Notice: Function _load_textdomain_just_in_time was called incorrectly. Translation loading for the wordpress-seo domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home/storage/c/6b/bd/interessenaciona1/public_html/wp-includes/functions.php on line 6114
Interesse Nacional
01 outubro 2021

Oportunidades do Brasil rumo à OCDE

O Brasil tem grande potencial para se consolidar como líder global. É a maior economia da América Latina e a 12ª do mundo, com PIB superior a 1,8 trilhão de dólares (Banco Mundial, 2021). Ademais, é o país “parceiro-chave” com o mais elevado nível de adesão aos padrões da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE.

A acessão do Brasil à OCDE proporcionará benefícios mútuos para Organização e para a economia brasileira. Por um lado, somos um país democrático com laços culturais e econômicos com a maioria dos países do mundo, o que amplia a representatividade global da OCDE e a legitimidade das suas recomendações e políticas. Por outro, o Brasil poderá elevar sua inserção internacional e ampliar contato com boas práticas, além de impulsionar sua agenda de reformas domésticas, sinalizando melhoria no ambiente institucional, com vistas a aumentar a produtividade total dos fatores de produção.

Dadas as mudanças demográficas, com redução esperada da entrada de novos jovens no mercado de trabalho, e ainda considerando os desafios estruturais das contas públicas, o aumento da produtividade representa fator essencial para alcançar uma trajetória de crescimento sustentável ao longo dos próximos anos.

Nesse sentido, vale destacar a relação entre a acessão à OCDE e a Estratégia Federal de Desenvolvimento – EFD para o Brasil no período de 2020 a 2031 (Decreto nº 10.531, de 26 de outubro de 2020). A acessão à OCDE vai contribuir de maneira relevante para o alcance do cenário transformador da EFD, que prevê um conjunto amplo de reformas, além daquelas requeridas para o equilíbrio fiscal de longo prazo, na direção de incentivar o aumento da produtividade geral da economia.

A despeito dos benefícios esperados, o principal país-candidato a tornar-se membro pleno da OCDE ainda tem importantes desafios a superar. E a retomada pós-pandemia pode ser oportuna para estimular as reformas necessárias, para implementar compromissos já assumidos e, assim, impulsionar a liderança brasileira.

Em 2020, o Brasil concluiu a adesão ao 100º Instrumento Legal da OCDE – marca que representa mais de 40% de adesão ao acervo normativo do grupo de membros – e foi destaque no documento “OECD Active in Brazil” (OCDE, 2020) pela evidente e gradual convergência do acervo normativo nacional aos instrumentos legais da Organização. A aproximação Brasil-OCDE se estabeleceu há mais de duas décadas e, em 2017, o País formalizou sua candidatura ao processo de acessão ao grupo, para o qual aguarda resposta.

Desde então, tornou-se prioritária a convergência das políticas públicas nacionais às boas práticas internacionais como parte da agenda de melhoria do ambiente de negócios e de maior integração à economia mundial. Atualmente, o Brasil participa, de forma ativa, de Comitês da OCDE sobre agricultura, tributação, comércio, estatística, governança corporativa e pública, investimentos, ciência e tecnologia, educação e economia digital. Além disso, possui voz e voto em instâncias que discutem temas relevantes como questões de concorrência e medidas antissuborno.

No âmbito dessa participação ativa, a OCDE, em seu relatório “Going for Growth: Shaping a Vibrant Recovery” (OCDE, 2021a), que discute prioridades para a recuperação pós-pandemia, sugere como prioridade para o Brasil uma ampla reforma estrutural com base no tripé sustentável “social-ambiental-econômico”, ressaltando: a) a ampliação do sistema de proteção social; b) a melhoria do ensino e capacitação profissional; c) a redução de barreiras à concorrência; d) a redução de distorções no sistema tributário; e e) a preservação do meio ambiente.

Diante desse cenário, é importante enfatizar a relevância do processo de preparação para a acessão do Brasil à OCDE ao promover ganhos concretos em temas institucionais, ambientais e econômicos. Trata-se de uma trajetória marcada por avanços graduais que evidencia a estratégia adotada pelo país: incorporação sistemática de recomendações da Organização e ampliação do engajamento e participação em instâncias de discussão e avaliação técnicas como grupos de trabalho, comitês temáticos e estudos de revisão por pares (peer reviews). O bom desempenho brasileiro nessa fase – anterior ao início formal de acessão – qualifica o Brasil como país-candidato e antecipa resultados positivos para o ambiente de negócios pós-pandêmico.

