19 abril 2022

Índice de Interesse Internacional: Cresce a proporção de notícias negativas sobre o Brasil na imprensa internacional

Escândalos políticos como a compra de Viagra pelas Forças Armadas foram destaque negativo; notícias de economia foram os principais pontos de cobertura positiva na semana

Escândalos políticos como a compra de Viagra pelas Forças Armadas foram destaque negativo; notícias de economia foram os principais pontos de cobertura positiva na semana

Por Daniel Buarque e Fabiana Mariutti*

iii-Brasil – 11 a 17 de abril de 2022

Visibilidade: 36 reportagens em 7 veículos analisados

Classificação das notícias:
50% Neutras
39% Negativas
11% Positivas

A proporção de notícias sobre o Brasil publicadas pela imprensa internacional com viés negativo cresceu da primeira para a segunda semana de análise do Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil) calculado pela Interesse Nacional. Apesar de a maioria dos artigos coletados ter continuado tendo um teor neutro (com queda de 58% para 50%), as notícias nocivas foram as que mais ganharam terreno, passando de 26% para 39%. Já as menções positivas ao país caíram de 16% para 11% no período.

A pesquisa semanal encontrou 36 referências ao Brasil nos sete veículos analisados entre os dias 11 e 17 de abril de 2022. Mesmo com o crescimento relativo da exposição negativa, metade das menções de destaque ao Brasil nos veículos da mídia estrangeira avaliados tinha um tom factual, sem juízos de valor e sem potencial de influenciar a percepção dos leitores sobre o país de forma danosa ou assertiva — prejudicial ou anuente.

Apenas quatro das reportagens que davam destaque ao Brasil no período tinham viés positivo para o país. Ao contrário do que havia se registrado na semana anterior (e em outros estudos sobre a imagem internacional do país), desta vez temas ligados à economia ajudaram a projetar positivamente o Brasil.

Duas reportagens publicadas pelo jornal espanhol El País ajudaram nesta construção de um teor favorável sobre a economia brasileira. Uma delas tratou da Bolsa do país como uma das poucas do mundo a ter alta relevante nos últimos meses. Segundo a publicação, o Brasil se beneficiou da valorização de matérias primas no mercado global. Além disso, a Bolsa brasileira pode estar recebendo ativos de investidores de tiveram que abandonar o mercado russo desde o início da guerra contra a Ucrânia. Em uma linha editorial semelhante, outra reportagem do mesmo jornal apontou para o Brasil como um bom lugar para investimentos em renda fixa.

A economia brasileira teve destaque positivo também no jornal argentino Clarín, que publicou um artigo falando sobre a possibilidade de o governo de Buenos Aires seguir o modelo bem-sucedido do Plano Real para tentar controlar a inflação na Argentina.

Apesar do resultado positivo para a imagem do Brasil da cobertura de economia em alguns dos jornais estrangeiros analisados, a política continua a marcar negativamente a percepção externa sobre o Brasil. Do total de menções ao Brasil coletadas na amostra, 8 (equivalente a 22% do total) tinham teor negativo relativo à política.

O principal destaque desfavorável para a imagem do Brasil foi o caso da compra de Viagra com dinheiro público pelas Forças Armadas brasileiras, que chamou muita atenção e teve repercussão com declarações do presidente Jair Bolsonaro. O caso propagou-se em jornais como o espanhol El País, o francês Le Monde, o argentino Clarín, e o britânico The Guardian, por exemplo. Este último publicou ainda uma segunda reportagem sobre a denúncia de compra de próteses penianas pelos militares.

Reportagens da imprensa internacional com tom neutro sobre o Brasil destacaram o acordo do TSE com o WhatsApp para evitar disseminação de fake news na eleição de outubro (Público), a crescente atenção política dada no país para a questão ambiental (NY Times), a publicação equivocada da Folha de São Paulo de notícia sobre a morte da rainha Elizabeth II (The Guardian) e a discussão sobre o desempenho futuro dos BRICS (China Daily).


Daniel Buarque é editor-executivo do Interesse Nacional, pesquisador no programa de doutorado em Relações Internacionais do Brazil Institute do King’s College London (KCL) e do IRI-Universidade de São Paulo. É jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor do livro “Brazil, um país do presente” (Alameda).
Fabiana Mariutti é pesquisadora, professora e consultora em negócios internacionais; pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração pela Universidade de São Paulo com bacharel em Comunicação Social pela PUC Campinas, SP. Estuda a marca Brasil e temas tangenciais desde 2010. Anteriormente, trabalhou em organizações nas áreas de Estratégia, Marketing e Branding.


O Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil) é uma análise da imagem do país realizada a partir de um levantamento sistemático de dados sobre notícias que mencionam o Brasil a cada semana em sete publicações internacionais, selecionadas como representativas da imprensa internacional por serem reconhecidas internacionalmente como “newspapers of record”. São elas: The Guardian (Reino Unido), The New York Times (Estados Unidos), El País (Espanha), Le Monde (França), Clarín (Argentina), Público (Portugal) e China Daily (China).

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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