01 julho 2011

Atratividade do Brasil como Polo Internacional de Investimentos e Negócios

O Brasil passa por um momento ímpar. O forte e contínuo crescimento econômico, a relativa resistência aos efeitos da crise econômica mundial, a ocupação dos primeiros postos globais em produção e exportação de matérias-primas, o aumento da qualidade de vida da população e, consequentemente, a evolução do mercado interno, são indicadores positivos que ilustram o atual momento da Nação.
Como consequência deste progresso, os olhos do mundo se voltam para o País. Seu crescimento econômico e sua resiliência à crise têm sido destaques nos principais foros e periódicos de economia do planeta. Também tem se destacado o cenário político, com a eleição da primeira presidente mulher. Adicionalmente, o mundo esportivo também reconhece o momento brasileiro, ao eleger o País para hospedar a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos nos próximos cinco anos.

Por despontar no cenário mundial, o Brasil tem também obtido, consequentemente, posição relevante na América Latina. Com 40% de todo o território e 35% da população, o País responde por cerca de 40% do PIB regional e se sobressai também na participação dos fluxos comerciais, de capitais e de negócios, sendo já reconhecido como um dos polos mais relevantes da região.
O País necessita tirar proveito deste momento positivo, consolidando sua posição ao reconhecer e divulgar suas fortalezas, identificar e resolver suas deficiências e promover uma maior integração econômica na região e no mundo.
Sendo bem-sucedido nessa tarefa, a consolidação brasileira como um polo gerará benefícios diretos significativos para a economia e para a população. A maior conectividade com os vizinhos também beneficiará os demais países: um polo forte, que concentra recursos e atenção do restante do mundo, acaba por irradiar sua pujança aos parceiros regionais por meio dos próprios fluxos comerciais, de capitais e de negócios. As consequências desse processo, portanto, causarão impactos positivos a serem notados em toda a região.
Como visto, a ascensão brasileira como potência econômica global é hoje inegável, tendo o Brasil superado a fase de ser apenas a promessa de “país do futuro”. Entretanto, para a plena concretização desta promessa é necessário garantir o reconhecimento internacional da transformação do Brasil em um país de serviços e em um polo de investimentos e negócios.
A Brain (Brasil Investimentos & Negócios) é o resultado final de um processo de diagnóstico e discussão junto a diversos representantes do setor público e privado que durou quase dezoito meses, dos quais nove apenas na fase de diagnóstico. É uma entidade criada para articular e catalisar a implementação da visão do Brasil como um polo de investimentos e negócios da região, e é também uma associação privada, mas com direto envolvimento do setor público.
As principais regiões do mundo estão estruturadas em redes de negócios. Essas redes são formadas por quatro tipos de polos de acordo com seu escopo de atuação: polos globais, regionais, locais e especializados. América do Norte, Europa e Ásia concentram a maior parte da atividade econômica global e já se estruturam em redes de negócios articuladas com diversos tipos de polo. Porém, hoje essa configuração está sofrendo mudanças. As regiões mais desenvolvidas estão passando por profundas crises e transformações que criam um novo entorno de desafios e oportunidades para a América Latina e para o Brasil.
Identificou-se que vários outros polos de sucesso estruturaram entidades dedicadas a promover sua posição e competitividade no cenário internacional, ajudando a preencher a lacuna de coordenação entre o governo e os diversos representantes da sociedade civil e realizando ações para elevar ou firmar o seu status.
E quanto ao Brasil? Surgiu daí a ideia de criar a Brain. Esta busca apoiar as instituições que já estão construindo o futuro do Brasil, mapeando as oportunidades, coordenando a elaboração de estudos e propostas, articulando os movimentos conjuntos e promovendo o diálogo entre os setores público e privado. Temos, através dos mecanismos de governança, a participação abrangente e efetiva de instituições públicas e privadas, representativas de diversos setores da sociedade, e contamos com o patrocínio de várias entidades privadas do País.
A América Latina tem a oportunidade de transformar e aperfeiçoar a ainda incipiente arquitetura de sua rede. Os polos de negócios locais estão vinculados principalmente aos grandes polos globais (Nova York e Londres), e não uns aos outros. Este é o momento para a América Latina alavancar seu grande potencial e suas importantes vantagens estratégicas e criar uma rede mais conectada dentro da região, minimizando intermediários ao acesso a capitais e gerando novas oportunidades de negócios, renda e empregos através de vínculos diretos fortalecidos com outras redes regionais – por exemplo, Ásia e Oriente Médio. Vários países já começaram a se movimentar nesta direção, mas ainda falta percorrer um caminho significativo que requer esforços consistentes por parte da América Latina e do Brasil. O momento é agora.

