12 junho 2025

O Brasil precisa de um letramento climático

Discussões, concordâncias e discordâncias que deverão caracterizar a COP30 serão mais um importante passo no debate cada vez mais urgente sobre a questão climática no mundo

Visita de comitiva da ONU a Belém em preparação para a COP30 (Foto: Divulgação)

Por Luiz Roberto Serrano*

Brasil precisa de um letramento climático.
Não há direitos climáticos sem direitos humanos.

(Marcus Vinicius Athayde – Central Única das Favelas)

Exploração predatória do Amazonas só a vê como fonte de lucro.
É necessário mudar o panorama que se apresenta para a região.
Estamos diante de um aumento da temperatura que pode chegar a 4ºC e 5ºC e dizimar parte da floresta e os povos.
Precisamos construir uma nova sociedade, não temos outra alternativa.

(Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP e diretor do Centro de Estudos Sustentáveis da Amazônia)

São algumas das mensagens do evento realizado no último dia 5 de junho, na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin da USP, Capítulo da Universidade de São Paulo da Cúpula Global do Clima – Rumo à COP30, iniciativa que faz parte da Right Here, Right Now Global Clima Summit, coordenada pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos em parceria com a Universidade de Oxford e a International Universities Climate Alliance.

Uma plateia repleta de jovens estudantes ouviu representantes de inúmeras entidades que elaboram questões referentes à crise climática em todo o País refletindo e se pronunciando sobre os desafios de preservação que, pressupõe-se, deverão ser discutidos na COP30, que será realizada, ainda este ano, em Belém do Pará.

Na abertura do evento, a vice-reitora da USP, Maria Arminda do Nascimento Arruda, lembrou que a Universidade discutiu e elencou contribuições para o evento na edição de 2024 do USP Pensa Brasil, cujo tema foi COP30: Desafios para o Brasil. “A USP tem pesquisas avançadas na área, trata-se de um tema caro à nossa Universidade”, enfatizou. “E o Brasil exerce papel de liderança na agenda do meio ambiente”, destacou.

O espectro das discussões do evento foi amplo. Dan Ioschpe, nomeado pelo governo brasileiro como High Level Champion da COP30, deixou uma pergunta importante: “Qual o papel do setor empresarial na questão climática?”, lembrando, em seguida “que não há lugar no mundo que tenha tantas soluções para o desafio”. Para Rafael Benke, da Proactiva, estamos diante de uma crise antropogênica, que precisa ser encarada como tal. Como lembrou Telma Krug, do Centro Brasileiro de Justiça Climática, é preciso acelerar a contabilização das perdas e danos provocadas por crise climática considerando que a temperatura média global está em crescimento. Mauricio Terena, da Apib – Articulação de Povos Indígenas do Brasil, cuja principal luta é a demarcação de terras dos povos originários, foi incisivo: “Precisamos preservar as florestas”, reivindicação que “não é só para os indígenas, é para todos”.

Todas essas questões e várias outras que também foram apresentadas no evento estarão presentes, de uma forma ou de outra, na COP30. Infelizmente, como foi lembrado no evento, o governo dos EUA, atualmente o país mais poluidor do mundo, já deu sinais de que não estará presente em Belém. Assim que voltou à Casa Branca, em janeiro passado, o presidente Donald Trump retirou o governo norte-americano do Acordo de Paris, o tratado internacional sobre mudanças climáticas.

Gesto sobre o qual o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, fez ressalvas em recente entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura: “Quem está saindo do Acordo de Paris é o governo americano, não os Estados Unidos”, disse ele. E acrescentou: “Os Estados Unidos são essenciais por causa de tecnologia, por causa de ciência, de instituições que também estão sendo desafiadas. Mas a realidade é que vamos poder trabalhar com vários lados, várias dimensões dos Estados Unidos, que têm sido realmente muito positivas quanto ao fato de que uma gestão de quatro anos não seria suficiente para interromper vários investimentos pensando em prazos muito maiores”.

Resta saber se Trump fará pressão para desestimular as empresas e instituições norte-americanas que se dispuserem a estar presentes na COP30, seguindo o padrão de confronto que tem adotado em várias frentes da sociedade norte-americana.

Independentemente dessa ausência ou presença, o certo é que discussões, concordâncias e discordâncias que deverão caracterizar a COP30 serão mais um importante passo no debate cada vez mais urgente sobre a questão climática no mundo.


Por Luiz Roberto Serrano, jornalista e coordenador editorial da Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP

Este texto é uma reprodução autorizada de conteúdo do Jornal da USP - https://jornal.usp.br/

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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