Por Rubens Barbosa
O cenário político e econômico global dos últimos anos, em linhas gerais, deverá manter-se em 2018. A instabilidade política e as incertezas na economia deverão continuar a ser algumas das referências mais significativas dos formuladores de decisão em todos os países.
O Grande Oriente Médio permanecerá como um dos principais focos de atenção pelo acirramento das tensões entre Israel e a Palestina em virtude da decisão do governo de Washington de considerar Jerusalém como capital de Israel e pelo fim dos conflitos na Síria e no Iraque e o início da reconstrução desses países. A situação interna na Arábia Saudita, a rivalidade com o Irã e a guerra com o Yemen, além da contestação política contra o governo de Teerã são elementos adicionais que, a qualquer momento, podem perturbar nas relações internacionais.
O programa balístico e nuclear da Coreia do Norte, contestado abertamente pela comunidade internacional liderada pelos EUA, é o único exemplo em que a eventual perda de controle da situação poderia gerar uma ameaça de guerra nuclear pela imprevisibilidade das reações de Trump e Kim Jong Un.
O comportamento errático de Trump em relação à Rússia de Vladimir Putin e à China de Xi Jing Ping, ambos com projetos de ocupação de maiores espaços globais, acrescenta incertezas geopolíticas, sobretudo à luz da nova doutrina americana de segurança nacional que considera esses países como inimigos. A economia dos EUA deve crescer em virtude das medidas econômicas da administração republicana, enquanto não ficar claro se o equilíbrio macroeconômico será prejudicado pela redução dos impostos e pelo prometido aumento nos gastos públicos com programas de infraestrutura.
As negociações sobre a saída do Reino Unido da União Europeia e as turbulências na Espanha pelo movimento de independência na Catalunha e os primeiros sinais de contestação de Angela Merkel não deverão afetar a posição de realce da Alemanha, nem a lenta recuperação econômica no continente Europeu.
A América Latina, que terá um ano político agitado com eleições no Brasil, México, Colômbia, Venezuela e Bolívia, poderá beneficiar-se do crescimento econômico e comercial global. A Venezuela, apesar de dispor de uma das maiores reservas de petróleo do mundo, seguirá em crise profunda com risco de suspender os pagamentos de suas dividas, em especial as da PDVESA, evitado até aqui pelo substancial apoio financeiro recebido da China e da Rússia. As próximas eleições acentuarão o predomínio de um partido único e o reforço do poder militar, transformando a Venezuela em um regime ditatorial modelo cubano. Dependendo dos resultados das eleições no México e no Brasil, a América Latina poderá contribuir poderosamente para as incertezas e instabilidade do cenário global. No México, caso fracassem as negociações com os EUA e termine o acordo do NAFTA, as chances de sucesso do candidato de esquerda Luis Lopes Obrador aumentarão, o que introduziria um elemento novo nas relações com Washington.
O fundamentalismo religioso, o terrorismo e o crescente nacionalismo com maior intervenção do Estado ao redor do mundo continuarão a ser focos de instabilidade. A crise das instituições multilaterais, perdendo e representatividade em virtude da emergência de novos polos de poder econômico e político não esmorecerá. Banco Mundial e Fundo Monetário começam a sofrer a competição de novas organizações como o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura e o Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS. A Organização Mundial de Comércio, contestada diretamente pelo governo norte-americano, deverá sofrer mudanças profundas durante 2018, correndo o risco de perder o último de seus pilares, o órgão de apelação que dirime controvérsias comerciais entre os países membros.
Nas negociações comerciais, consequências importantes poderão surgir diante do questionamento pelos EUA dos acordos com o México e com o Canadá no âmbito do NAFTA, assim como a entrada em vigor da Parceria Trans-Pacífica, sem os EUA, e dos mega acordos da União Europeia (UE) com o Japão e Canadá. Os entendimentos do MERCOSUL com a UE poderão ser concluídos durante o ano, mas o acordo só deverá ser assinado depois de 2019.
Em termos da nova geopolítica global, continuarão a ter relevância os processos de globalização, de fortalecimento regional e dos progressos na inovação e tecnologia. Nas três áreas, a China continuará a expandir-se e ocupar espaços preenchidos até aqui pelos países desenvolvidos ocidentais.
Em 2018, será mantida a crescente importância dos temas globais (antigos e novos), como recursos naturais, meio ambiente, mudança de clima, democracia, envelhecimento populacional e a guerra cibernética. A inovação na ciência e tecnologia (digital, robótica, biotecnologia, internet das coisas, inteligência artificial) ampliará seu papel estratégico no mundo corporativo e governamental pelas rápidas e profundas transformações que acarretará.
O Brasil – que se isolou nos últimos 15 anos dos fluxos dinâmicos da economia internacional – continuará reativo ao que ocorre no mundo, inclusive pelo desaparecimento das fronteiras entre a agenda externa e a política interna macroeconômica, industrial e de comércio exterior, com crescente impacto na formulação dessas políticas. A recuperação gradual da economia poderá beneficiar-se do crescimento mundial de mais de 3,5%.
As eleições presidenciais em 2018 representarão um divisor de águas para as próximas gerações. Se o novo presidente decidir executar uma agenda de reformas modernizantes, o pais voltará a ter voz no cenário internacional e a inserir-se de forma competitiva na economia e no comércio internacional. Caso contrário, a crise fiscal adquirirá as características da Grécia. Triste destino para o Brasil.