O conceito da atratividade

O fator-chave que determina se um país tem potencial para ser um polo regional e internacional é sua atratividade, sob a ótica regional e internacional dos agentes que com ele interagem – investidores, empresas ou intermediários, regionais ou internacionais.
A atratividade de um país pode se referir à capacidade de atração exercida por seu modelo social, cultural ou por suas características geográficas; por seu dinamismo econômico, diversificação ou estabilidade; ou até por elementos mais específicos, como a presença de um grupo de empresas privadas competentes, um nível mais elevado de inovação e, não menos importante, um regime tributário amigável e convidativo ao capital.
Para elaborar o relatório da Brain, a definição utilizada foi restrita à atratividade como um polo de investimentos e negócios e abrangente quanto aos tipos de agentes envolvidos nas relações com o polo. Com este escopo, para melhor entendimento, o conceito de atratividade foi decomposto em duas principais vertentes: a) as características intrínsecas do país, que o definem como atrativo por si só; e b) a conectividade do país, ou seja, seus fluxos, que definem a atratividade da rede a qual pertence.
Fazem parte das características intrínsecas: uma economia forte, suas infraestruturas física, financeira, jurídica e regulatória e uma população capacitada. Por outro lado, o que define a força da conectividade de um país são a qualidade e a quantidade das conexões intrarregionais e, ao mesmo tempo, a qualidade e a quantidade de suas conexões com outros polos relevantes do mundo. Juntas, estas vertentes compõem a atratividade do país como polo e permitem que a nação possa competir pela atração de recursos, para si e para sua região de influência, diante de outros polos mundiais (veja Diagrama 1).
Este artigo utiliza dados apresentados na segunda publicação da Brain, a qual continua
o mapeamento iniciado no relatório lançado em dezembro de 2010, “O Brasil como um dos Polos na Nova Rede de Negócios da América Latina”. Foi realizado um trabalho de extensa pesquisa e análise de dados, assim como entrevistas e workshops com especialistas e formadores de opinião dos setores público e privado, objetivando a definição e mensuração da atratividade brasileira como polo de investimentos e negócios. Este trabalho contou com a participação e validação de empresas, entidades de classe, economistas e técnicos de renome, assim como autarquias e representantes das esferas de governo federal, estaduais e municipais.
O resultado do trabalho acima descrito é o documento que detalha a atratividade do Brasil como um polo de investimentos e negócios na América Latina, define indicadores para o acompanhamento dinâmico da posição do país e identifica possíveis próximos passos e iniciativas para fomentar este posicionamento.
A pretensão da Brain é lançar uma nova luz sobre o tema da atratividade de um polo de investimentos e negócios, identificando iniciativas que tornem o País ainda mais atrativo para empresários, investidores e todos os públicos envolvidos em transações de investimentos e negócios.


