A chegada de 2016 instiga a refletir sobre a trajetória de continuidade da política econômica do segundo governo da presidente Dilma (2015 – 2018). Estaria mais para uma espécie de governo “à la” E. Dutra (1946 – 1951), que antecederia uma nova volta de Lula (como no caso de G. Vargas nas eleições de 1950); ou de segundo mandato do governo FHC (1999 – 2002), que mudou o curso original da política econômica do Plano Real 1 (1994 – 1998) e perdeu a eleição presidencial seguinte (2002) para a oposição; ou, ainda, de governos eleitos, mas que não concluíram seus mandatos (G. Vargas em 1954, J. Quadros em 1961 e J. Goulart em 1964)?
Não é a primeira vez na história da esquerda que a origem e o crescimento da crise de seus partidos estão no tratamento errado do erro. Quem não reconhece o erro não vive a dificuldade moral da sua atitude e se condena a repeti-la. Porque erro não se melhora. Erro, para que a vida não seja desperdiçada, deve ser abolido. Especialmente em países como o nosso, onde a democracia ainda não exige dos agentes públicos um piso institucional básico impossível de ser ultrapassado.
De lá para cá, aquelas duas experiências de mudança, que impactaram o século passado e guiaram as lutas proletárias sucumbiram. A social democracia pendeu para o liberalismo econômico, sem deixar de ser politicamente democrática; e o comunismo histórico – como o designava Bobbio – nos países que estavam sob seu domínio, foi destituído por “revoluções liberais”.
Um dos expoentes da corrente desenvolvimentista no governo fhc, ao lado de Sérgio Motta e José Serra, revive momentos daquele debate na vida econômica do país e explicita o conflito com a ortodoxia liberal, ou monetarismo, identificado à época com a figura do ministro da Fazenda, Pedro Malan. Mendonça de Barros compara o desenvolvimentismo do governo fhc com o do governo Lula. “Interessava ao presidente Lula insistir na sua existência, pois de certa forma o desenvolvimentismo deixava de ser uma criação tucana e passava também a ser a nova expressão do lulismo na economia. O resultado desta manobra foi o de ampliar o conceito associado ao tal desenvolvimentismo, tornando-o ainda mais confuso e heterogêneo”. 43 Os Juros Altos e a Cultura da Indexação
A hipótese principal do autor é que o corporativismo e o populismo bloquearam a expansão do socialismo e do comunismo no Brasil. “Certamente, o marxismo influenciou fortemente a cultura política nacional, mas os partidos socialistas e comunistas, como organização, tiveram mais influência na intelligentsia de classe média ou de classe alta do que nas classes operárias e populares. Mas essas mesmas estruturas ajudaram a ascensão do pt, o único partido considerado de esquerda que conseguiu ter êxito eleitoral e controlar altos postos da administração pública municipal, estadual e federal.”