17 julho 2025

Brasil pelo mundo afora

Você sabia que quase 5 milhões de brasileiros se estabeleceram fora do Brasil, espalhando nossa energia cativante, nossa cultura incrível e robustez científica pelo mundo?  De acordo com o relatório consular anual do Ministério das Relações Exteriores (MRE), com dados de 2023, esse número representa um aumento em relação aos anos anteriores e equivale ao […]

Você sabia que quase 5 milhões de brasileiros se estabeleceram fora do Brasil, espalhando nossa energia cativante, nossa cultura incrível e robustez científica pelo mundo? 

De acordo com o relatório consular anual do Ministério das Relações Exteriores (MRE), com dados de 2023, esse número representa um aumento em relação aos anos anteriores e equivale ao 13º estado mais populoso do Brasil (Espírito Santo). E representa 2% da população total do país. 

Com mais de 200 milhões de habitantes, o Brasil não é apenas o maior país da América Latina — é o sétimo mais populoso do mundo, atrás da Nigéria e à frente de Bangladesh.

‘Como tanta cultura, música e gastronomia incríveis são difíceis de conter em apenas um país continental, o resto do mundo tem a sorte de contar com 5 milhões de brasileiros morando no exterior’

Mas, como tanta cultura, música e gastronomia incríveis são difíceis de conter em apenas um país continental, o resto do mundo tem a sorte de contar com 5 milhões de brasileiros morando no exterior, liderando com os Estados Unidos atraindo cerca de 40% deles. Sendo o destino favorito os States, a maior comunidade brasileira no mundo. Nova York, Miami e Orlando abrigam metade de todos os brasileiros que vivem nos EUA. “Afinal, qualquer pessoa que já tenha visitado a Disneyworld — ou uma boate particularmente animada de Miami” — sabe que a presença brasileira é certeira. 

Mas Boston, de alguma forma, atraiu 420 mil brasileiros, mais do que qualquer outra cidade além da Big Apple? Isso sim é surpreendente. 

Boston e a região metropolitana de Massachusetts realmente atraíram um número significativo de brasileiros, tornando-se um dos principais centros da diáspora brasileira nos Estados Unidos. 

Alguns principais motivos são: 

(i) as oportunidades econômicas, devido as crises econômicas no Brasil: As principais ondas migratórias de brasileiros para os EUA, especialmente a partir dos anos 1980 e 1990, foram impulsionadas por períodos de hiperinflação, instabilidade econômica e falta de oportunidades no Brasil; 

(ii) melhores salários e qualidade de vida: Os salários em Massachusetts, mesmo para trabalhos que podem ser considerados de menor qualificação, eram e ainda são significativamente mais altos do que no Brasil, permitindo que os imigrantes enviassem remessas para suas famílias e melhorassem suas condições de vida; 

(iii) a empregabilidade em setores de trabalho: A região de Boston oferece oportunidades em diversos setores, como serviços (limpeza, manutenção, restaurantes), construção e saúde, que historicamente absorveram muitos imigrantes. 

(iv) Padrões de migração históricos e comunidade estabelecida; 

(v) acessibilidade e educação, somados aos voos diretos entre Boston e cidades brasileiras facilitando o fluxo migratório; 

(vi) as oportunidades educacionais: Massachusetts é conhecida por suas universidades e faculdades de prestígio. Muitos brasileiros vêm para estudar e, por vezes, permanecem após a formatura, aproveitando as políticas de visto de trabalho para estudantes estrangeiros. 

Fora dos EUA, a situação imigratória é igualmente interessante. As duas maiores cidades de Portugal, Lisboa e Porto, tornaram-se, sem surpresa, o lar de centenas de milhares de imigrantes nascidos no Brasil. 

Os brasileiros representam cerca de 5% da população nacional e mais da metade da população estrangeira em Portugal. E Portugal – que, como grande parte da Europa, enfrenta baixas taxas de natalidade – está se beneficiando bastante, com leis recentes que facilitam o acesso à residência e ao visto para brasileiros e outros imigrantes de língua portuguesa. 

‘Esse fenômeno migratório é resultado de uma combinação de fatores históricos, culturais, econômicos e sociais que tornam o país lusitano um destino atrativo’

Esse fenômeno migratório é resultado de uma combinação de fatores históricos, culturais, econômicos e sociais que tornam o país lusitano um destino atrativo. Alguns dos principais motivos que explicam essa forte presença, podem ser indicados como o idioma em comum: A barreira linguística é praticamente inexistente. Embora existam diferenças de sotaque e algumas expressões, o português é o idioma oficial em ambos os países, o que facilita enormemente a adaptação, a busca por emprego, a interação social e a vida cotidiana de forma geral. 

Outras razões são percebidas pela facilidade de imigração e vistos nos últimos anos, por ser uma porta de entrada para a Europa, também pela busca por qualidade de vida e segurança, como oportunidades econômicas, sociais e educacionais.

Não há um número exato e atualizado para estudantes de pós-graduação brasileiros em Portugal, entretanto uma boa estimativa pode ser indicada com base nos dados disponíveis. As últimas informações compiladas apontam que o número total de alunos brasileiros no ensino superior em Portugal (considerando graduação e pós-graduação, como mestrado e doutorado) é de quase 19 mil. Essa informação é da Direção-Geral da Educação (DGE) de Portugal, e data de 2023.