Determinantes da atratividade de um pólo

A Brain detectou, inicialmente, alguns traços comuns existentes em todos os grandes polos de negócios de referência, assim como algumas características diferenciais que reforçam o papel de cada centro como um polo internacional.
A partir dessa base, o segundo relatório da Brain complementou tal lista preliminar e identificou os pilares indispensáveis para definir a atratividade de um polo. O resultado dessa identificação e do posterior agrupamento levou ao desenvolvimento de uma visão dos sete pilares que constituem a lista dos pré-requisitos fundamentais para a formação e a excelência de um polo de investimentos e negócios (veja Diagrama 2): ambiente macroeconômico, ambiente institucional, talentos e capital humano, infraestrutura física, infraestrutura financeira, conectividade e imagem do país.
Cada um dos sete pilares de atratividade brasileira passa a ser analisado a seguir, com o objetivo de apontar a base de desenvolvimento de onde parte o Brasil e as áreas onde o país deve investir para se consolidar como polo de investimentos e negócios atrativo.

• AMBIENTE MACROECONÔMICO: Um crescimento econômico contínuo e regular e uma baixa incerteza sobre os níveis de taxa de juros ou sobre a taxa de câmbio são exemplos das condições que alicerçam o desenvolvimento de investimentos e negócios em um país.

• AMBIENTE INSTITUCIONAL: A capacitação de um país como polo, principalmente em relação a outros centros, também reside em um estado de direito sólido, na possibilidade dada aos agentes econômicos de cumprirem rapidamente suas obrigações, e na transparência e eficiência dos processos administrativos.

• TALENTOS E CAPITAL HUMANO: Um conjunto de talentos suficiente tanto em termos quantitativos quanto qualitativos, um forte alinhamento entre as capacidades acadêmicas e as necessidades do mercado de trabalho, e a possibilidade de atrair especialistas de fora do país são alguns dos requisitos a serem cumpridos por um postulante a polo internacional.

• INFRAESTRUTURA FÍSICA: Opções de transporte multimodais que permitam a entrada e a saída do polo, bem como a movimentação interna, e o acesso a uma rede de telecomunicações competitiva em desempenho e em custos são elementos evidentes entre os fatores de sucesso de um polo.

• INFRAESTRUTURA FINANCEIRA: A presença de intermediários financeiros capacitados, o acesso contínuo a diversas fontes de financiamento e a existência de instrumentos para a mitigação de riscos ajudam diretamente o desenvolvimento de um polo de investimentos e de negócios.

• CONECTIVIDADE: Um intenso fluxo de comércio de bens e serviços, de movimentação de capitais e de pessoas constitui um elemento vital para nutrir continuamente um polo de investimentos e negócios.

• IMAGEM DO PAÍS: A percepção positiva externa sobre as condições gerais de um país representa um ativo importante para a consolidação de um polo, em particular para atrair talentos e empresas.

Além do entendimento abrangente e detalhado da situação do Brasil em cada um destes sete pilares por meio de análises, o trabalho realizado também criou um painel de indicadores para permitir a fácil comparação da situação brasileira com a de outros polos. Para tanto, em cada um destes pilares, foram elencadas dimensões que podem ser usadas para avaliar a situação do país diante de outros polos selecionados. A seleção dos indicadores baseou-se nas análises realizadas e em discussões entre os associados da Brain com autoridades e formadores de opinião dos setores público e privado.
Foram criadas também métricas para essas dimensões com o objetivo de, além de avaliar a situação atual, acompanhar ao longo do tempo a evolução da atratividade do Brasil como polo de investimentos e negócios. As métricas usadas para medir cada um dos indicadores levaram em consideração a qualidade das fontes, a disponibilidade de dados para diferentes países e a possibilidade de monitoramento contínuo ao longo dos anos.
A cesta de países para comparação foi definida a partir da busca por exemplos relevantes. Foram incluídos países desenvolvidos de referência, países que já operam como polos reconhecidos de investimentos e negócios e outros países pertinentes para a comparação.


