Edição 33

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A edição 33 da Interesse Nacional marca o início do 9º ano da revista e foi planejada em janeiro. Na ocasião, o Conselho Editorial elegeu como tema central a autocrítica dos três principais partidos políticos – o PT, o PSDB e o PMDB. Passados dois meses desta decisão editorial, a temática permanece atual, sobretudo em relação ao Partido dos Trabalhadores, que governa o País desde 2003 e cujo ciclo de poder, como diz Tarso Genro, ex-governador do RS, ex-presidente do PT e ex-ministro da Justiça de Lula, está esgotado.

Escrevem nesta edição Tarso Genro e outro petista histórico, o ex-deputado Paulo Delgado, crítico respeitado pela coerência de posições desde os primeiros dias do partido, membro da primeira Comissão Executiva Nacional e secretário de Organização e de Relações Internacionais do PT.

A crise econômica, social, política, ética e moral do País se agrava. A agenda pró-impeachment se fortalece em consequência de delações premiadas na Operação Lava Jato que comprometem a presidente Dilma Rousseff. A condução coercitiva de Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 4 de março, para depor à Polícia Federal no contexto da 24a fase da Operação Lava Jato, que investiga a relação do ex-presidente com empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção da Petrobras, de- tonou um processo de radicalização do PT visando à blindagem do seu fundador. As ruas voltam a protagonizar enfrentamentos entre grupos que apoiam Lula, o PT e a presidente e grupos que querem o impeachment de Dilma e defendem que as apurações sobre corrupção nos governos do Par- tido dos Trabalhadores prossigam até as últimas consequências.

Antes, a crise brasileira produzia novas informações a cada dia. Ultimamente, há uma aceleração da vida política e o cenário se altera em horas, com notícias sobre novas delações premiadas e articulações entre dirigentes dos partidos para enfrentar a deterioração da governabilidade do País.

Tarso Genro diz que a crise do PT chama mais atenção do que a crise dos demais partidos pelo seu longo período de governo e pelos enfrentamentos que promoveu com as visões neoliberais. “Por outro lado, o partido emergiu na cena política do país como se pudesse manter – dentro da selva política tradicional – um patrimônio ético, não só “distinto” (o que seria possível), mas radicalmente “oposto” ao que sempre caracterizou nosso medíocre republicanismo. Tal “oposto” moralista e muito pouco realista, para atuar nos cenários políticos tradicionais, não prosperou e trouxe ao PT um grande prejuízo”.

Na visão de Paulo Delgado, a luta interna, o despreparo endógeno do país para enfrentar a competição internacional e a visão negativa do vaivém da disputa democrática na sociedade criaram entre os petistas certo protestantismo político.  “Viam como virtude a contestação do monopólio dos políticos tradicionais, do capitalismo como o fim do mundo e, de resto, de toda nossa história pregressa. (…) Esse imobilismo dogmático fez com que o partido ficasse aquém da grandeza teórica da sua origem, nos anos 1980, e não o permitiu participar de forma mais criativa e organizada do processo de consolidação da democracia brasileira nos anos 1990. Com a ascensão ao governo, passou a enfrentar o desafio de formular e administrar a dimensão progressista de uma utopia oposicionista.”


Uma das vozes mais conceituadas no campo oposicionista, dentro e fora do PMDB, é a do deputado Jarbas Vasconcelos, autor do artigo “Da resistência democrática ao fisiologismo”. Jarbas Vasconcelos é fundador do antigo MDB, foi prefeito, governador de Pernambuco, senador e deputado em várias legislaturas, sempre no mesmo partido. Segundo ele, “o PMDB se transformou, desgraçadamente, em uma federação de líderes sem vinculação programática. O estilo atual de fazer política do partido está sempre focado no fisiologismo e em dar estabilidade congressual a qualquer coalizão presidencial, o que tem um custo ético muito elevado. No momento em que o País passa por uma das maiores crises políticas e econômicas de sua história recente, vemos o PMDB dar mais uma demonstração de como se tornou um partido incoerente com sua história de luta e resistência. Seus líderes atuais ocupam cargos-chave no governo do PT, que está se comprovando ser um dos mais desastrosos e corruptos de nossa história. Um governo que em nome de um projeto de poder subverteu a lógica e a ética a seu favor”.


As análises críticas sobre o PSDB foram buscadas em São Paulo, núcleo central do partido, mesmo reconhecendo as dificuldades de encontrar articulistas que se dispusessem a fazer uma apreciação objetiva do atual momento partidário em nível nacional, em vista do conturbado quadro local.


José Aníbal, presidente nacional do Instituto Teotônio Vilela, centro de estudos e formação do PSDB, e senador suplente pelo PSDB-SP, faz uma breve retrospectiva histórica do principal partido de oposição do País. Menciona os feitos das duas gestões de FHC e reconhece que “faltaram às oposições os necessários canais de comunicação com a sociedade” para combater os governos do PT. Diz que seu partido se revitalizou e construiu uma alternativa ao lulopetismo, mas foi derrotado em 2014. Agora, reafirma que “o País nada mais tem a perder com o impedimento de Dilma” e que “o PSDB está preparado para servir ao País, participando da organização de um inovador, transparente e comprometido arranjo político com a sociedade”.


Na entrevista concedida à Folha de S.Paulo, o ex-deputado federal e um dos fundadores do PSDB, Arnaldo Madeira, mostra, de forma sintética e direta, os diversos aspectos dos dilemas de um partido.


Na entrevista, afloram, em larga medida, a partir do microcosmo da capital paulista, os problemas que afligem a legenda em um nível mais amplo. As divisões do partido e as contradições que emergem entre os diversos segmentos partidários, em virtude das desconfianças quanto aos objetivos finais de cada um dos atores, põem a nu as dificuldades por que passa o principal partido da oposição. O sistema de prévias para escolher o candidato do partido em eleições majoritárias não tem tradição no Brasil.


Ao contrário dos EUA, onde, depois de uma desgastante disputa, o escolhido pelo partido recebe o apoio de todos, em terras tupiniquins, as fricções da campanha nas prévias deixam sempre sequelas. No momento atual, parece difícil haver uma conciliação de interesses de todos os grupos, mesmo sabendo que isso enfraqueceria o vencedor das prévias.

O cientista político Alberto Almeida, diretor do Instituto Análise, é autor do sexto e último artigo da edição: “Dilma, o dedazo de Lula e a reforma política”. Para ele, é necessária uma reforma que obrigue os partidos a terem uma verdadeira vida interna e impeçam ou dificultem o dedazo (quando o presidente indica o candidato do partido à eleição presidencial, como ocorreu quando Lula indicou Dilma na eleição de 2010). Com isso, evitariam “que fossemos governados por pessoas que não tivessem passado por um verdadeiro teste de liderança”.

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