14 maio 2025

Albânia – Imagem de país, nation branding e sua adesão à União Europeia

Percepção negativa por falta de proteção a direitos da população LGBTQ+ não apenas afeta as aspirações do país junto ao bloco mas também mina objetivos geopolíticos mais amplos, como negociações comerciais ou atração de talentos. Mas enfrentar a homofobia de frente poderia transformar essa situação

Parada do orgulho gay em Tirana (Foto: Wikimedia Commons)

Por Janaina Portugal Pinto e Fabiana Gondim Mariutti

A Albânia é um país localizado na Península dos Bálcãs, no sudeste da Europa, banhado pelo Mar Adriático.  A Albânia tem uma história rica e complexa, incluindo períodos de domínio estrangeiro e um período comunista após a Segunda Guerra Mundial.  É um dos países mais pobres da Europa, o qual vem desenvolvendo sua economia nos últimos anos, sendo o papel do turismo imprescindível.  

Trata-se de um destino turístico cada vez mais popular, conhecido pelas suas praias, montanhas e cidades históricas. Com 27,4 mil metros quadrados de extensão, além da natureza encantadora, apresenta muitos sítios arqueológicos e expressões culturais tombadas como patrimônio mundial.

‘Apesar de ter indicadores sociais acima da média brasileira, a economia da Albânia é predominantemente do setor terciário e possui um PIB relativamente baixo’

Apesar de ter indicadores sociais acima da média brasileira, a economia da Albânia é predominantemente do setor terciário e possui um PIB relativamente baixo. Outros dados do país escondido no mediterrâneo – sua inflação em março de 2025 foi de 2,1% com 8,8% de desemprego e 3,63% de crescimento econômico em 2024.

A economia albanesa é baseada no setor de serviços e na agropecuária, que concentra grande parte da mão de obra do país. O extrativismo mineral e a indústria petroquímica são igualmente importantes. Já a culinária albanesa é influenciada pelas culinárias grega e italiana, com ingredientes como azeite, queijo, carne e peixe. Tem uma cultura rica e diversificada, com uma forte influência do islamismo, embora também exista uma comunidade católica importante. 

‘Tirana é a capital da Albânia é uma cidade vibrante e cosmopolita, sua cidade mais populosa’

O país possui 2.873.000 habitantes, sendo um dos países menos populosos do continente europeu. Tirana é a capital da Albânia é uma cidade vibrante e cosmopolita, sua cidade mais populosa, com 484 mil habitantes. Outras cidades importantes incluem Durrës, Vlorë, Shkodër e Berat, esta última Património Mundial da UNESCO. 

Segundo dados oficiais, cerca de 53% da população da Albânia vive em zonas urbanas (dos quais cerca de 25% vivem na capital Tirana), e 47% em zonas rurais. A população da Albânia em 2023 era de 2.832.439, um declínio de 0,35% em relação a 2022. A população da Albânia em 2022 era de 2.842.321, um declínio de 0,43% em relação a 2021. No final de 2023, o número de estrangeiros com autorização de residência na Albânia resultou em 21.460 habitantes, aumentando 18,2% em relação a 2022. 

A Albânia é conhecida por sua máfia e comenta-se também sobre o tráfico de órgãos, mas para turistas é um país acolhedor e tranquilo. Como a Albânia não é membro da União Europeia (EU), está em plena negociação de sua adesão. 

‘O caminho oficial para a adesão à União Europeia configura-se em um processo rigoroso que exige o cumprimento de valores democráticos, direitos humanos e políticas antidiscriminatórias’

No entanto, o caminho oficial para a adesão à União Europeia configura-se em um processo rigoroso que exige o cumprimento de valores democráticos, direitos humanos e políticas antidiscriminatórias. Entre esses critérios, o respeito pelos direitos LGBTQ+ é essencial. Países que aspiram a ingressar na UE (como o Kosovo) devem alinhar suas políticas à Carta dos Direitos Fundamentais da UE, que proíbe explicitamente a discriminação com base na orientação sexual.

A dificuldade da Albânia de combater a homofobia pode ter reduzido suas chances de adesão no curto prazo.