As fortalezas e oportunidades de melhoria

1) Ambiente macroeconômico: Um crescimento econômico contínuo e regular e uma baixa incerteza sobre os níveis de taxa de juros ou sobre a taxa de câmbio são exemplos das condições que alicerçam o desenvolvimento de investimentos e negócios em um país.
Com relação a esta dimensão, o Brasil se destaca positivamente:

• é hoje a sétima economia do mundo, com expectativa de subir para a quinta posição até 2030, e em alguns cenários, como o de uma reportagem da revista britânica The Economist , espera-se que isso aconteça até 2025;

• a taxa média anual de crescimento saltou de 2,0% entre 1996 e 2000 para 4,4% entre 2006 e 2010, mesmo considerando o impacto da crise econômica global. Em comparação, o crescimento chinês subiu de 8,6% para 11,2%, enquanto o dos Estados Unidos cedeu de 4,3% para 1,0%;

• o mercado interno tem se fortalecido pelo aumento na participação de classes econômicas com poder de compra: as classes A, B e C respondiam por 55% da população em 2002 e hoje representam 69% ;

• a taxa de inflação que, no passado, chegou a cerca de 2.500% ao ano (1993), reduziu–se significativamente desde 1994 e vem se mantendo no patamar de um dígito desde 2003;

• a dívida líquida do setor público diminuiu de 60,6% do pib em 2002 para 40,4% em 2010. Além disso, desde 2007, o Brasil é credor externo líquido, com as reservas e créditos brasileiros no exterior superando a dívida externa ;

• o risco-país caiu de mais de 2 000 pontos no índice embi+ em 2002 para cerca de 200 pontos em 2010. Adicionalmente, em 2008, o País obteve a nota de “grau de investimento” das principais agências globais de classificação de risco.

A despeito dos avanços observados nesta dimensão, ainda existem oportunidades de melhoria para a consolidação da atratividade do País, manifestadas, por exemplo, em:

• aumentar, racionalmente, o nível de investimentos, que foi de apenas 16,7% do pib em média entre 2000 e 2009, enquanto países como China, Índia e Cingapura investiram 39,1%, 28,4% e 24,9%, respectivamente ;

• manter a inflação sob controle e reduzir seu patamar: a expectativa de inflação brasileira para os próximos cinco anos é de 4,8% ao ano enquanto que, para a economia chinesa, mesmo aquecida, este valor está em de 4,0% ao ano;

• elevar o nível da poupança doméstica para além dos atuais 19%;

• aplicar plenamente a Lei de Responsabilidade Fiscal (do ano 2000), completar suas lacunas e garantir adequada interpretação, em especial em relação às práticas fiscais da União.

2) Ambiente institucional: A capacitação de um país como polo, principalmente em relação a outros centros, também reside em um estado de direito sólido, na possibilidade dada aos agentes econômicos de cumprirem rapidamente suas obrigações, e na transparência e eficiência dos processos administrativos.
Aqui, o Brasil destaca-se com:

• uma democracia consolidada há mais de vinte anos, reconhecida inclusive por estar em patamar semelhante ao dos Estados Unidos, da França e da Grã-Bretanha, de acordo com ranking do Banco Mundial sobre estabilidade política;

• a ausência de conflitos internos étnicos ou religiosos e também a inexistência de conflitos atuais ou potenciais com países vizinhos na região. Os marcos institucionais que definem as fronteiras nacionais são sólidos e estabelecidos pacificamente;

• o recente avanço normativo para diminuir o número de casos esperando julgamento no Judiciário, por meio de medidas como a aplicação de súmulas vinculantes, o princípio de repercussão geral, a limitação dos recursos especiais repetitivos, o maior uso de juizados especiais e de câmaras de arbitragem. Além disso, o Conselho Nacional de Justiça e o processo de informatização das cortes contribuem para aumentar a transparência e a eficiência deste Poder.

As áreas desta dimensão em que o Brasil apresenta oportunidades de melhoria são:

• a ainda grande influência política nas decisões que se referem à estrutura do Estado, refletida em exemplos como mandatos sem duração fixa para a presidência do Banco Central, o critério de nomeação e a influência política das agências reguladoras, o excessivo número de ministérios e sua volatilidade;

• a complexidade e o longo prazo para abrir e fechar uma empresa;

• uma elevada proliferação de leis: em 2009, foram editadas 317 novas leis por mês, enquanto Estados Unidos e França editaram apenas 159 e 24, respectivamente;

