iii-Brasil: Visibilidade internacional do país recua e se torna mais neutra, apesar das imagens de destruição e calamidade no Nordeste

O início do mês de junho registrou um recuo de 25% no total de reportagens sobre o país no exterior, e com um predomínio de menções em textos sem prejuízos para a sua imagem internacional. Relatos sobre as chuvas no Recife foram o principal destaque negativo no período

Por Daniel Buarque e Fabiana Mariutti*

iii-Brasil – 30 de maio a 5 de junho de 2022

Visibilidade: 46 textos

Classificação das notícias:

50% Neutras

35% Negativas

15% Positivas

Após duas semanas de grande visibilidade e do maior registro de  notícias negativas sobre o Brasil na imprensa estrangeira, o mês de junho começou com um recuo de 25% no total de reportagens sobre o país no exterior, e com um predomínio de menções em textos de tom neutro, sem prejuízos para a sua imagem internacional.

No total, foram registrados 46 textos com destaque para o Brasil nos sete veículos de imprensa analisados pelo Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil), calculado pela Interesse Nacional. Metade das menções apareceu em textos informativos e objetivos, sem influência muito direta sobre a percepção a respeito do país no exterior. O noticiário de tom neutro incluiu reportagens sobre a Cúpula das Américas que acontece nos Estados Unidos, assim como questões factuais da política brasileira.

Já entre os textos com algum tom, houve um recuo nas menções prejudiciais à imagem do Brasil (que haviam sido recorde na semana anterior). Ainda assim, a exposição negativa superou mais uma vez a positiva. Foram encontradas 16 reportagens com tom negativo (35% do total) e apenas sete com tom positivo (15% do total). 

Minoria dos registros, as menções positivas mais uma vez estavam em sua maior parte ligadas a temas culturais do Brasil. Um destaque interessante foi a publicação pelo jornal britânico The Guardian de um texto elogioso sobre o gol marcado pelo lateral esquerdo Roberto Carlos em um jogo da seleção brasileira contra a França em 1997. Quanto ao turismo brasileiro, o Clarín menciona as tranquilas praias do Vale da Utopia de Santa Catarina como alternativa turística. 

A violência, que havia impulsionado uma imagem ruim do Brasil na semana anterior, deu uma trégua no noticiário, e não apareceu com grande destaque nesta semana. Notícias sobre desabamentos, enchentes e mortes no Recife, que já tinham aparecido em algumas menções na semana anterior, dominaram a cobertura crítica ao país desta vez. À exceção do New York Times, todos os outros veículos analisados trataram da tragédia e deram destaque à desigualdade social e à falta de acesso de populações carentes a uma estrutura que garanta sua segurança e bem estar social.

“O balanço das chuvas torrenciais no estado de Pernambuco registra pelo menos 100 mortos, 14 desaparecidos e mais de 6.000 desabrigados. As escolhas de planejamento urbano ambientalmente destrutivas são questionadas”, diz uma reportagem do jornal francês Le Monde. O espanhol El País publicou uma longa galeria de fotos da destruição deixada pelas chuvas e explicou que, “segundo especialistas, tragédias desse tipo se devem, além das fortes chuvas, à topografia e à existência de grandes bairros com moradias precárias, muitas delas construídas ilegalmente, em áreas de risco acentuado”. O China Daily publicou uma reportagem explicando que o presidente chinês, Xi Jinping, havia entrado em contato com Jair Bolsonaro para se solidarizar pelas mortes causadas pelas chuvas. 

* Daniel Buarque é editor-executivo do Interesse Nacional, pesquisador no programa de doutorado em Relações Internacionais do Brazil Institute do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. É jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor do livro “Brazil, um país do presente” (Alameda).

Fabiana Mariutti é pesquisadora doutora e consultora sobre gestão de marca de lugar e negócios internacionais; pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração com Bacharel em Comunicação Social. Estuda a marca Brasil desde 2010.