PSDB: Problemas Que Afligem a Legenda
Entrevista de Arnaldo Madeira à Folha de S.Paulo
Os editores da Interesse Nacional optaram por reproduzir a entrevista concedida à Folha de S.Paulo pelo ex-deputado federal pelo PSDB, Arnaldo Madeira, porque mostra de forma sintética e direta os diversos aspectos dos dilemas de um partido. As dificuldades de articulação interna para a escolha do candidato à Prefeitura de São Paulo estão claramente expostas e mostram como a segmentação em diferentes alas foi agravada pela realização de prévias para a escolha do candidato partidário.
Devidamente autorizada pela Folha de S.Paulo, a reprodução da entrevista concedida a Thais Arbex permite ao leitor entender as contradições e as divisões internas do principal partido de oposição ao governo do PT.
Fundador do PSDB acusa Alckmin de usar máquina para favorecer Doria
Folha de S.Paulo De São Paulo – Thais Arbex 02/03/2016
Fundador do PSDB e coordenador do programa da campanha presidencial de Aécio Neves em 2014, o ex-deputado Arnaldo Madeira acusa o governador Geraldo Alckmin de usar a máquina do governo paulista para favorecer a candidatura do empresário João Doria na disputa interna do partido pela Prefeitura de São Paulo. Segundo Madeira, que apoia a pré-campanha do vereador Andrea Matarazzo nas prévias, “o governador que joga pesado para favorecer esse candidato [Doria] é o mesmo que está escondendo dados do governo”.
“Ele esconde dados da Sabesp, do Metrô, não diz os dados de segurança de forma adequada. Alckmin está claramente em um caminhar para um certo tipo de autoritarismo que contraria a história do PSDB”, afirmou à Folha. Madeira diz ainda ter ouvido relatos de ameaças a funcionários do governo, filiados ao PSDB, que não votassem a favor do candidato do governador. “O governador está se afastando de um comportamento histórico do PSDB para ter um comportamento autoritário, de uso da máquina. Ele não aceita a crítica e não gosta de quem pensa diferente dele”.
“Procurada, a assessoria de Alckmin disse: “Nós duvidamos que Arnaldo Madeira, ex-secretário da Casa Civil do governador Alckmin, tenha feito esse tipo de declaração”. A entrevista com Madeira foi gravada”.
Folha – Qual é a sua avaliação das prévias?
Arnaldo Madeira – Essas prévias mostraram um acontecimento que eu jamais vi no PSDB, que foi o uso da máquina do Estado para favorecer uma candidatura, uma candidatura que tinha muito recurso, mas que não tinha o que dizer sobre a cidade. Enquanto Andrea [Matarazzo], que eu acompanhei de perto, fazia reuniões temáticas, duas, três vezes por semana, discutindo com técnicos os problemas da cidade, a outra candidatura se preocupou em oferecer vantagens a militantes para que eles comparecessem na votação. Foi isso o que aconteceu. E eu tenho muito contato com pessoas que estão na máquina do Estado, em diferentes áreas, e o que me falaram é das ameaças a quem não votasse a favor do candidato do governador. O uso da máquina do Estado e o oferecimento de recursos foram [feitos] de uma maneira que eu jamais vi.
Como o sr. avalia a declaração de que é ridícula a tentativa de impugnação da candidatura do empresário JoãoDoria?
Ele pode achar também que é ridículo o movimento que o PSDB está fazendo em relação ao governo federal, porque o que se fez aqui em São Paulo é a mesma coisa que a presidente Dilma fez em nível federal. Isso ele não acha ridículo?
Pode-se dizer que o governador está em descompasso com 0 partido?
Acho que ele está em descompasso com a realidade. Há um equívoco dos partidários do governador de dizer que a eleição da prefeitura é a plataforma para a eleição presidencial. Isso é um completo equívoco. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. A eleição presidencial é uma eleição que se organiza e se articula em torno das questões nacionais e da política nacional. A Prefeitura de São Paulo não tem nenhum impacto para eleição federal.
Nenhum impacto?
