Edição 11

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Esta edição, preparada para circular antes das eleições gerais de outubro, traz artigos assinados por formadores de opinião da mídia brasileira que, habitualmente, se debruçam com olhos críticos sobre os temas do cotidiano político, econômico e social do País e produzem análises em ritmo veloz, compatível com a rapidez dos acontecimentos. A eles o Conselho Editorial endereçou convite para que refletissem sobre os interesses nacionais em jogo nas eleições gerais de 2010.


O Conselho Editorial previa que esta edição traria artigos dos três principais candidatos reagindo aos desafios à governabilidade elenca- dos nos números anteriores. Entretanto, dado o prazo exíguo até as eleições e a dificuldade em conseguir que os candidatos se adaptassem ao cronograma da edição, decidimos montar um número com textos de expressivos jornalistas. A tarefa foi cumprida em uma semana, confirmando uma das principais características do jornalismo: a corrida contra o tempo e a pontualidade na entrega de artigos, reportagens, colunas e editoriais.


O presente número completa, assim, o trio iniciado na edição 9 (abril-junho), que ofereceu material de leitura substantivo acerca de questões relacionadas com a modernização das instituições brasileiras e com o desafio da reforma orçamentária, além de uma reflexão sobre o uso da internet nas campanhas eleitorais.
Já o número 10 (julho-setembro) trouxe artigos de especialistas que delinearam a agen da relevante em áreas como política externa, macroeconomia, meio ambiente, previdência, papel do Estado, segurança pública, inovação (C&T), saúde e educação.


Os sete ensaios que compõem este número revelam percepções baseadas na intensa vivência dos formadores de opinião no trato de in- formações relacionadas com a crise dos partidos políticos, a questão da liberdade de imprensa e do real direito à informação nas práticas políticas, as estratégias e prioridades em política externa, as escolhas e os riscos em política macroeconômica, as diferenças de estilo entre os governos fhc e Lula e o futuro do País.
Paulo Moreira Leite, colunista da revista Época, diz que “a grande obra de Lula é uma herança, que, alimentada pela lembrança popular, irá projetar-se sobre o novo governo. Pode ser uma sombra, ou uma luz. Isso vai de- pender do perfil e da postura de quem vencer a batalha da sucessão. O certo é que nenhum candidato chegará ao Planalto com a popularidade do antecessor nem possui uma relação tão profunda com o eleitorado”. Em sua análise, que abre esta edição, o jornalista comenta que “os brasileiros querem mais crescimento e os benefícios que ele carrega. Como não há governos de encomenda, mas candidatos e candidatas de carne e osso, com seu passado, suas convicções e seus compromissos, a partir de 1o de janeiro o País terá quatro anos para descobrir se fez a escolha certa para atender seus anseios”.

Não é somente a sustentação do atual modelo econômico que está em jogo, mas também a resolução de uma série de chagas sociais que assolam o País desde sempre, lembra Cristiano Romero, editor executivo do Valor Econômico. “No mapa mundial da desigualdade medido pelo coeficiente Gini, o Brasil só aparece numa situação mais favorável, na América do Sul, que o Paraguai, a Bolívia e a Colômbia. Tem um percentual de população urbana com acesso a instalações sanitárias menor do que o da maio- ria dos países da América Latina. Dentro do país, a desigualdade é gritante: enquanto em Alagoas, esse percentual é de apenas 28%, em São Paulo é de 91%”.


O jornalista Rolf Kuntz, de O Estado de S.Paulo, menciona em seu artigo que “o primeiro grande interesse nacional em jogo nas eleições de 2010 é a preservação das duas conquistas mais importantes dos últimos 25 anos: a democracia política e as bases da estabilidade econômica. A modernização do Estado, lenta e ainda longe de se completar, é condição para um avanço mais seguro naquelas duas frentes”. O autor vê sinais de alerta para quem se preocupa com as instituições e teme o enfraquecimento de uma democracia representativa “já muito deficiente”. Tais sinais são “os ataques aos meios de comunicação e o desenvolvimento do neo peleguismo – formado por sindicalistas e líderes estudantis”.


