Os impactos da mudança do clima na agricultura brasileira
As mudanças climáticas têm se tornado um dos maiores desafios da sociedade nos últimos anos, afetando o equilíbrio do meio ambiente e colocando em risco a sobrevivência da humanidade. Entre os setores mais vulneráveis estão a agricultura e a produção de alimentos, com especial recorte no contexto brasileiro. Pois, o Brasil é um país conhecido por sua imensa diversidade agrícola e sua posição de destaque na produção de alimentos, que podem enfrentar grandes desafios devido à mudança climática.
O Brasil é um dos maiores produtores de grãos, carnes e outros produtos agrícolas do mundo, e a estabilidade de seu setor agrícola é essencial para a segurança alimentar global e para a economia nacional. Assim, os impactos da mudança climática na agricultura brasileira precisam ser analisados para que estratégias de mitigação e adaptação possam ser utilizadas para conter e diminuir os impactos das alterações causadas pelas mudanças climáticas nesses setores.
Inicialmente, conceitua-se mudança climática como o conjunto de alterações significativas e permanentes nos padrões climáticos globais. Essas mudanças são impulsionadas principalmente pela ação humana, por meio da queima de combustíveis fósseis, do desmatamento e de mudança do uso do solo de forma irresponsável. O aumento das concentrações de gases de efeito estufa (GEE), como o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxidos de nitrogênio (NOₓ), está levando a um aumento das temperaturas médias globais, alterações nos padrões de precipitação e aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, fatores que impactam diretamente a agricultura.
Alterações na Temperatura
O aumento das temperaturas médias tem efeitos diretos sobre a agricultura. As culturas agrícolas têm limites específicos de temperatura para viabilizar seu desenvolvimento. O aumento da temperatura pode levar as culturas a pressões e estresses, que afetam, negativamente, sua germinação, seu desenvolvimento e sua produtividade. Existem culturas que são mais sensíveis a essas variações e outras que conseguem se adaptar em uma faixa de variação, mas inegavelmente os efeitos estão sendo tão drásticos que até mesmo as culturas menos sensíveis estão passando por processos de estresse térmico.
Com relação às culturas agrícolas brasileiras, temos que alguns produtos possuem grande destaque no contexto da economia brasileira, como a soja, o milho e o café, culturas que são sensíveis às variações térmicas e podem sofrer grandes impactos no contexto das mudanças climáticas.
A soja e o milho podem ter sua produtividade afetada pelo aumento das temperaturas. O milho, por exemplo, é particularmente sensível ao estresse térmico durante a polinização, o que pode reduzir a produção e a qualidade do grão. E a soja, mesmo sendo um pouco mais resistente, também pode sofrer perdas de rendimento e problemas na maturação. Já o café, é um grão extremamente sensível a alterações na temperatura; o aumento das temperaturas pode afetar o sabor e a qualidade dos grãos, além de forçar os produtores a migrarem suas plantações para locais com novas altitudes ou novas variedades que se adaptem melhor às mudanças impostas.
Além disso, no contexto da pecuária as elevadas temperaturas também são um grande problema, pois podem prejudicar a saúde dos animais, além das disponibilidades de campos e pastagens.
Alterações de Precipitação
As mudanças nos padrões de precipitação são um dos impactos mais drásticos para a agricultura brasileira. O Brasil é tipicamente um país sujeito a uma ampla variedade climática tanto ao longo do ano como entre as diferentes regiões e biomas. As mudanças climáticas podem alterar a frequência e a intensidade dessas variabilidades quanto às precipitações e causar diversos efeitos negativos. Regiões que tipicamente recebem bastante chuva, como a região Norte e o Centro-Oeste, podem experimentar secas mais severas, enquanto áreas que costumavam ser mais secas, como o Nordeste, podem enfrentar chuvas intensas e inundações.
A seca prolongada pode desencadear diversos efeitos negativos, as culturas de grãos como milho e soja podem ter seu desenvolvimento prejudicado e as culturas irrigadas como arroz podem ser prejudicadas pelo excesso de água. Além disso, com a redução do regime de chuvas a disponibilidade de água destinada à irrigação pode ser prejudicada, aumentando a competitividade por recursos e prejudicando o desenvolvimento da agricultura brasileira.
Eventos Climáticos Extremos
Um dos efeitos mais preocupantes das mudanças climáticas são o aumento da intensidade e frequência de eventos climáticos extremos; além dos prejuízos à vida humana os eventos como tempestades, inundações, ondas de calor e deslizamento de terras podem causar danos diretos às culturas agrícolas e às infraestruturas associadas. Outro efeito é a perda imediata de culturas por meio da destruição de plantações que ocorrem em inundações – o excesso de chuva pode levar à erosão do solo, impedindo ou dificultando o reestabelecimento da plantação. Já as ondas de calor podem reduzir a qualidade ou causar a perda de colheitas mais sensíveis.