A UE monitora de perto o tratamento dado às pessoas LGBTQ+ nos países candidatos. Os artigos 10 e 19 do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia enfatizam o combate à discriminação, incluindo a baseada na orientação sexual.

‘Países que não protegem os direitos LGBTQ+ correm o risco de serem vistos como intolerantes ou retrógrados, o que pode atrasar negociações ou até desqualificá-los da candidatura’

Países que não protegem os direitos LGBTQ+ correm o risco de serem vistos como intolerantes ou retrógrados, o que pode atrasar negociações ou até desqualificá-los da candidatura. Isso ficou evidente em casos em que países candidatos tiveram que implementar reformas significativas nos direitos LGBTQ+ antes de avançarem no processo de adesão.

No entanto, até hoje, desafios persistem: i) A Polônia ocupa o último lugar na UE em direitos LGBTQ+, segundo a ILGA-Europe; e ii) A Hungria introduziu uma lei “anti-LGBTQ” em 2021, proibindo representações da homossexualidade para menores e restringindo conteúdos LGBTQ+ na educação e mídia.

‘Percepções negativas, como ser rotulado de homofóbico, podem dificultar oportunidades comerciais, parcerias imigratórias e complicar esforços diplomáticos’

A percepção de homofobia afeta não apenas as relações diplomáticas, mas também destaca questões mais profundas de igualdade e governança. A imagem, ou branding, de uma nação desempenha um papel crítico em sua posição internacional. O nation branding refere-se ao uso estratégico de técnicas de gestão de marca de lugar para moldar como a reputação de um país pode ser percebida globalmente. Uma marca positiva pode atrair investimentos estrangeiros, turismo e parcerias internacionais. No entanto, percepções negativas, como ser rotulado de homofóbico, podem dificultar oportunidades comerciais, parcerias imigratórias e complicar esforços diplomáticos.

Órgãos públicos têm um papel essencial em proteger e promover a marca do país. Isso envolve medidas proativas para abordar questões sociais como a homofobia e garantir o alinhamento com padrões globais de direitos humanos. Por exemplo:

  • Reformas Políticas: Priorizar leis antidiscriminatórias.
  • Diplomacia Pública: Líderes podem usar diplomacia cultural para demonstrar valores inclusivos e progressistas.
  • Comunicação Estratégica: Autoridades públicas devem gerenciar narrativas sobre questões sensíveis para evitar danos à reputação do país.

Ignorar o valor da marca nacional pode levar a consequências indesejadas. Por exemplo, coberturas negativas na mídia, como o caso de asilo no Reino Unido que veio a público em 14 de abril de 2025, envolvendo duas albanesas lésbicas, amplificam estereótipos homofóbicos e prejudicam a percepção internacional da Albânia. 

Isso não apenas afeta as aspirações da Albânia à UE, mas também mina objetivos geopolíticos mais amplos, como negociações comerciais ou atração de talentos. Mas enfrentar a homofobia de frente poderia transformar essa situação.


*Janaina Portugal Pinto é advogada e sócia do escritório Caio Brandão Advogados, pesquisadora e diretora da Brintelli Knowledge Transfer Ltd. Tem interesse em propriedade intelectual e contratos comerciais. Formada em Direito na Milton Campos, pós-graduada em Direito da Economia e da Empresa pela FGV. Mestre em Direito pela Queen Mary University of London.

Fabiana Gondim Mariutti atua como pesquisadora, professora universitária e consultora. Ph.D. na Inglaterra, pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração, bacharel em Comunicação Social no Brasil e senior high school year nos EUA. Estuda a imagem, reputação e marca Brasil desde 2010. Interesse nas áreas de Place Branding e Public Diplomacy. Nomeada Place Brand Expert pelo The Place Brand Observer, na Suíça. Colunista no Portal Interesse Nacional e do iii-Brasil. Autora de artigos científicos, dois livros e sete capítulos de livros. Em 2025, no Handbook on Public Diplomacy, publica o capítulo "The Brazilian way: Public diplomacy as a means for positive image and global prestige".

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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