‘O Brasil perdeu quase 7 mil cientistas nos últimos anos’

Sobre a fuga dos cérebros, o Brasil perdeu quase 7 mil cientistas nos últimos anos, que foram dar continuidade às suas pesquisas no exterior, em busca de incentivos, verbas e recursos tecnológicos. 

O Brasil forma cerca de 20 mil novos doutores por ano, mas muitos buscam oportunidades no exterior, em parte devido à falta de infraestrutura e oportunidades atraentes no país. Os motivos são vários e complexos, desde salários mais altos, melhor qualidade de vida acadêmica como parcerias internacionais frequentes e oportuno crescimento na carreira. 

Pensando nisso, o governo federal criou o programa Conhecimento Brasil: trata-se de uma iniciativa para trazer de volta cientistas brasileiros que trabalham em instituições estrangeiras. Iniciativa que já aprovou mais de 600 projetos envolvendo pesquisadores em 34 países. Lançado em 2024/2025 e executado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), gerido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). 

‘Atrair de volta ao país os talentos da chamada diáspora científica é uma das ações prioritárias definidas pelo conselho do Fundo’

Atrair de volta ao país os talentos da chamada diáspora científica é uma das ações prioritárias definidas pelo conselho do Fundo. A iniciativa visa suprir a demanda por pesquisadores qualificados e promover a colaboração científica com instituições estrangeiras. Esse ano, maior parte deles virá dos Estados Unidos (12,8%), da Alemanha (7,3%), da França (4,6%), de Portugal e da Inglaterra (4,1% cada), onde alguns atuam em instituições de prestígio, como Harvard, Karlsruhe, Oxford, Cambridge, Lisboa e Porto. 

Espera-se que mais de 2.500 brasileiros radicados em 56 países regressem ao Brasil para atuar em cooperação científica com instituições e empresas nacionais, de acordo com os dados da demanda bruta submetida às duas chamadas do programa Conhecimento Brasil. No entanto, a questão é complexa e exige um planejamento de longo prazo.

Para que cientistas brasileiros que atuam no exterior retornem ao país, é fundamental implementar e sustentar um conjunto de políticas públicas e iniciativas acadêmicas que abordem as principais razões da saída e ofereçam condições atrativas para o retorno. 

A “fuga de cérebros” é um desafio global que o Brasil tem enfrentado há anos, especialmente em períodos de instabilidade econômica e política. Para que cientistas brasileiros que atuam no exterior retornem ao país, é fundamental implementar e sustentar um conjunto de políticas públicas e iniciativas que abordem as principais razões da saída e ofereçam condições atrativas para o retorno.

Entre as principais ações e áreas que precisam ser fortalecidas, podem-se listar: investimento sustentado e previsível em ciência e tecnologia, melhoria das condições de trabalho e planos de carreira acadêmica, programas específicos de repatriação e atração, como um roadmap planejado e implementado orientado aos cientistas graduados e pós-graduados no exterior com bolsas nacionais em seu retorno do país de origem, o Brasil. 

A flutuação dos investimentos, a burocracia excessiva, a falta de uma cultura de inovação robusta no setor privado e a desvalorização da carreira científica são barreiras que precisam ser superadas para que os programas de repatriação tenham um impacto duradouro, equitativo e social. 

Em suma, atrair cientistas de volta ao Brasil não é apenas uma questão de programas de bolsas pontuais, mas sim de construir um ecossistema científico e tecnológico robusto, estável e valorizado, que ofereça um ambiente propício para a pesquisa de excelência e a inovação.


Referências

Comunidades Brasileiras no Exterior (2023) Disponível em https://www.gov.br/mre/pt-br/assuntos/portal-consular/BrasileirosnoExterior2023.pdf 

Conhecimento Brasil (2024) Disponível em https://www.gov.br/cnpq/pt-br/assuntos/noticias/cnpq-em-acao/conhecimento-brasil-trara-de-volta-ao-brasil-cientistas-que-atuam-em-34-paises-veja-o-resultado-final 

Direção-Geral da Educação (DGE) de Portugal (2023) Disponível em https://www.dge.mec.pt/ 

Gov.br (2025) Disponível em https://www.gov.br/mre/pt-br/assuntos/portal-consular/comunidades-brasileiras-no-exterior-estatisticas-2023 

Gov.br (2024) Disponível em https://www.gov.br/fundaj/pt-br/centrais-de-conteudo/noticias-1/fuga-de-cerebros-os-brasileiros-qualificados-que-deixam-o-pais-e-as-estrategias-para-atrai-los-de-volta 

Latinometrics (2025). Disponível em https://latinometrics.com/ 

Fabiana Gondim Mariutti atua como pesquisadora, professora universitária e consultora. Ph.D. na Inglaterra, pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração, bacharel em Comunicação Social no Brasil e senior high school year nos EUA. Estuda a imagem, reputação e marca Brasil desde 2010. Interesse nas áreas de Place Branding e Public Diplomacy. Nomeada Place Brand Expert pelo The Place Brand Observer, na Suíça. Colunista no Portal Interesse Nacional e do iii-Brasil. Autora de artigos científicos, dois livros e sete capítulos de livros. Em 2025, no Handbook on Public Diplomacy, publica o capítulo "The Brazilian way: Public diplomacy as a means for positive image and global prestige".

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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