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Apresentação

“A pandemia romperá o mais atávico tabu na educação: a introdução de modernas tecnologias nas salas de aula do ciclo acadêmico, uma barreira em quase todos os países”, aposta Claudio de Moura Castro, economista, professor e especialista em educação.

“O liberalismo primário, que hoje pauta a política econômica no país, será imperiosamente revertido. Será uma oportunidade para revalorizar o Estado e a política, para transformar o nosso Estado cartorial e patrimonialista num Estado eficiente e a favor da população”, antevê André Lara Resende, economista, ex-presidente do BNDES e ex-diretor do Banco Central.

“A tecnologia trouxe apenas duas grandes revoluções para a escola. A primeira foi a invenção da escrita. A segunda foi o livro. Com alguns pânicos e engasgos, ambas acabaram sendo digeridas. Mas, praticamente, os avanços pararam por aí.” A avaliação de Claudio de Moura Castro é que a pandemia do novo coronavírus provocará a entrada da tecnologia em sala de aula. “Fora do acadêmico, usa-se tudo. Na escola, nada” exagerando um pouco, mas não muito.” Tecnologia é a aliada de grandes empresas e de instituições dedicadas à formação para o mundo dos negócios, diz. “Entram em cena computadores, vídeos, EAD, realidade aumentada, chatrooms e por aí afora. Em outras palavras, nos deparamos com um divisor de águas espantosamente impermeável.”

O artigo “Notas Sobre a C&T no Brasil Depois da Pandemia”, de Carlos Henrique de Brito Cruz (Instituto de Física, Unicamp), Hernan Chaimovich (Instituto de Química, USP), Luiz Nunes de Oliveira (Instituto de Física de São Carlos, USP), Renato H. L. Pedrosa (Instituto de Geociências, Unicamp) e Roberto G. S. Berlinck (Instituto de Química de São Carlos, USP), mostra como a contribuição de pesquisadores brasileiros na compreensão da pandemia e nas sugestões e recomendações ao poder público para enfrentá-la tem sido notável. “Pesquisadores do Brasil determinaram, em apenas 48 horas depois de identificado o primeiro caso local, a estrutura do RNA do vírus, permitindo conhecer características da infecção e o caminho do contágio. Profissionais e pesquisadores do Sistema Único de Saúde (SUS) trabalharam, muitas vezes em colaboração com colegas estrangeiros, para aperfeiçoar modelos epidemiológicos para orientar providências sanitárias. Empresas com capacidade tecnológica desenvolvida localmente se engajaram na produção de respiradores e tomógrafos. Pesquisadores de universidades e institutos criaram protótipos de respiradores emergenciais de baixo custo. Universidades e institutos, como Butantan e Fiocruz, desenvolveram capacidade própria para desenvolver e coordenar testes diagnósticos. Não menos importante tem sido o papel de cientistas sociais e cientistas políticos, conhecedores dos desafios engendrados pela crônica desigualdade social existente no país. Tudo isso foi feito vencendo dificuldades, mas o que importa é que foi e está sendo feito.”

O velho multilateralismo, provado em tantas crises, neste momento estende suas mãos para o enfrentamento da pior epidemia depois da gripe espanhola, em 1918-1920, como mostram Jorge Arbache e Marcelo dos Santos, da CAF, que está focando em ações de apoio à produtividade. Estruturou um programa para dar apoio financeiro e técnico especializado aos bancos de desenvolvimento nacionais e subnacionais. Os recursos serão destinados prioritariamente às micro, pequenas e médias empresas. Um segundo programa visa apoiar empresas microfinanceiras para que tenham melhores condições de liquidez.

Enormes desafios para o comércio exterior brasileiro estão à vista no cenário internacional, como alerta o artigo de Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e ex-embaixador em Londres e Washington. O plano de recuperação da União Europeia, depois da Covid-19, inclui uma política industrial e uma política ambiental (European Green Deal), que, entre outras medidas, prevê punição para empresas que importarem produtos provenientes de áreas de desmatamento florestal, diz Barbosa. Para não dificultar a expansão do comércio de produtos agrícolas, ele sugere ajustes na política de meio ambiente, com medidas e ações concretas para preservar a floresta amazônica. “Essas medidas precisariam ser implementadas para evitar o risco de não ratificação desses acordos comerciais por parlamentos cada vez mais influenciados por partidos verdes contrários à aprovação de acordos com o Brasil.”


NOTA DOS EDITORES
: Como consequência da pandemia da Covid-19, Interesse Nacional, depois de 50 edições, deixa de ser impressa e passa a ser publicada de forma digital. A revista pode ser acessada no site www.interessenacional.com. A edição impressa está suspensa até segunda ordem.

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