Notice: Function _load_textdomain_just_in_time was called incorrectly. Translation loading for the wordpress-seo domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home/storage/c/6b/bd/interessenaciona1/public_html/wp-includes/functions.php on line 6114
Interesse Nacional
20 julho 2023

Maiara Folly: Política externa ativa, altiva e sustentável – O caminho até a COP30 em Belém pode consolidar o Brasil enquanto potência ambiental e climática

Governo Lula está atuando para recuperar a credibilidade do Brasil após anos de debilidade sob Bolsonaro. Para diretora da Plataforma CIPÓ, políticas domésticas eficazes e uma diplomacia consistente podem fazer o país se tornar um protagonista global na proteção do meio ambiente

Governo Lula está atuando para recuperar a credibilidade do Brasil após anos de debilidade sob Bolsonaro. Para diretora da Plataforma CIPÓ, políticas domésticas eficazes e uma diplomacia consistente podem fazer o país se tornar um protagonista global na proteção do meio ambiente

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa durante sessão de encerramento da Reunião Técnico-Científica da Amazônia (Foto: Cláudio Kbene/PR)

Por Maiara Folly*

O Grupo dos Estados da América Latina e do Caribe  endossou a candidatura do Brasil para sediar  a 30ª edição da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima,  evento anual que reúne as principais lideranças  de quase todos os países do mundo para negociar compromissos e estratégias para enfrentar os desafios impostos pela crise climática. Embora a medida ainda precise ser chancelada pela ONU, o apoio dos países da região e a escolha do governo federal de sediar o evento na cidade amazônica de Belém do Pará já vêm ajudando a retomada do protagonismo internacional brasileiro nas agendas de clima e meio ambiente. 

‘Uma política externa ativa e criativa será fundamental para recuperar a credibilidade e o capital político e diplomático severamente enfraquecido durante o governo de Jair Bolsonaro’

Uma política externa ativa e criativa será fundamental para recuperar a credibilidade e o capital político e diplomático que o Brasil acumulou durante décadas, mas que foi severamente enfraquecido em função do avanço dos crimes ambientais e do desmantelamento dos órgãos e legislações ambientais brasileiros durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Essa não será uma tarefa fácil diante de uma série de desafios domésticos, como restrições fiscais e orçamentárias, bem como a postura hostil do Congresso Nacional em relação à causa ambiental, que ficou evidente com a aprovação de medidas que esvaziaram o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e o Ministério dos Povos Indígenas. 

https://interessenacional.com.br/edicoes-posts/daniel-buarque-com-plano-amazonia-lula-renova-aposta-na-diplomacia-ambiental-e-tenta-criar-uma-marca-para-seu-terceiro-mandato/

O contexto global também é complexo. Disputas geopolíticas entre grandes potências se acirram, ao passo que a guerra da Ucrânia, que em fevereiro completou um ano, segue sem indícios de que chegará ao fim. Soma-se a isso, um aumento da inflação e do custo de vida em diversas partes do mundo, tornando pouco animadoras as expectativas de crescimento econômico global no pós pandemia de Covid-19. O resultado tem sido um aumento das desigualdades dentro e entre países, o que pode impor obstáculos consideráveis à ambição brasileira de fortalecer a luta global contra as mudanças climáticas.

‘Apesar dos desafios domésticos e internacionais, o novo governo já tem dado sinais de que se empenhará para reposicionar o Brasil no mundo’

Apesar dos desafios domésticos e internacionais, o novo governo já tem dado sinais de que se empenhará para reposicionar o Brasil no mundo. Desde que assumiu a Presidência pela terceira vez, Lula já se reuniu com dezenas de chefes de Estado e visitou 12 países, passando por nações vizinhas, países desenvolvidos, como a França, o Reino Unido e o Japão, e também pelas duas maiores potências globais: os Estados Unidos e a China.

Em Pequim foi lançada uma declaração bilateral que busca fortalecer e dar institucionalidade aos arranjos de cooperação Brasil-China no combate à mudança do clima. Já a visita a Washington abriu caminho para o anúncio da intenção dos EUA de alocar US$500 milhões para o Fundo Amazônia nos próximos cinco anos. Durante visita a Brasília, a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, afirmou que o bloco também pretende repassar recursos ao fundo.

https://interessenacional.com.br/edicoes-posts/a-diplomacia-ambiental-contra-o-isolamento-do-brasil-no-mundo/

Em discurso durante a Cúpula do G7, em Hiroshima, Lula relembrou que em 1992, no Rio de Janeiro, o Brasil sediou a conferência que deu origem a três relevantes convenções da ONU legalmente vinculantes: sobre clima, biodiversidade e desertificação. Em seguida, pediu que esses compromissos sejam honrados e que os países desenvolvidos cumpram a promessa de alocarem os já muito insuficientes US$ 100 bilhões ao ano à ação climática.