• a morosidade judicial, refletida numa avaliação do Banco Mundial que estimou em 616 dias o prazo para concluir uma disputa comercial no Brasil, enquanto Hong Kong e Cingapura levam somente 280 e 150 dias, respectivamente, em disputa similar;

• o alto impacto negativo da burocracia sobre os negócios (nota 9 de 10) em avaliação do imd , ao passo que Hong Kong e Cingapura obtiveram notas 5,9 e 4,0, respectivamente;

• a alta quantidade de impostos, com constante alteração normativa, principalmente nos níveis estadual e federal e o alto número de obrigações acessórias , implicando falta de clareza sobre a aplicabilidade e altos custos de compliance .

3) Talentos e capital humano: Um conjunto de talentos suficiente tanto em termos quantitativos quanto qualitativos, um forte alinhamento entre as capacidades acadêmicas e as necessidades do mercado de trabalho e a possibilidade de atrair especialistas de fora do País são alguns dos requisitos a serem cumpridos por um postulante a polo internacional.
Aqui, o Brasil se destaca positivamente ainda em poucos pontos:

• disponibilidade demográfica de população economicamente ativa (PEA): o Brasil é a maior economia em que o crescimento esperado da PEA é suficiente para atender ao crescimento previsto para a demanda por pessoas para o trabalho;

• evolução na quantidade de matrículas no ensino fundamental, colocando este nível de ensino no Brasil próximo à universalização (93%) .
São vários os pontos que precisam ser melhorados nesta dimensão, como:

• taxa de matrícula no ensino médio de 77% , longe da universalização;

• taxa de matrícula do ensino superior de apenas 30% , inferior à média global;

• baixa qualidade do ensino, refletida em notas fracas no exame internacional pisa ;

• baixo alinhamento entre o ensino de idiomas e as necessidades do mercado de trabalho (nota 3,1 na escala de 0 a 10);

• baixa atratividade de talentos internacionais como ferramenta para formação local;

• falta de políticas para a gestão coordenada dos três milhões de brasileiros expatriados;

• baixo alinhamento da produção acadêmica às necessidades dos setores industrial, de serviços e financeiro.

4) Infraestrutura física: Opções de transporte multimodais que permitam a entrada e a saída do polo, bem como a movimentação interna e o acesso a uma rede de telecomunicações competitiva em desempenho e em custos são elementos evidentes entre os fatores de sucesso de um polo.
Nesta dimensão, o Brasil aparece positivamente em alguns quesitos:

• ampla cobertura de telecomunicações, principalmente nos centros urbanos;

• o nível de acesso à água e ao saneamento básico em regiões urbanas é comparável ao de outras nações desenvolvidas, de acordo com estudo do IMD;

• o PAC , que prevê acelerar investimentos para suprir as lacunas existentes.

Aqui, as lacunas ainda são consideráveis, manifestadas em casos como:

• os investimentos em infraestrutura decaíram de 5,4% do pib na década de 1970 para 2,1% nos anos 2000, o que, na visão de vários economistas, é suficiente apenas para manter a infraestrutura existente, sem prover expansão;

• a infraestrutura brasileira é classificada somente em 28º lugar entre os 59 países avaliados pela eiu , e as deficiências nessa frente comprometem a eficiência logística no País;

• os principais aeroportos do País operam acima da capacidade ideal;

• o custo de telecomunicações é três vezes maior que a média global;

• São Paulo apresenta o sexto pior índice de congestionamento entre as grandes cidades do mundo e, ainda assim, são previstos apenas oito quilômetros de metrô por milhão de pessoas em 2015 – Pequim espera ter 56 quilômetros;

• falta um marco regulatório mais robusto e claro para as parcerias público-privadas (PPPS).

