Daniel Buarque: Estudo aponta que diplomacia ambiental foi base da ‘volta’ do Brasil ao cenário global
Artigo acadêmico se debruçou sobre os cem primeiros dias da política externa do novo governo e indica que a agenda ambiental se tornou o pivô dessa nova diplomacia. Pesquisa diz ainda que a posição de equidistância em relação à guerra na Ucrânia é a mais adequada para perseguir os interesses nacionais
Artigo acadêmico se debruçou sobre os cem primeiros dias da política externa do novo governo e indica que a agenda ambiental se tornou o pivô dessa nova diplomacia. Pesquisa diz ainda que a posição de equidistância em relação à guerra na Ucrânia é a mais adequada para perseguir os interesses nacionais
Por Daniel Buarque*
O anúncio feito por Luiz Inácio Lula da Silva logo após a sua vitória na eleição presidencial em 2022 foi que o Brasil estava voltando ao cenário global. Ao longo de todo o seu primeiro ano de governo, a tentativa de reconstruir espaços para um protagonismo internacional do país esteve sempre em evidência. Mas os resultados dessa estratégia até agora ainda são pouco nítidos, com pouco consenso entre acadêmicos e analistas que publicam em tempo real na imprensa e em redes sociais.
Neste contexto, uma primeira pesquisa formal acaba de ser publicada com uma avaliação dos primeiros cem dias da política externa de Lula em defesa da “volta” do Brasil. A avaliação faz parte do artigo O Brasil está de volta: credibilidade e protagonismo na política externa de Lula da Silva , escrito pelo professor Luciano da Rosa Muñoz, da Universidade de Brasília, e publicado pela revista acadêmica Conjuntura Austral.
O trabalho foca especialmente a atuação brasileira em relação à diplomacia ambiental e à postura do país em relação à guerra na Ucrânia durante os primeiros meses do governo. E argumenta que a agenda ambiental se tornou o pivô dessa nova política externa de Lula, e que isso ocorreu por conta da necessidade de se implementar uma nova renovação de credenciais para o Brasil. “Era preciso restaurar a credibilidade do país após os desencontros do governo anterior com o regime internacional de meio ambiente”, diz.
Ainda assim, o texto defende que o protagonismo do Brasil nessa agenda “depende de sua capacidade de repensar a liderança na América do Sul nos termos da cooperação ambiental, assim como do combate às mudanças climáticas em seu próprio território, o que pode ser prejudicado se projetos de investimento em combustíveis fósseis forem levados adiante”.
Sobre o conflito na Ucrânia, alega que a posição brasileira de equidistância “é a mais adequada para perseguir os interesses nacionais definidos nos termos do desenvolvimento” e que esta postura está enraizada não apenas nas tradições diplomáticas, mas também está em linha com o princípio da não-intervenção.
Segundo o trabalho, entretanto, a proposta de Lula de um “clube da paz” poderia até mesmo prejudicar essa tentativa de manter a equidistância, caso o presidente não consiga evitar expor contradições em seus pronunciamentos.
A pesquisa foi desenvolvida usando o método histórico baseado em conceitos brasileiros em relações internacionais como autonomia e equidistância pragmática. Ela busca explicar eventos atuais por meio de estruturas históricas da política externa brasileira dos anos 1930, 1960 e 2000.
*Daniel Buarque é colunista e editor-executivo do portal Interesse Nacional, pesquisador no pós-doutorado do Instituto de Relações Internacionais da USP (IRI/USP), doutor em relações internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. Jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor de livros como Brazil’s international status and recognition as an emerging power: inconsistencies and complexities (Palgrave Macmillan), Brazil, um país do presente (Alameda Editorial) e O Brazil é um país sério? (Pioneira).
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Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional
Editor-executivo do portal Interesse Nacional. Jornalista e doutor em Relações Internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. Mestre pelo KCL e autor dos livros Brazil’s international status and recognition as an emerging power: inconsistencies and complexities (Palgrave Macmillan), Brazil, um país do presente (Alameda Editorial), O Brazil é um país sério? (Pioneira) e O Brasil voltou? (Pioneira)
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