[stock-market-ticker symbols="AAPL;MSFT;GOOG;HPQ;^SPX;^DJI;LSE:BAG" stockExchange="NYSENasdaq" width="100%" palette="financial-light"]

irice

TURBULÊNCIA NO REINO SAUDITA

Por Renato Whitaker

Para um observador externo, tempos interessantes pairam sobre o Reino da Arábia Saudita. A súbita ascensão de um novo herdeiro aparente em junho, o Ministro de Defesa Mohammad bin Salman, trouxe declarações surpreendentes desde então em prol da modernização da sociedade saudita. Além de anunciar um plano, até 2030, que visa à diversificação da economia para além do setor petrolífero, o futuro rei também fez comentário em outubro em prol da tolerância religiosa e o retorno nacional a um Islã moderado, algo inesperado devido ao apoio crucial que membros da vertente islamista ultraconservadora, wahabismo, historicamente prestaram à dinastia Saud. Tais declarações seguiram uma decisão real do seu pai, Rei Salman bin Abdulaziz Al Saud, de reverter o banimento de mulheres em poder dirigir e atender para o ano de 2018.

Essas manchetes marcantes, porém, ofuscaram drama nos bastidores do reino. Por décadas, o governo do país era exercido pela dinastia Saud, no qual o rei negociava o consenso político como um “primeiro entre iguais” com os membros de sua família. Cada ramo dessa família real, com seus numerosos príncipes e inter-relacionamentos sanguíneos, era encarregado do seu próprio setor da administração pública, muitas vezes o tratando como um tipo de feudo de patrocínio, influência e enriquecimento. Com a morte do Rei Abdul bin Abdulaziz em 2015, o Rei Salman bin Abdulaziz manobrou, cada vez mais, em prol da concentração da posse desses “mini-reinos” no seu ramo da família. Em junho, o afastamento do então herdeiro Muhammed bin Nayef, em prol do seu primo Mohhamad bin Salman, era mais uma etapa nessa consolidação.

O trâmite político eclodiu nesse último final de semana. Uma comissão de anticorrupção, chefiada pelo Príncipe Salman, executou a apreensão de 11 altos príncipes sauditas de sua própria família e dezenas de outros altos oficiais públicos por crimes financeiros diversos. Incluso nessa lista de apreendidos é um dos maiores empresários do país, Príncipe Alaweed bin Talal, o Ministro da Economia e Planejamento, Adel Fakeih, e o chefe da Guarda Nacional, Príncipe Miteb bin Abdullah, o quem mais parecia rivalizar Mohammad para o futuro trono. Com a demissão e apreensão desse último, e a nomeação de um aliado próximo do Príncipe Salman em seu lugar, os três ministérios ligados à segurança – as de Defesa, Interior e a Guarda Nacional – estão nas mãos do Príncipe Salman e seus aliados.

Os eventos de sábado são vistos como um expurgo pela imprensa global e analistas internacionais, um que exerce imensa pressão pelo acuamento do clero, servidores públicos e a intelligentsia. A repressão, contudo, está aclamada na mídia oficial saudita, e bem recebida pela população mais jovem do país – uma demografia, afligida pelo desemprego, que Príncipe Salman tem cortejado. Quiçá uma liberalização econômica e social, mas uma quadra política turbulenta, ainda imponente e cada vez mais afastada do modelo de consenso entre os lordes sauditas e mais concentrado nas mãos dos Salmans. O New York Times titulou, com ironia, uma manchete de sua reportagem “A Guerra Dos Tronos Chega à Arábia Saudita”.

Essa nova realidade política na Península ainda está sendo concretizada, mas já recebeu a aceitação discreta de Washington. A política externa, enquanto isso, não dá sinais de esfriamento; Iêmen, onde o Príncipe Salman coordenava a campanha anti-Houthi nos últimos anos, foi interditada no mesmo final de semana depois de ter lançados um míssil de médio alcance a Riad. Adicionalmente, o primeiro-ministro libanês, Saad Hariri, renunciou enquanto estava visitando Arábia Saudita no mesmo dia do expurgo.

É primariamente por causa disso que dirigentes e empresários brasileiros precisam estar cientes dos acontecimentos no Reino. Além de ser um mercado importante na pauta de exportações brasileiras (e uma fonte importante de importação de petróleo bruto), o país é a peça chave para a política regional do Oriente Médio, e, devido à sua centralidade na história islâmica, no mundo muçulmano em geral – mundo e países com os quais Brasil mantém vários elos diplomáticos. Os eventos desse final de semana já ecoaram no Líbano, terra natal de muitos imigrantes brasileiros; há de ser visto como evoluirá o quadro com Síria, Israel, Irã e outros países de interesse nacional.

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

newsletter

Receba as últimas atualizações

Inscreva-se em nossa newsletter

Sem spam, notificações apenas sobre novas atualizações.

Estamos nas Redes

Populares

Centro de Lançamento de Alcântara

Depois de mais de vinte anos do início da negociação, o Brasil, em 2019, assinou com os EUA, o acordo de salvaguarda tecnológica, aprovado em

O gradual esvaziamento do Itamaraty

A política externa, nos últimos 200 anos do Brasil independente, sempre teve um papel muito relevante na defesa do desenvolvimento econômico, dos interesses concretos do

Veja mais

Confira as demais postagens do IRICE