12 agosto 2025

Brasil ainda não está pronto para a nova tecnologia do 6G, diz pesquisador

“Essas tecnologias são incrementais e evoluem a cada dez anos. Estamos ainda consolidando o 5G, especialmente nos grandes centros urbanos”, explica Marcelo Zuffo

(Foto: Jornal da USP)

Por Simone Lemos

A nova geração de redes móveis, o 6G, já começa a dar os primeiros passos em alguns países ao redor do mundo. No Brasil, o governo inicia as discussões sobre a aplicação da tecnologia em setores estratégicos, mas o cenário ainda é de preparação.

Para entender melhor os desafios e perspectivas, conversamos com Marcelo Zuffo, professor titular da Escola Politécnica da USP e coordenador do Centro de Inovação da USP, em São Paulo. Segundo ele, o Brasil ainda não está pronto para implantar o 6G em larga escala. “Essas tecnologias são incrementais e evoluem a cada dez anos. Estamos ainda consolidando o 5G, especialmente nos grandes centros urbanos”, explica Zuffo.

Para que o 6G se torne realidade no País, é essencial investir em uma infraestrutura de fibra óptica de altíssima capacidade, além de fomentar programas de pesquisa e desenvolvimento. Um exemplo é o recém-aprovado projeto da USP, em parceria com a Claro e a Fapesp, voltado justamente para estudos sobre o 6G.

Outro ponto destacado pelo professor é a importância de fortalecer a indústria nacional de semicondutores, componente essencial para essa nova era tecnológica. “Essa tecnologia é estratégica. Em um momento em que a soberania digital se torna cada vez mais relevante, o Brasil precisa estimular sua indústria nacional e aprimorar a regulação do espectro de frequências, que, no caso do 6G, deve operar em faixas mais avançadas”, afirma.

O sistema 6G promete ser até cem vezes mais rápido que o 5G. “Nos comitês técnicos internacionais, falamos de velocidades de até 1 terabyte por segundo sem fio”, diz o professor. Além da altíssima velocidade, o 6G deve trazer melhorias em aplicações de tempo real, como realidade virtual, realidade aumentada e até procedimentos de telecirurgia. Mas o grande diferencial dessa nova geração será a integração nativa com a inteligência artificial. “A inteligência artificial vai demandar uma conectividade inteligente entre todos os dispositivos. Esse é o foco do nosso centro de pesquisa”, destaca Zuffo.

Desafios estruturais

Enquanto o Brasil ainda se prepara, outros países como China, Coreia do Sul, Estados Unidos, União Europeia e Japão já avançam nos testes com o 6G. “Gostaria muito de ver o Brasil inserido nesse contexto. Temos boas escolas de engenharia e uma forte demanda tecnológica”, afirma.

No entanto, segundo o professor, o país ainda enfrenta desafios estruturais: “Temos uma infraestrutura limitada, o que atrasa a expansão do 5G. Além disso, o custo é alto porque praticamente não fabricamos esses equipamentos no Brasil. É necessário criar programas mais ambiciosos de estímulo à indústria nacional e aos centros de pesquisa e inovação”.

Zuffo também chama atenção para a desigualdade social, que dificulta o acesso à conectividade em várias regiões do País. “Infelizmente, nem todos os brasileiros têm acesso à tecnologia. Precisamos ser mais agressivos nas políticas de inclusão digital, inovação e conectividade.” Para quem ainda utiliza redes 3G e 4G, ele lembra que o 5G — e futuramente o 6G — são compatíveis com essas tecnologias. Mas reforça que, para avançar, é preciso planejamento e investimento.

Este texto é uma reprodução autorizada de conteúdo do Jornal da USP - https://jornal.usp.br/

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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