O jornalista Paulo Sotero, de Washington, analisa o quadro eleitoral brasileiro do ponto de vista da política externa e dos desafios internacionais do País. “Vença quem vencer em outubro, um Brasil mais presente e mais visível no mundo empossará no próximo 1o de janeiro um ou uma presidente sem talento natural ou apetite aparente para o exercício da diplomacia presidencial. Isso não é necessariamente negativo. Depois de um período de hiperatividade e exuberância internacional, que por vezes pare- ceu refletir menos o interesse nacional do que o status de celebridade mundial de Lula – ou, como disse Rubens Ricupero, ‘a busca cons tante pelos holofotes’ –, o País parece maduro para iniciar uma reavaliação das prioridades de sua política externa. É o que sugerem os ataques públicos de José Serra e de seus con- selheiros à aproximação do País com a teocra- cia iraniana e regimes autoritários e violadores dos direitos humanos tratados como amigos por Lula e os sinais de desconforto com essa estratégia emitidos por membros influentes da assessoria próxima de Dilma Rouseff, alguns dos quais falam em ‘recomeçar (a política ex- terna) do zero’”.


Na análise da correspondente do Estadão em Washington, Denise Chrispim Marin, “o sucessor do presidente Lula contribuirá imensamente se desbastar a política exterior dos seus excessos e, especialmente, do componente ideológico que a formatou desde 2003. Mas, irá além se conseguir formular estratégias embasa- das em expressões do real interesse nacional, e não apenas nas convicções de alguns poucos e grandes do Palácio do Planalto e do Itamaraty. A sorte está lançada. Desta vez, em um ambiente bem menos favorável que o dos cinco primeiros anos do governo do presidente Lula. A economia mundial já não se mostra tão exuberante, ainda machucada pela crise financeira que a debilitou em 2008. Os Estados Unidos padecem de uma recuperação muito mais lenta que a originalmente estimada. A China sinaliza com o arrefecimento de sua produção industrial e com mobilizações sociais antes impensáveis. Os direitos humanos e a democracia se esfacelam na América do Sul, enquanto o terrorismo se impõe cada vez mais como o inimigo onipresente das nações”.


Do ponto de vista do quadro partidário brasileiro, “a perspectiva não é das mais animadoras”, afirma a colunista do Valor Econômico, Maria Inês Nassif. “Um único partido que tem uma estrutura capilar e orgânica, o PT, fortalecido pela onda de popularidade de Lula, mas que sozinho é incapaz de dar governabilidade a um terceiro mandato, se Dilma Rousseff vencer as eleições, aliado a um pmdb que astutamente tornou-se governo no segundo mandato e não compete com o petismo nas áreas de clientela liberadas pelo psdb e pelo DEM no período em que estão fora do poder, mas come pelas bordas, também abrigado sob o guarda-chuva do lulismo; uma oposição que, artificializada pela mediação e pelo poder de reverberação da mídia, parece mais forte do que efetivamente é, quando sai das urnas. E ambas, bancadas governista e oposicionista, com uma enorme incapacidade de renovação de quadros”.


O jornalista e professor da eca-usp, Eugênio Bucci, analisa a questão do direito à informação. “Entre nós, o autoritarismo se camufla no discurso de que os poderosos são vítimas indefesas da curiosidade alheia. Não deveria haver nada de espantoso, portanto, no fato de que somos uma sociedade que ainda convive com a censura judicial, essa figura tão pitoresca quanto de mau gosto. Dezenas de veículos, de pequenos blogs a grandes diários, já sofreram ou sofrem essa modalidade de violência. O pretexto das medidas censórias por via judicial tem sido, evidentemente, a preservação da intimidade pessoal ou familiar de políticos às voltas com negócios que o interesse público tem o direito de conhecer com mais detalhes. Convivemos com isso como se fosse um dado da natureza, e não uma aberração”. O artigo também aborda a questão da comunicação pública. “Tanto no âmbito do governo federal – que, nas eleições de 2010, tem sua candidata na figura de sua principal ministra, Dilma Rousseff – como no âmbito do governo estadual de São Paulo, moldado à imagem do ex-governador José Serra e de seu partido, o psdb, a gestão da comunicação pública se revela partidária, interessada e propagandística”.

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