Nenhum. Impacto zero. Tanto que você vê que boa parte dos presidentes foram eleitos sem ter a Prefeitura de São Paulo. Essa avaliação é um enorme equívoco. Eu não sei se ele está se preparando para sair do partido ou se está se preparando para que o partido tenha vários dissidentes contra ele. Este comportamento, para mim, esclarece muito porque ele foi o único candidato a presidente que teve mais votos no primeiro turno do que no segundo turno. A votação dele no segundo turno caiu em relação ao primeiro. Ou seja, é absoluta inaptidão para fazer avaliações sobre a questão nacional. Ele não tem aptidão para isso.
O governador também afirmou que o partido não está acostumado com o processo de prévias, dizendo que as decisões são tomadas “em restaurante, com mesa de vinho importado”.
É uma agressão gratuita. O PSDB sempre fez convenções, sempre teve acordos. Ele participou dessas convenções, dessas decisões. Ele deveria ter feito essa crítica lá atrás. Agora, prévia com o uso da máquina como está sendo feito é uma coisa jamais vista. Sobre isso ele não tem o que falar?
O senhor acredita que esse racha marca o começo do fim do PSDB?
Não acho que seja o começo do fim. O PSDB é muito forte nacionalmente e tem um núcleo aqui em São Paulo muito forte. Agora, o cidadão que é governador de um estado é também líder do partido. Ao invés de fazer o papel de articulador para unificar o partido, ele resolveu jogar fogo no combustível. É isso que ele está fazendo. O governador está se afastando de um comportamento histórico do PSDB para ter um comportamento de uso da máquina, um comportamento autoritário. Ele não aceita a crítica a ele, à liderança dele. Temos um candidato que tem o apoio de toda a bancada de vereadores, dos dois senadores de São Paulo e de cinco deputados estaduais da capital, de toda área política da capital, e ele vai e diz que quer um candidato da iniciativa privada, o novo etc.? Ele está, inclusive, manifestando-se contra ele mesmo, que é um homem só da política.
Ele quer pôr um empresário que tem dinheiro, que compra voto. Essa é a renovação dele? Acho que há um equívoco muito grande do governador e tenho a impressão de que ele atravessou o Rubicão em relação ao PSDB, lembrando a velha história do Júlio César. Ele está fazendo acusações pesadas contra pessoas que estão na história do PSDB e se alinhando com um sujeito que não tem nenhuma história com o PSDB. História zero.
O senhor acredita que o vereador Andrea Matarazzo possa sair do PSDB?
Não, não estou discutindo isso. Acho que agora temos um momento de conversa com as pessoas que estão à frente do processo: o Andrea, o Tripoli, o José Aníbal, o Bruno Covas. Essas pessoas estão conversando e conversando com os aliados que permitiram a votação que, mesmo com tudo isso, o Andrea teve. O Andrea é um prêmio para São Paulo. Não tem nenhum partido que tenha uma pessoa com vinculação e identidade com a cidade de São Paulo como ele tem. Ele seria o candidato mais natural. Lá atrás, o governador saiu falando com cada um deles, incentivando suas candidaturas, dizendo que não influenciaria no processo, que quem o partido escolhesse ele apoiaria. De repente, ele adota um candidato, contradizendo tudo o que ele disse anteriormente. E mais: joga pesado para favorecer esse candidato. O governador não percebe isso? Há claramente um movimento do governador no sentido de construir uma liderança despótica. Ou seja, uma liderança que tem que ser obedecida. Se não for obedecida, ele questiona e ameaça seus subordinados. É isso que está acontecendo. E é o mesmo governador que está escondendo dados. Esconde dados da Sabesp, do Metrô, não diz os dados da segurança de forma adequada. Ele está claramente em um caminhar para um certo tipo de autoritarismo, contrariando a história do PSDB.
Acho que o governador não está gostando de gente que pensa diferente dele, o que é um equívoco. Um governador de um partido democrático tem que ter esse diálogo. Ele está agindo de maneira contrária ao “eu gosto dos que me criticam porque me corrigem”, adotou o “eu gosto dos que me adulam porque me engrandecem e detesto os que me criticam porque me jogam para baixo”.
Formado em Sociologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e com pós-graduação em "Sociologia do desenvolvimento" pela USP em 1965 e pós-graduação em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV) em 1968.
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