A preparação e o acompanhamento do processo de acessão do Brasil, cuja competência é do Conselho Brasil-OCDE (BRASIL, 2019), ganhou nova dinâmica e relevância em razão da pandemia. A convergência de políticas e normas aos padrões internacionais da Organização foi reforçada, e isso sinaliza, de forma clara, ao mercado e à comunidade internacional, o compromisso do Brasil com uma economia aberta, previsível, responsável e transparente. No eixo econômico, são destaques os seguintes avanços:


Medidas de reciprocidade: o movimento de adesão aos Códigos da OCDE de Liberalização de Movimento de Capitais e de Operações Correntes Intangíveis, iniciado em 2017, já está promovendo progresso gradual de liberalização de capitais, de investimentos e de serviços, com maior inserção da economia brasileira na economia global. Por exemplo, no setor de seguros, houve revogação da exigência de reciprocidade para atuação de seguradoras estrangeiras no mercado brasileiro;


Abertura ao capital estrangeiro: a publicação da Lei nº 13.842/2019, que ampliou a possibilidade de participação de capital estrangeiro no mercado de aviação civil brasileiro, permitindo que investidores estrangeiros adquiram até 100% do capital social votante de empresas do setor; e o Decreto nº 10.786, que tornou pública a decisão de não renovar a vigência do Convênio sobre Transporte Marítimo entre o Brasil e o Uruguai, bem como do Acordo sobre Transportes Marítimos entre o Brasil e a Argentina;


Defesa da concorrência: as recomendações das revisões por pares da OCDE realizadas em 2005 e 2010 e a adesão ao Instrumento Legal sobre Neutralidade Concorrencial (100ª adesão) estão refletidas na legislação nacional vigente, principalmente, no que diz respeito ao controle de fusões, multas e sansões.

Apesar desses avanços, ainda existem desafios para a convergência da agenda econômica. Persistem restrições relacionadas aos serviços profissionais legais, como o de advogados credenciados pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e os prestadores de serviços de contabilidade e auditoria, para os quais há exigências de reciprocidade para o provimento de serviços no Brasil, contrariando normativas da OCDE.

Outra questão a superar ao longo do processo de preparação para a acessão é a modernização da legislação cambial. Nesse sentido, o Projeto de Lei nº 5.387/2019 (“PL Cambial”), de autoria do Poder Executivo, já foi aprovado na Câmara dos Deputados e aguarda votação no Senado Federal. Com a adoção do regime flutuante de câmbio e a política de acumulação de reservas internacionais, tornou-se possível modernizar as regras aplicadas no mercado de câmbio, simplificando e consolidando regulações de forma a elevar a segurança jurídica.

Adicionalmente, a acessão do Brasil à OCDE precisará enfrentar questões relativas à tributação, em especial aquelas relacionadas à cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre operações de câmbio e à convergência das práticas nacionais relacionadas a preços de transferência aos padrões da OCDE.

Alguns desses desafios estão sendo analisados na Revisão da Política Regulatória (peer review) em curso. Em fevereiro de 2021, a Secretaria Especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia (Sepec/ME) e a Secretaria Especial de Relacionamento Externo da Casa Civil (Serex/CC) lançaram o programa Reg-OCDE. A iniciativa consiste num conjunto de medidas a serem implementadas pelo Governo Federal com o objetivo de incorporar as melhores práticas recomendadas pela OCDE, promovendo concorrência e competitividade em distintos setores e atividades, com base no Indicador Product Market Regulation (PMR).

No que diz respeito aos avanços no Eixo Institucional, destaca-se como central o tema da governança por sua natureza transversal e por envolver relação estreita com a confiabilidade das organizações. O Brasil também apresentou avanços importantes em temas como compras públicas e integridade pública (percepção dos níveis de corrupção):


Governança pública (Revisão por Pares das Funções e Capacidades de Centro de Governo – Peer Review): o estudo em parceria com a OCDE busca o aprimoramento da estrutura de centro de governo e o reforço de suas capacidades governamentais relativas à coordenação, formulação e entrega de políticas públicas eficazes à sociedade. O estudo está em fase final de elaboração e as recomendações dos pares serão apresentadas ainda esse ano à Secretaria Especial de Relacionamento Externo da Casa Civil, que coordena o estudo.


Compras Públicas: a Lei nº 14.133/2021 estabeleceu novas regras sobre compras públicas. As adequações normativas estão alinhadas às melhores práticas da OCDE, além de aumentar a transparência e a profissionalização dos processos. Medidas adicionais como o estabelecimento de obrigações a entes subnacionais e institucionalização da governança de contratações públicas também são avanços que atendem às recomendações da organização. Outro trabalho importante na área é o relatório sobre “Combate a cartéis em licitações no Brasil”, lançado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em parceria com a OCDE.

Por fim, as expectativas relacionadas às questões ambientais apontam para o eixo ambiental como aquele em que o Brasil precisa demonstrar maior convergência – seja para com a OCDE ou demais organizações internacionais. Pois, a retomada econômica baseada no “crescimento verde” tem o potencial de influenciar positivamente o desempenho da economia brasileira, a percepção internacional sobre a relação do Brasil com o meio ambiente e seus recursos naturais e, consequentemente, a capacidade de o país atrair mais investimentos estrangeiros.

