17 novembro 2017

4a Revolução Industrial: Impactos no Emprego e na Educação

A cada Revolução industrial corresponde uma mudança tecnológica de alto impacto, com consequências profundas no paradigma produtivo, na geografia econômica internacional, na forma de organização das economias e, consequentemente, no emprego.
As 1a e 2a Revoluções foram largamente estudadas e, obviamente, decorridos mais de dois séculos, seus impactos foram compreendidos e absorvidos.

A cada Revolução industrial corresponde uma mudança tecnológica de alto impacto, com consequências profundas no paradigma produtivo, na geografia econômica internacional, na forma de organização das economias e, consequentemente, no emprego.
As 1a e 2a Revoluções foram largamente estudadas e, obviamente, decorridos mais de dois séculos, seus impactos foram compreendidos e absorvidos.
A 1a Revolução, associada à criação da máquina à vapor, em 1784, permitiu o surgimento das indústrias com produção mecânica. A 2a Revolução, associada à descoberta da eletricidade, em 1870, permitiu a produção em massa com a divisão do trabalho.
A 3a Revolução, muito mais recente, data de finais dos anos 1960, início dos anos 1970. É associada ao desenvolvimento da eletrônica digital e à chamada “tecnologia da informação”, que permitiram a automação da produção. Seus impactos ainda não foram totalmente absorvidos e muito menos compreendidos. Não só porque é muito mais recente, mas também porque está sendo atropelada pela 4a Revolução industrial, que vem se impondo com uma velocidade surpreendente.
A 3a Revolução tinha como uma de suas características a aceleração dos ciclos de inovação e de absorção das novas tecnologias: enquanto o telefone fixo demorou 75 anos para alcançar 50 milhões de usuários, o rádio levou 38 anos, a TV, 13 anos, a internet, três anos, o Facebook, apenas um ano, e o jogo Angry Birds, incríveis 35 dias.
Mas, muito além da aceleração da velocidade do desenvolvimento e da difusão de novas tecnologias, a 3a Revolução Industrial dá início ao que passou a ser chamado de “Economia do Conhecimento”. Uma economia na qual a geração do valor é crescentemente determinada pelo investimento em ativos baseados no conhecimento ou intangíveis – Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), design, software, capital humano e organizacional, marcas (brand equity) – e pelos investimentos das manufaturas em ativos físicos (fábricas e máquinas).
É um novo cenário, no qual o setor de serviços passa a ocupar papel radicalmente diferente, respondendo por até 55% do valor dos produtos. As fronteiras convencionais entre serviços e manufatura se esfumaçam, integrando-se com a incorporação de serviços de alto valor agregado nos processos produtivos.
Também a divisão entre “alta” ou “baixa” tecnologia se torna obsoleta, na medida em que indústrias consideradas low tech são altamente afetadas pela mudança para uma economia do conhecimento, na qual gastos em ativos de conhecimentos não científicos são tão críticos quanto gastos em P&D.
O papel da inovação não tecnológica passa a ter relevância com as manufaturas modernas, investindo pesadamente em intangíveis baseados no conhecimento que passam a gerar um maior número de empregos de maior qualificação.
Atualmente, nos EUA, mais de 34% dos empregos na indústria são em atividades do setor de serviços, tais como: P&D, propaganda, vendas e suporte aos consumidores, telecomunicações, provedores de logística e tecnologias, bancos etc.
O impacto no emprego foi brutal: 22 milhões de empregos em fábricas desapareceram no mundo entre 1995 e 2002. Apenas 20% devido à realocação de empregos do setor trabalho-intensivo para outros países de mão de obra barata (China, em especial). O restante se deveu aos ganhos de produtividade decorrentes da automação, inovações tecnológicas e organizacionais.
Surge um novo paradigma produtivo, com novas fontes de geração de valor, e uma nova geografia econômica internacional, com a manufatura migrando para a Ásia. Muda também o perfil do emprego: 30% dos empregos atuais não existiam dez anos atrás (1 bilhão!).
Consequentemente, mudam as estratégias de crescimento dos países e impõe-se a necessidade de repensar a formação da mão de obra necessária para o novo paradigma produtivo.
Países como o Brasil, por exemplo, nos quais a questão da educação ficou abandonada por décadas, começam a se organizar para recuperar um tempo perdido. A formação de uma mão de obra mais qualificada entra na pauta e vislumbra-se o início de uma mobilização para transformar um sistema educacional precário em algo mais útil para as novas necessidades do mercado de trabalho.
Entretanto, a 4a Revolução Industrial atropela este processo e surpreende, impondo novas e mais complexas demandas para o mercado de trabalho.
Para entender que demandas são estas e quais as necessidades de ajustes nos sistemas educacionais é preciso aprofundar a compreensão dos processos que estão sendo engendrados pela 4° Revolução Industrial.
Além da velocidade e intensidade das transformações, a 4° Revolução Industrial pode ser caracterizada por uma fusão de tecnologias biológicas, físicas e digitais. Em sua escala, escopo e complexidade, a transformação será diferente de tudo o que a humanidade tenha experimentado antes.
Graças à extraordinária aceleração na tecnologia da computação, estamos assistindo a um tremendo progresso nos desenhos de software e nas ferramentas que fazem os programas serem mais produtivos. Como resultado, a tecnologia vem transformando a forma de ser fazer negócios e reduzindo dramaticamente a necessidade de empregados para realizar vários dos trabalhos de rotina que sempre foram essenciais para a operação dos negócios.
Essa fase promete uma produção mais inteligente, em que todos os processos de decisão das fábricas serão tomados pelas próprias máquinas, com base em informações fornecidas de dentro do sistema de manufatura em tempo real. Como decorrência, assistiremos a uma mudança fundamental na relação entre trabalhadores e máquinas.
Uma das premissas básicas sobre tecnologia vai mudar: a de que máquinas são ferramentas para elevar a produtividade dos trabalhadores. Agora as máquinas estão se tonando trabalhadores.
Os impactos no mercado de trabalho e na economia geral serão de tal magnitude que desafiarão a sabedoria convencional sobre como a tecnologia e a economia se entrelaçam.
A crença baseada nas comparações com as primeiras revoluções industriais de que a tecnologia vai ameaçar apenas trabalhadores com baixa educação e lower skill levels será desmistificada pela constatação de que as novas tecnologias ameaçam também os empregos de “colarinho branco”. Mais educação e conhecimento não necessariamente serão proteção contra automação do trabalho no futuro: por exemplo, radiologistas e médicos especializados na interpretação de imagens médicas em breve serão substituídos por máquinas.
Computadores estão ficando muito proficientes em adquirir habilidades, especialmente quando uma grande quantidade de dados está à disposição. Estudos recentes preveem que 47% dos empregos nos EUA vão acabar nos próximos 20 anos.
A boa notícia é que os mesmos estudos preveem que daqui a oito anos, 65% das crianças de hoje irão trabalhar em empregos que ainda não existem. Mas que empregos? Com que tipo de conhecimento e formação? Este é o desafio: preparar a estrutura educacional para empregos que ainda não existem, mas que obviamente requererão uma formação muito mais sofisticada e desafiadora, em todos os níveis.


