[stock-market-ticker symbols="AAPL;MSFT;GOOG;HPQ;^SPX;^DJI;LSE:BAG" stockExchange="NYSENasdaq" width="100%" palette="financial-light"]

irice

O JAPÃO E A CRISE COM A COREIA DO NORTE

Por Rubens Barbosa

Quando se compara o entorno geográfico do Brasil na América do Sul com a vizinhança do Japão no Leste da Ásia, pode-se entender, em grande parte, porque a área externa não está presente no debate politico e econômico em nosso país. Ao contrário do Brasil, o Japão está cercado por países não democráticos e crescentemente hostis. China e Rússia são potências nucleares, que também dispõem de forte poderio militar convencional.

A Coreia do Norte com o desenvolvimento de armas nucleares e a crescente capacidade de lançamento de misseis balísticos coloca em risco a paz e a estabilidade na região. Com a recente ameaça de “afundar“ o Japão com ataque devastador e com os seguidos misseis cruzando o céu japonês, a tensão em Tóquio tem aumentado significativamente. Se a isso for acrescentado a secular relação de desconfiança desses países em relação ao Japão por razões históricas e as incertezas  em relação à garantia de apoio dos EUA, surgidas com a eleição do presidente Trump, descortina-se um quadro realista das razões da crescente perplexidade do governo e do povo japonês.

Os países diretamente envolvidos tem visão diferente em relação a Coreia do Norte. A China e a Rússia favorecem o diálogo e aceitam com relutância a escalada das sanções impostas pelo Conselho de Segurança da ONU, desde 2006, por pressão sobretudo dos EUA, inclusive as últimas com restrições financeiras e limitação de fornecimento de petróleo. Washington ameaça países que continuam a manter laços comerciais com a Coreia do Norte, como a China.

A vulnerabilidade japonesa fica ainda mais exposta quando se sabe das limitações do sistema de defesa contra o tipo de armamento sendo desenvolvido pela Coreia do Norte e pela ameaça de ataque eletromagnético com a detonação de uma bomba nuclear no espaço. O Japão poderia sofrer a destruição do sistema de geração e fornecimento de energia elétrica, de comunicação, de transporte e bancário, de hospitais e mesmo das usinas nucleares.

O Japão está dividido entre várias alternativas: aumentar a pressão sobre a Coreia do Norte por meio de sanções aprovadas na ONU, estabelecer diálogo direto com as lideranças norte-coreanas para deixar a porta aberta e estimular o intercâmbio entre os dois países ou aumentar sua capacidade defensiva e voltar a armar-se, inclusive nuclearmente, para sua própria defesa, o que é proibido pela Constituição de 1947. Há correntes mais radicais, mesmo dentro do governo de Tóquio, que defendem um ataque preventivo contra o regime de Kim Jung Un de modo a que não se repita a inação de 1954, quando da guerra entre as duas Coreias.

Em julho passado, o primeiro ministro Shinzo Abe cogitou visitar a Coreia do Norte para conversas diretas com o líder norte-coreano visando a restabelecer o mecanismo de conversação suspensas desde 2009, envolvendo seis países (EUA, Japão, Rússia, China e as duas Coreias) para encontrar uma fórmula de sustar o desenvolvimento do programa nuclear. Segundo se comentou, a ideia não prosperou devido à oposição dos EUA. Mais recentemente, Abe se encontrou com o presidente Putin em Moscou, não para discutir a questão das ilhas ocupadas pela Rússia, e depois com Xi Jinping, não para tratar da construção de bases chinesas no mar do Sul da China, mas para obter o apoio de ambos de modo a aumentar a pressão sobre a Coreia do Norte. Desde a eleição de Trump, Abe tem procurado ampliar o relacionamento com os EUA.

Embora Trump tenha declarado, já depois de eleito, que não iria manter a proteção militar ao Japão, o Secretario da Defesa retificou essa afirmativa. Foi mantida a politica dos EUA de dar proteção ao Japão e à Coreia do Sul e evitar que mais um pais frustre os objetivos do Tratado de não proliferação nuclear e o regime de controle de misseis. A noticia de que há um canal direto de comunicação entre EUA e Coreia do Norte suaviza a recente escalada de declarações belicosas entre Trump e Kim e deixa aberta a possibilidade de eventual entendimento – apesar do ceticismo e da ameaça críptica do presidente americano de que  “só uma coisa vai funcionar com a Coreia”.

Tudo indica que a Coreia do Norte apenas aceitará negociar diretamente com os EUA, quando completar seu programa de testes balísticos e nucleares. Em uma posição de força, buscará fórmula negociada que permitiria a continuidade do regime comunista no pais. Mas, nunca se deve encurralar um rato, diz um ditado norte-coreano.

Nessa altura, seria realista a desnuclearização da península coreana? Seria possível forçar a Coreia do Norte a aceitar um programa de controle de armas nucleares e de misseis? Seria preferível conversar diretamente com Kim Jung Un ou partir para ações visando a mudança de regime ou a morte do líder norte-coreano? Como evitar que a Coreia do Norte possa lançar um ataque contra o Japão e a Coreia do Sul por erro de cálculo? Qual a melhor combinação de pressão e de engajamento nas conversações? Seria viável ou aceitável uma Coreia unificada? Como fortalecer a cooperação entre o Japão, a Coreia do Sul e os EUA para a dissuasão e a defesa? Como engajar seriamente a China, a Rússia e outros parceiros relutantes no processo negociador? Quais os efeitos de uma intervenção militar da China? Seria possível examinar uma solução como a encontrada para o programa nuclear do Irã?

Levando em conta esse quadro e os diferentes interesses envolvidos entre os países da região diretamente envolvidos, parece difícil uma solução militar. Os riscos seriam imensos e o custo de vidas terrível. Em vista de personagens tão imprevisíveis como Trump e Kim Jung Un, e de agendas de afirmação global como as da China e especialmente as da Rússia, nenhuma hipótese pode ser descartada.

Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE).

Conheça a revista Interesse Nacional 

 

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

newsletter

Receba as últimas atualizações

Inscreva-se em nossa newsletter

Sem spam, notificações apenas sobre novas atualizações.

Estamos nas Redes

Populares

Centro de Lançamento de Alcântara

Depois de mais de vinte anos do início da negociação, o Brasil, em 2019, assinou com os EUA, o acordo de salvaguarda tecnológica, aprovado em

O gradual esvaziamento do Itamaraty

A política externa, nos últimos 200 anos do Brasil independente, sempre teve um papel muito relevante na defesa do desenvolvimento econômico, dos interesses concretos do

Veja mais

Confira as demais postagens do IRICE