agrava o quadro nacional e exige de todos os que se preocupam com o futuro do Brasil um esforço para promover um debate que chame a atenção para as mudanças que a sociedade brasileira terá de enfrentar e aceitar e a necessidade de restaurar o crescimento e de aumentar o emprego.

Qualquer que seja o governo em Brasília, essa nova agenda se imporá. O custo de ignorá-la será o caminho do Brasil, no médio prazo, para uma Argentina, uma Venezuela ou, no pior cenário, uma Grécia. O país perderá a capacidade de honrar seus compromissos, pelo nível cada vez maior da dívida, em especial da previdência social, o que levará a índices muito baixos de crescimento e ao caos com o desemprego chegando a níveis impensáveis, com graves custos sociais.
O preço do imobilismo será maior do que o custo das mudanças necessárias para restabelecer as condições de governabilidade do país. Não se pode deixar de contar com um Estado eficiente, efetivo e comprometido com o interesse público, em especial com os interesses dos segmentos mais pobres da população. Será inevitável o reexame do papel do Estado e o grau de sua interferência na vida de todos nós e das empresas.

O cidadão comum tem de aprender a defender seus direitos e a participar de forma democrática na solução dos problemas que se acumulam e que parecem sem solução. A população anestesiada pela crise em todos os níveis tem de despertar e exercer seus direitos de cidadania.

A nova agenda não se limita à economia. A simplificação e a desburocratização dos procedimentos que envolvem a relação do cidadão com o Estado têm de voltar a ser prioridade. A reforma dos processos nos julgamentos civis, criminais e trabalhistas beneficiará a sociedade como um todo, sempre preservando o direito de defesa e o devido cumprimento da lei.

Nesse quadro de incertezas e grandes riscos, a defesa do interesse nacional impõe a discussão de uma agenda renovada, que venha a examinar medidas duras, mas realistas, que farão a economia retornar a um rumo de estabilidade e de crescimento. Esse é o primeiro passo.

A tarefa é urgente. O Brasil não pode esperar. O mundo não vai aguardar o Brasil.

Confira os artigos desta edição

Edição 31

Este texto apresenta, de forma bastante resumida, as principais distorções do sistema tributário brasileiro, bem como sugere algumas alternativas de reforma. É importante deixar claro que o foco do texto é a estrutura do sistema tributário, e não a carga tributária, que depende do nível de gastos públicos. Ainda que não sejam questões totalmente independentes – pois a pressão pelo aumento de receitas para financiar despesas crescentes pode levar a um aumento da complexidade e das distorções do sistema tributário –, podem ser tratadas separadamente.
O artigo explora a dinâmica fiscal da União de 1999 até 2014 com o objetivo de descrever como os motivos dos desequilíbrios inerentes ao nosso contrato social, expresso em nossa Constituição, somente aparecerem – e de maneira dramática – em 2015. O argumento básico é que de 1999 até 2010 o crescimento da receita recorrente, muito além do crescimento do PIB, mascarou os desequilíbrios inerentes ao nosso contrato social.
Melhorar a educação é fundamental para qualquer sociedade crescer de forma sustentável no longo prazo com justiça social. A educação melhora a produtividade dos trabalhadores e de suas firmas, facilitando inovações tecnológicas e a aplicação de novas técnicas gerenciais. Além disso, como a elite econômica de qualquer país já tem um alto nível educacional, aumentos posteriores na escolaridade e na qualidade da educação favorecem principalmente as famílias mais pobres, aumentando a ascensão social e a mobilidade intergeracional e diminuindo a pobreza e a desigualdade.
Em 1993, eu era funcionário do Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Washington, trabalhava com a Venezuela e estava com alguns colegas em uma missão de assessoramento técnico visando à adoção do Imposto Sobre o Valor Adicionado (IVA). Estava com os colegas da missão conversando em um táxi acerca das dificuldades de aprovar algo que, na maioria dos países relevantes do mundo, já existia há décadas, mas esquecemos um pequeno detalhe: o motorista.
De 1991 a 2014, a despesa primária do governo central cresceu 9 pontos de percentagem do PIB, um crescimento da despesa da ordem de R$ 512 bilhões, dos quais 78,7% decorrente da expansão de programas de transferência de renda: Benefício Mensal de Prestação Continuada, seguro-desemprego e abono salarial, Bolsa Família, INSS e aposentadorias de servidores públicos.
Um paradoxo enreda o Congresso Nacional. Quanto mais popular e politicamente forte a gestão do Executivo federal, mais subserviente é a legislatura da vez, limitando-se a referendar medidas provisórias e a seguir a agenda do Palácio do Planalto. Mas, quando o governo se enfraquece por alguma razão – seja econômica, ética ou ambas –, o Legislativo, por mais que tente implementar uma pauta própria, não forma maioria em torno de um conjunto coerente de ideias e acaba envolvido pelos lobbies dos grupos mais bem organizados.

newslatter

Receba as últimas atualizações

Inscreva-se em nossa newsletter

Sem spam, notificações apenas sobre novas atualizações.

últimas edições

Estamos nas Redes