5) Infraestrutura financeira: A presença de intermediários financeiros capacitados, o acesso contínuo a diversas fontes de financiamento e a existência de instrumentos para a mitigação de riscos ajudam diretamente o desenvolvimento de um polo de investimentos e de negócios.
O Brasil apresenta diversas fortalezas nesta dimensão:

• a regulação do sistema financeiro é mundialmente reconhecida como referência;

• a disponibilidade de recursos financeiros para as empresas, tipicamente por intermédio do uso de crédito pj e do mercado de capitais;

• um modelo de negociação e registro centralizado de operações de derivativos de referência internacional;

• o sistema financeiro é forte e rentável, apresentando, nos últimos cinco anos, uma das maiores criações de valor aos acionistas no mundo.

E pode se desenvolver ainda mais focando em:

• aumentar a utilização de debêntures tanto como meio de financiamento quanto para expandir a liquidez do mercado secundário deste instrumento;

• atrair mais empresas de pequeno e médio porte para o mercado de capitais;

• incentivar o desenvolvimento dos mercados de seguros, resseguros e derivativos de commodities;

• desenvolver ainda mais a capacidade de inovação em novos produtos financeiros.

6) Conectividade: Um intenso fluxo de comércio de bens e serviços, de movimentação de capitais e de pessoas constitui um elemento vital para nutrir continuamente um polo de investimentos e negócios.
Como destaques positivos do estágio atual da conectividade internacional do Brasil e da América Latina podem ser citados:

• o País lidera a atração de investimentos estrangeiros diretos na América Latina;

• já existe acordo de livre residência envolvendo Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e Bolívia, podendo, inclusive, ser expandido para outros países.

E, como exemplos de áreas que podem ser mais bem desenvolvidas, elencam-se:

• a América Latina ainda tem pequena participação nas exportações globais de bens (5%) e serviços (4%) . Em particular, maior atenção deve ser dada a serviços, setor mais relevante para polos de investimentos e negócios;

• apesar de crescentes, as multilatinas ainda têm posição limitada no mundo. No caso do Brasil, a Vale, que é a primeira empresa brasileira por valor de ativos no exterior, não aparece no ranking das cem maiores empresas do mundo com mais ativos fora do país de origem ;

• baixo alinhamento da regulação e pouca integração de sistemas e registros entre os países latinos dificultam a operação internacional de empresas na América Latina;

• mesmo tendo recebido muitos imigrantes no passado e contando com colônias representativas de descendentes, o número de estrangeiros atualmente no Brasil, seja da América Latina ou de qualquer outra localidade, é pequeno se comparado com o tamanho da população;

• o Brasil tem malha aérea pouco conectada com o restante da América Latina e do mundo quando comparado com outros países.

7) Imagem do país: A percepção positiva externa sobre as condições gerais de um país representa um ativo importante para a consolidação de um polo, em particular para atrair talentos e empresas.
O Brasil já apresenta imagem positiva de destaque em:

• múltiplos rankings de aspectos culturais, turísticos e de hospitalidade;

• o ranking das melhores cidades para fazer negócios na América Latina aponta São Paulo e Rio de Janeiro em 3º e 5º lugares, respectivamente ;

• tem aumentado a atratividade do País para a realização de congressos e convenções internacionais, de 62, em 2003, para 293, em 2009 ;

• terceira colocação mundial em número de empresas que publicam anualmente relatórios de sustentabilidade.

Como oportunidades de melhoria, podem-se citar:

• o Brasil apresenta imagem abaixo da média com relação à qualidade dos produtos nacionais;

• o País tem apenas três empresas entre as cem mais sustentáveis em ranking internacional ;

• São Paulo e Rio de Janeiro são mal avaliadas como cidades para morar, empatando em 92º lugar;

• o número de turistas que visitam o País é pequeno em relação a outros polos.

