O difícil equilíbrio do governo entre aumento da receita e corte de gastos
Segundo Luciano Nakabashi, o governo tem priorizado, em suas propostas, o aumento da receita, com elevação dos impostos, o que produz insatisfação social

Por Luciano Nakabashi*
O professor Luciano Nakabashi fala sobre a proposta do governo de aumento da carga tributária. Tudo se resume, segundo ele, em ajustar o orçamento, que pode ser o resultado de três ações: aumento da receita, redução dos gastos ou uma combinação de ambos.
O problema é que o governo tem dado prioridade ao aumento da receita, uma manobra que vem provocando insatisfação na sociedade e refletida na posição do Congresso, que se recusa a aceitar um aumento de impostos.
“Hoje isso é muito negativo do ponto de vista do capital político. A população, de uma forma geral, não quer mais carga tributária. A carga tributária no Brasil já é bastante elevada. Então, eu acho que é um sinal ruim por parte do governo, e que era previsível, que ia ter que em algum momento aumentar a carga tributária e é provável que tenha que aumentar logo, mas a gente acaba vendo que não é a melhor forma, porque a população não quer, e esse vai e volta acaba ficando ruim para o governo também.”
O colunista defende uma agenda de reformas estruturais de redução de gasto, “porque o aumento de gasto tem sido estrutural. Você tem um componente estrutural muito forte, uma boa parte dos gastos é ligada diretamente à receita, são vinculados, não? Aumenta a receita, você tem que aumentar o gasto, por exemplo, para saúde e educação e o envelhecimento da população, onde existe uma pressão muito forte para o aumento de gasto em saúde e com a questão da Previdência.
Precisa de uma agenda de reformas, de desvincular gastos da receita do governo, precisa – já deveria estar sendo discutida – uma nova reforma da Previdência, isso não tem muita escapatória, não? A gente vai ter que aumentar a idade de aposentadoria, aumentar a contribuição ou reduzir o pagamento de aposentadorias, o valor, ou uma combinação dessas três coisas.
Contabilmente, vai ter que fazer isso […] Então você tem que ter uma agenda de redução estrutural dos gastos, de redução de privilégios: redução de privilégios na aposentadoria, redução de privilégios de determinados setores que pagam menos impostos. E os próprios parlamentares poderiam ajudar, reduzindo o valor das emendas parlamentares, mostrar também que eles estão dispostos a ajudar nesse processo, abrindo mão, porque é fácil querer que se corte gasto, mas não o meu.
Esse tem sido o problema de cortar gastos na sociedade brasileira. Cada setor da sociedade jogando para outro. Existe um certo consenso que tem essa necessidade de redução de gastos, mas ninguém quer que corte na sua parte”.
*Luciano Nakabashi é professor do Departamento de Economia da FEA-RP/USP
Este texto é uma reprodução autorizada de conteúdo do Jornal da USP - https://jornal.usp.br/
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