Aumento de Pragas e Doenças
O aumento das temperaturas e alterações dos padrões de precipitação podem transformar a prevalência de pragas e doenças que afetam as culturas brasileiras. Um exemplo prático disso é que pragas como o bicudo do algodoeiro e a lagarta do cartucho podem se reproduzir mais facilmente em cenários de elevadas temperaturas e migrar para outras regiões do país. Esse problema pode causar prejuízos financeiros e ambientais aos produtores, pois pode levar à perda de produtividade e ao aumento da utilização de agrotóxicos e demais defensivos.
Além disso, microrganismos como fungos e bactérias podem se espalhar mais facilmente em ambientes com condições climáticas mais favoráveis, ocasionando diversas doenças, que podem exigir novas estratégias de manejo e utilização de defensivos, gerando significativos impactos ambientais e econômicos.
Degradação do Solo
As alterações de temperaturas e regimes de chuvas podem causar diversos efeitos no solo, acelerando o seu processo de degradação, que já é um problema no Brasil. Os principais efeitos podem ser relacionados à erosão, salinização e acidificação, que representam respectivamente o deslocamento de massa e desestabilização, o desequilíbrio na concentração de sais e minerais e o desequilíbrio do PH, fatores que influenciam diretamente na redução da fertilidade da produtividade agrícola, além de prejudicar a retenção de água e nutrientes do solo, agravando o problema, que no extremo pode causar o processo de desertificação do solo.
Qualidade da Água
As mudanças climáticas, além de afetarem a quantidade e disponibilidade de água, aumentando a pressão do setor agrícola e a competição pelos recursos hídricos, podem contribuir para a redução da qualidade da água, por meio de problemas como salinização, concentração de poluentes e nutrientes indesejados ocasionados pelas modificações dos padrões de precipitação e alterações nos padrões de fluxo dos rios.
Estratégias de Adaptação e Mitigação
Diante dos cenários de impactos negativos na agricultura, desenvolver estratégias de mitigação e adaptação é essencial para garantir o desenvolvimento da agricultura mesmo nos cenários desfavoráveis. Assim, sugere-se que a agricultura brasileira considere algumas estratégias que podem auxiliar no contexto das mudanças climáticas, tais como:
utilização de práticas sustentáveis de agricultura, como o manejo sustentável, a exemplo de rotação de culturas, o plantio direto e cobertura do solo, que podem melhorar a saúde do solo e torná-lo mais adaptado para os cenários climáticos. Além disso, o aumento da eficiência de sistemas de irrigação, tais como irrigação por gotejamento, podem otimizar a utilização de recursos hídricos;
no contexto de adaptação aos cenários apresentados, são necessárias iniciativas para tornar os cultivares mais resilientes. Assim, o investimento em pesquisa e desenvolvimento se mostra como uma solução. Identificar cultivares e variedades que se adaptem melhor às mudanças do clima é essencial para o desenvolvimento da agricultura. Além disso, as intervenções relacionadas à engenharia genética e biotecnologia se apresentam como soluções para o desenvolvimento de culturas resistentes ao aumento de temperatura, ao estresse hídrico e às doenças e parasitas, de forma que possa ser possível manter produtividade e qualidade nas colheitas;
nesse contexto, é importante mencionar que o monitoramento e a previsão do tempo e do clima são essenciais para orientar o manejo agrícola e, portanto, o desenvolvimento de produtos de auxílio na gestão agrícola se mostra essencial para reduzir a imprevisibilidade, os danos e os riscos associados às mudanças climáticas. Além disso, as políticas públicas também precisam ser pensadas considerando essa realidade que já estamos vivenciando.
Assim, em resumo, as mudanças climáticas apresentam novos desafios para a agricultura brasileira, trazendo riscos que podem afetar a disponibilidade de recursos e áreas férteis, a produtividade e a qualidade das colheitas. Nesse sentido, a adoção de práticas sustentáveis, desenvolvimento de culturas mais resilientes e investimentos em tecnologia e inovação são essenciais para lidar com os desafios apresentados.
‘Além disso, é importante que o setor esteja atento às novas oportunidades e adaptações necessárias para que a agricultura brasileira seja resiliente e possa se desenvolver mesmo em condições menos favoráveis, contribuindo para a economia e a segurança alimentar’.
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