‘Lula enfatizou que, sem maiores investimentos dos países ricos e na ausência de uma reforma profunda do sistema financeiro internacional, não será possível combater a pobreza e as desigualdades sociais, econômicas, raciais e de gênero ao redor do mundo’

Em Paris, durante cúpula dedicada a discutir um pacto para ampliar o financiamento climático global, Lula enfatizou que, sem maiores investimentos dos países ricos e na ausência de uma reforma profunda do sistema financeiro internacional, não será possível combater a pobreza e as desigualdades sociais, econômicas, raciais e de gênero ao redor do mundo  – condições centrais para a promoção de uma transição ecológica verdadeiramente justa.

Tanto em Hiroshima quanto em Paris, Lula deu ênfase ao fato de que o Brasil possui uma matriz energética entre as mais limpas do mundo. “87% da matriz energética brasileira é limpa e renovável, contra 27% da média mundial; e 50% da energia consumida no Brasil é renovável, contra 15% no mundo”, declarou o Presidente brasileiro sob aplausos dos parisienses.

https://interessenacional.com.br/edicoes-posts/diplomacia-ambiental-no-interesse-nacional/

Contudo, nem todas as ações da política externa brasileira têm dado motivo para aplausos. É preocupante a notícia de que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estaria disposto a financiar um gasoduto na Argentina que transportaria gás produzido com  fraturamento hidráulico (fracking) – técnica de exploração não convencional proibida em vários países pelo seus graves impactos ambientais e riscos à saúde humana. No caso argentino, o projeto também sofre resistência pelos riscos que impõem ao povo indígena Mapuche, que teme ter seus modos de vida descaracterizados e demanda respeito ao direito à consulta livre, prévia e informada previsto na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

‘Embora discursos diplomáticos comprometidos com a proteção do planeta sejam importantes, é fundamental que todas as medidas também estejam alinhadas com compromissos’

Para se consolidar como um ator responsável perante o mundo, decisões  como essas precisam ser revistas. Embora discursos diplomáticos comprometidos com a proteção do planeta sejam importantes, é fundamental que todas as medidas de cooperação internacional do país, inclusive do ponto de vista bilateral, também estejam alinhadas com compromissos que incluem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o Acordo de Paris e o Marco Global Kunming-Montreal da Biodiversidade.

No plano doméstico, alguns avanços já vêm sido observados, como a queda nos índices de desmatamento na Amazônia, o combate firme ao garimpo ilegal em terras indígenas e a decisão do órgão ambiental brasileiro de exigir estudos técnicos mais robustos antes de conceder licença para a extração de petróleo na região ambientalmente sensível da Bacia da foz do rio Amazonas. 

https://interessenacional.com.br/edicoes-posts/robert-toovey-walker-promessas-promessas-promessas/

Se conquistas internas como essa forem mantidas e ampliadas, e se vierem acompanhadas de uma estratégia de política externa que tenha a sustentabilidade no centro de sua atuação multilateral e bilateral, o Brasil não apenas se consolidará como ator central em questões climáticas e ambientais, como também estará melhor credenciado para assumir  protagonismo em outras áreas prioritárias para sua inserção internacional.

E não faltarão oportunidades para alcançar esse objetivo. Em agosto o Brasil sediará  a Cúpula da Amazônia, que reunirá os chefes de Estado dos países membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) para discutir estratégias para promover o desenvolvimento sustentável e a preservação da maior floresta tropical do mundo. Além disso, o Brasil assumirá, em dezembro de 2023, a presidência do G20, fórum internacional composto pelos países que acumulam 80% do PIB global e 60% da população mundial. Em 2025, a COP 30 será um momento definidor das capacidades dos países de manterem vivo o espírito da Rio-92 e efetivamente cumprirem o Acordo de Paris, que estará completando dez anos da sua assinatura.

Com políticas domésticas eficazes e uma diplomacia ativa, altiva e consistente na busca pelo desenvolvimento sustentável em suas três vertentes: econômico, social e ambiental, o Brasil poderá alcançar a condição de potência climática e ambiental quando o mundo aterrissar em Belém para a COP 30.


*Maiara Folly é colunista da Interesse Nacional, diretora executiva da Plataforma CIPÓ, um instituto de pesquisa dedicado a temas de clima, governança e relações internacionais. Folly lidera projetos de pesquisa e iniciativas de advocacy nas áreas de clima, crimes ambientais, paz e segurança, governança global e política externa. Obteve o mestrado pelo Departamento de Desenvolvimento Internacional da Universidade de Oxford e formou-se em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro.

https://interessenacional.com.br/edicoes-posts/maiara-folly-e-joao-cumaru-um-novo-tempo-nas-relacoes-brasil-china/

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

Maiara Folly é diretora executiva da Plataforma CIPÓ, um instituto de pesquisa dedicado a temas de clima, governança e relações internacionais. Lidera projetos de pesquisa e iniciativas de advocacy nas áreas de clima, crimes ambientais, paz e segurança, governança global e política externa. Obteve o mestrado pelo Departamento de Desenvolvimento Internacional da Universidade de Oxford e formou-se em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro.

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

Cadastre-se para receber nossa Newsletter