Um longo caminho a trilhar

A Brain definiu para cada pilar um painel de indicadores que permite a fácil comparação da situação brasileira com a de outros polos, assim como o monitoramento contínuo ao longo do tempo. Os painéis resultantes podem ser observados ao longo dos capítulos de cada um dos pilares e na conclusão final deste documento.
Também a partir das análises da situação atual do Brasil em cada pilar, a Brain se propôs, através de sessões de trabalho com seus associados e de entrevistas com especialistas e formadores de opinião, compilar um plano de ação contemplando iniciativas a serem executadas para elevar o Brasil à condição de polo com o mesmo nível de excelência de outras referências mundiais. Como resultado deste exercício, os primeiros grupos de trabalho já foram formados e espera-se colher resultados positivos concretos num futuro bastante próximo.
O Brasil reúne as qualidades necessárias para se tornar o grande polo e catalisador da nova arquitetura regional. O País é um gigante no continente e deve crescer com ainda mais vigor na próxima década, fortalecendo seus vínculos com os países vizinhos e com o mundo. A visão emergente é consolidar o Brasil como um polo regional de investimentos e negócios, com conectividade global. É natural que o País siga este caminho, desenvolvendo seus alicerces e assim ampliando sua projeção global em linha com seu crescente papel no mundo.
O Brasil possui desafios a superar – e vantagens a alavancar – rumo a essa visão. O Brasil ainda enfrenta barreiras significativas – como o excesso de burocracia e a infraestrutura pouco competitiva – para poder atingir uma posição como um verdadeiro polo regional. Por isso é vital que mantenhamos e reforcemos os fundamentos sólidos de nossa economia e regulação, dando as bases para a expansão internacional de nossas empresas.
A visão da Brain está alinhada com a estratégia do País e não requer movimentos artificiais. Não é preciso ser inconsistente com o perfil do Brasil de país continental e com sua vocação natural para uma crescente projeção internacional. Especificamente não se trata de um projeto que requer conversibilidade cambial ou vantagens fiscais. A visão é de uma economia resiliente e diversificada, com um setor de serviços internacionalizado que suporte a projeção das multilatinas brasileiras e gere benefícios para os diversos setores da economia e da sociedade e para a América Latina como um todo.
Sem esforços coordenados o sucesso não é garantido. Outros países com potencial semelhante perderam sua janela de oportunidade. O sucesso requer ação coordenada estratégica público-privada no longo prazo e em múltiplas frentes, incluindo aperfeiçoamento da infraestrutura, simplificação do sistema tributário e regulações burocráticas, desenvolvimento da educação, aumento da cooperação internacional e com a iniciativa privada consistente com a inserção internacional desejada.
A grande maioria dos interlocutores envolvidos demonstrou significativa receptividade à ideia de desenhar uma visão de polo regional de investimentos e negócios para o País, que ao mesmo tempo seja coerente com sua trajetória de longo prazo, trace um caminho evolucio¬nário para o País e promova sua projeção e competitividade globais.
A Brain está profundamente honrada com a confiança e apoio depositados por todos os seus patrocinadores e apoiadores nessa visão e na própria instituição. Estamos comprometidos com a tarefa de articular a implementação dessa visão, um projeto de longo prazo, ambicioso, porém viável, com benefícios para todos os setores.
Queremos contar com o apoio e diálogo de todos. Esse é um projeto para o País e para a América Latina e só será verdadeiramente bem-sucedido com o envolvimento de toda a sociedade.
A Brain convida todos os representantes e membros da sociedade que tenham interesse em participar destes diálogos estratégicos, bem como dos grupos de trabalho para aprimorar a atratividade do Brasil como polo de investimentos e negócios. Convidamos você a visitar o nosso site (www.brainbrasil.org), ler mais sobre nossos objetivos e entrar em contato conosco pelo e-mail contato@brainbrasil.org.

PAULO DE SOUSA OLIVEIRA é o diretor-presidente da BRAIN – Brasil Investimentos e Negócios, associação composta por empresas de diversos setores da economia, que tem por objetivo transformar o Brasil num polo de desenvolvimento de negócios para a América Latina, atraindo investidores de todo o mundo para a região. O autor foi diretor executivo de Fomento e Desenvolvimento de Negócios da BM&FBOVESPA, sócio-diretor da ProBusiness, consultoria focada em transformação organizacional, e diretor de Tesouraria do Credibanco – The Bank of New York. É engenheiro formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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