Lidia Goldenstein é economista formada pela USP e doutora pela Unicamp. Exerceu o cargo de assessora econômica da Secretaria de Economia e Planejamento do Estado do Rio de Janeiro e da Secretaria de Planejamento do Estado de São Paulo. Foi assessora da presidência do BNDES, analista do Seade, pesquisadora do Cebrap e comentarista de economia em programas de televisão, como na TV Cultura e TV Manchete. Comprometida com a geração de conhecimento, foi professora da Unicamp, do Programa de Formação e Aperfeiçoamento da Carreira de Diplomata do Instituto Rio Branco do Itamaraty, em Brasília, da Escola São Paulo e da FGV. Especialista em economia brasileira, publicou inúmeros artigos e pesquisas sobre questões político-econômicas brasileiras. É autora do livro “Repensando a dependência” (1994). Nos últimos anos, vem se dedicando ao estudo da economia criativa e seus impactos na economia brasileira, o que inclui consultorias em estudos, mapeamentos e propostas de políticas públicas para a Fundap, a Fundação Vanzoline e para os governos do estado e da cidade de São Paulo. Suas palestras versam sobre temas como, perspectivas da economia brasileira, economia brasileira e os desafios da globalização, cenário macroeconômico atual e perspectivas para a economia brasileira, economia criativa, cidades globais, manufatura 4.0: a nova Revolução Industrial, economia do conhecimento: os novos desafios do Séc. XXI. Atualmente, é vice-presidente da Bienal de São Paulo, e participa dos seguintes Conselhos: Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Desenvolve SP - Agência de Fomento do Estado de São Paulo, Conselho Superior de Comércio Exterior - Coscex, da Fiesp.

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