João Fonseca – Um fenômeno ou um tenista comum?
É inegável que o início é promissor, mas ainda é cedo para se ter certeza se o brasileiro vai se firmar como um tenista acima média, fazer parte daquele seleto grupo de jogadores que vencem algum Grand Slam e aparecem entre os dez melhores do ranking

Quando João Fonseca conquistou em 2024 o título do Next Gen ATP Finals, torneio reunindo os oito melhores tenistas sub-21 no ano, logo a imprensa o alçou como nova sensação do tênis.
Mesmo tenistas e ex-tenistas chamaram o brasileiro de fenômeno e o colocaram como uma futura estrela do tênis. “Com certeza, ele será um dos principais nomes do tênis mundial nos próximos anos”, disse o ex-tenista francês Paul-Henri Mathieu, que chegou a figurar entre os 15 melhores do ranking em 2008.
Fonseca estreou em torneios da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) em 2023, no Rio Open, aos 16 anos. No ano seguinte, voltou a disputar a competição e chamou atenção ao chegar até as quartas de final.
E o sucesso em 2024 culminou com o título do Next Gen ATP Finals, que foi disputado em dezembro na Arábia Saudita. O início de 2025 foi ainda mais promissor. Após passar pelo qualifying do Aberto da Austrália, primeiro Grand Slam do ano, Fonseca venceu o russo Andrey Rublev, cabeça de chave número nove, na primeira rodada.
‘O brasileiro chegou a ser apontado com um dos favoritos ao título do primeiro Grand Slam da temporada. A euforia, porém, deu lugar à tristeza na segunda rodada’
Após a vitória contra Rublev, o brasileiro chegou a ser apontado com um dos favoritos ao título do primeiro Grand Slam da temporada. A euforia, porém, deu lugar à tristeza na segunda rodada. Fonseca perdeu para o italiano Lorenzo Sonego por 3 sets a 2 e disse adeus ao Aberto da Austrália.
“Obviamente, foi dura a derrota de hoje, mas tiro como aprendizado: exigiu experiência e físico. Foi meu primeiro jogo de realmente cinco sets, então estou feliz de ter aguentado fisicamente”, disse Fonseca, após a derrota para Sonego.
‘Apesar do fim da sequência de 14 vitórias, o brasileiro seguiu em alto nível’
Apesar do fim da sequência de 14 vitórias, o brasileiro seguiu em alto nível e, em fevereiro, conquistou o principal título de sua breve carreira, o ATP 250 de Buenos Aires. O título na Argentina o colocou como estrela do Brasil Open, ainda em fevereiro, mas Fonseca acabou caindo logo estreia contra o francês Alexandre Muller.
Depois do fracasso no Brasil Open, no Rio, Fonseca disputou o Masters Series de Indian Wells (EUA), em março. Derrotou na estreia o britânico Jacob Fearnle, mas acabou eliminado na segunda rodada por outro britânico, Jack Draper.
Ainda nos EUA, ele foi campeão do Challenger de Phoenix, torneio de menor pontuação para o ranking, e participou do Miami Open, competição Masters Series. Ele chegou à terceira rodada do Miami Open, sendo eliminado pelo australiano Alex de Minaur.
‘Depois de três eventos nos EUA, Fonseca participou de torneios na Europa, já de olho em Roland Garros, segundo Grand Slam do ano’
Depois de três eventos nos EUA, Fonseca participou de torneios na Europa, já de olho em Roland Garros, segundo Grand Slam do ano. Antes do saibro francês, ele caiu na segunda rodada no Torneio de Madri (Espanha), diante do americano Tommy Paul, e nas estreias no Torneio de Estoril (Portugal), contra o holandês Jesper de Jong, e no Masters Series de Roma (Itália), diante do húngaro Fabian Marozsan.
O momento mais esperado, a participação em Roland Garros, aconteceu em 27 de maio. E não poderia ser melhor. Em sua estreia no segundo Grand Slam do ano, o brasileiro bateu o polonês Hubert Hurkacz, número 28 do mundo, por 3 sets a 0. Na segunda rodada, nova vitória por 3 sets a 0, agora contra o francês Pierre-Hugues Herbert. No entanto Fonseca não resistiu ao número 5 do mundo, o britânico Jack Draper, e acabou eliminado na terceira rodada do Grand Slam francês.
“Seguimos aprendendo e trabalhando, é só o começo. Obrigado pela experiência inesquecível e até breve, Roland Garros”, escreveu Fonseca, após a derrota por 3 sets a 0 para Draper, que também havia eliminado o brasileiro no Masters Series de Indian Wells.
Mas afinal é possível cravar que o brasileiro vai se transformar em um dos grandes nomes do tênis nos próximos anos?
‘É inegável que o início é promissor, mas ainda é cedo para se ter certeza se o brasileiro vai se firmar como um tenista acima média’
É inegável que o início é promissor, mas ainda é cedo para se ter certeza se o brasileiro vai se firmar como um tenista acima média, fazer parte daquele seleto grupo de jogadores que vencem algum Grand Slam, que reúne os quatro principais torneios do mundo (Aberto da Austrália, Roland Garros, Wimbledon e Aberto dos EUA), e aparecem entre os dez melhores do ranking.
As estatísticas mostram que tenistas que se firmam como destaques do circuito profissional costumam ganhar seu primeiro Grand Slam antes dos 23 anos. O brasileiro Gustavo Kuerten, tricampeão de Roland Garros, é um exemplo disso. Guga ganhou seu primeiro Grand Slam francês em 1997, aos 20 anos.
‘Maior vencedor de Grand Slams, o sérvio Novak Djokovic, conquistou o seu primeiro aos 20 anos; o espanhol Rafael Nadal, aos 19 anos; e o suíço Roger Federer, aos 21 anos’
Isso também fica claro se analisarmos a carreira de outros tenistas que já foram número um do ano. Maior vencedor de Grand Slams, o sérvio Novak Djokovic, conquistou o seu primeiro aos 20 anos; o espanhol Rafael Nadal, aos 19 anos; e o suíço Roger Federer, aos 21 anos. Os três são os maiores vencedores de torneios Grand Slam. Djokovic soma 24 títulos, contra 22 de Nadal e 20 de Federer.
No masculino, até hoje, o mais jovem a ser campeão de um Grand Slam foi o americano Michael Chang, aos 17 anos e 109 dias, em 1989, em Roland Garros. Ele supera por dias de diferença o alemão Boris Becker, campeão aos 17 anos e 228 dias em Wimbledon, em 1985, e o sueco Mats Wilander, campeão aos 17 anos e 293 dias em Roland Garros, em 1982.
É claro que há exemplos de tenistas que alcançaram seu primeiro Grand Slam após os 23 anos, mas as estatísticas mostram que quem consegue o feito antes dos 23 anos acaba se firmando entre os melhores do mundo por bastante tempo.
No momento, o líder do ranking da ATP é o italiano Jannik Sinner, seguido pelo espanhol Carlos Alcaraz. Os dois, por sinal, conquistaram o primeiro Grand Slam antes dos 23 anos. Sinner tinha 22 anos quando ganhou seu primeiro, o Aberto da Austrália, em 2024. Alcaraz tinha 19 anos quando venceu o Aberto dos EUA, em 2022.
André Luís Nery é colunista da Interesse Nacional, jornalista, mestre e doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (Prolam-USP)
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