A agenda ambiental da OCDE oferece inúmeras oportunidades para a melhoria do ambiente de negócios, com ênfase para os investimentos ligados ao crescimento verde e à transição para uma economia de baixo carbono. São temas relevantes para o processo de adesão aos instrumentos ambientais: mercado de carbono, atração de investimentos resilientes sustentáveis, comércio internacional de lixo eletrônico, geração de empregos verdes, qualidade do meio ambiente, mudanças climáticas, proteção da biodiversidade e infraestrutura verde.

Considerando o contexto da pandemia e a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – COP26, em novembro de 2021, a agenda ambiental tornou-se prioritária para a OCDE, na medida em que seus membros estão focados na promoção de uma recuperação verde, sustentável e inclusiva. Isso exige, portanto, uma postura assertiva e coerente do Brasil diante das negociações climáticas que se aproximam. Pois, ainda há desafios a superar:


Participação no Comitê de Políticas Ambientais da OCDE (Environment Policy Committee – Epoc): atualmente, o Brasil participa do Epoc como parceiro-chave convidado. No entanto, o país protocolou, em 2019, pedido para elevar seu status à “participante” do Comitê, mas ainda não recebeu resposta. A participação plena no comitê permite maior interação e troca de experiências acerca de questões e de políticas ambientais, contribuindo para o aprimoramento das ações brasileiras na matéria mediante diálogo com todos os membros da OCDE, com base em análises e evidências empíricas.


Instrumentos legais ambientais em processo de adesão: em 2017, o Brasil protocolou pedido formal para adesão a 37 dos 46 instrumentos legais da OCDE que tratam de matéria ambiental. Dos 37 instrumentos solicitados, 18 foram analisados e apenas dois apresentaram incompatibilidades. Restam, ainda, 23 instrumentos legais para uma segunda etapa de revisão ambiental.

Relatório sobre desempenho ambiental do Brasil (OCDE, 2021b): o relatório examina o alinhamento brasileiro a 23 instrumentos ambientais e conclui que, “embora, no geral, ainda não esteja alinhado com os padrões ambientais da OCDE, extensa legislação na área e uma sociedade civil ativa colocam o Brasil em uma boa posição para atingir um grau de alinhamento aceitável”. E destaca que “o desafio é colocar em prática as disposições legais que já possui na área ambiental”, ou seja, assegurar a implementação efetiva de suas políticas ambientais.

Considerando avanços e dificuldades, o processo de preparação para a acessão do Brasil à OCDE apresenta progressos importantes que resultam da soma de esforços de servidores públicos profissionais e qualificados, de parceiros sérios e comprometidos e de autoridades governamentais engajadas com os compromissos assumidos. Mesmo cientes de que o país ainda tem desafios a superar, vale ressaltar que o fortalecimento da cooperação OCDE-Brasil trará benefícios mútuos para as partes e intensificará a disseminação, em nível global, de melhores práticas e recomendações da OCDE para o enfrentamento regional dos desafios econômicos, sociais e ambientais atuais, sobretudo num cenário crítico pós-pandemia. 

 Referências bibliográficas

BANCO MUNDIAL (2021). The World Bank Open Data: Brazil. Disponível em: https://data.worldbank.org/country/brazil?locale=pt Acesso em: 07 de setembro de 2021.

BRASIL (2019). DECRETO Nº 9.920 de 18 de JULHO de 2019. Institui o Conselho para a Preparação e o Acompanhamento do Processo de Acessão da República Federativa do Brasil à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D9920.htm>. Acesso em: 08 de setembro de 2021.

ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT (OECD) (2020). OECD Active in Brazil Paris: OECD, 2020. 67 p. Disponível em: https://issuu.com/oecd.publishing/docs/active_with_brazil_2020__en_web-1a_. Acesso em: 08 de setembro de 2021.

ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT (OECD) (2021a). Going for Growth: Shaping a Vibrant Recovery. Going for Growth 2021 – Brazil. Paris: OECD, 2021. 4 p. Disponível em: https://www.oecd.org/economy/growth/Brazil-country-note-going-for-growth-2021.pdf. Acesso em: 08 de setembro de 2021.

ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT (OECD) (2021b). Evaluating Brazil’s progress in implementing Environmental Performance Review recommendations and promoting its alignment with OECD core acquis on the environment. Paris: OECD, 2021. 72 p. Disponível em: < https://www.oecd.org/environment/country-reviews/Brazils-progress-in-implementing-Environmental-Performance-Review-recommendations-and-alignment-with-OECD-environment-acquis.pdf>. Acesso em: 08 de setembro de 2021.

É secretária-adjunta da Secretaria Especial de Relacionamento Externo da Casa Civil da Presidência da República e membro do Conselho Gestor Brasil-OCDE. Formada arquiteta, é mestre em Engenharia Civil pela Unicamp

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

Cadastre-se para receber nossa Newsletter