O sucesso do G20 no Brasil e as perspectivas do novo governo Trump
2025 promete ser um ano agitado em relação às discussões sobre esta questão climática, que se tornou uma das mais importantes, se não a mais, da agenda mundial nos próximos anos e décadas.
Por Luiz Roberto Serrano*
Alguns movimentos de importância mundial marcam este fim de ano e a aproximação do próximo, 2025.
A reunião do G20 no Rio de Janeiro, durante esta semana, representou um gol de placa para o governo Lula e o competente Itamaraty, que conseguiram costurar uma declaração final ampla e vasta no tratamento de questões que preocupam o mundo no momento, consagrada com a aprovação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, sugerida pelo Brasil, aprovada pelos 82 países presentes ao evento.
Vale ressaltar que, na sequência, um amplo acordo comercial foi assinado em Brasília, numa reunião rica em pompa e circunstância, caracterizada com o importante selo de “visita de Estado”, entre a China e o Brasil, que abriu as portas para exportação de 37 produtos nacionais para o “Império do Meio”. Em 2023, o comércio bilateral entre os dois países bateu o recorde de US$ 157 bilhões.
Foi um acordo importante, que reforça a liderança da China como maior importadora, no mundo, de produtos brasileiros. Mas, nas negociações sobre o tema, o Brasil preservou seu direito de procurar se relacionar bem com a duas maiores potências mundiais – EUA e China –, abstendo-se de aderir à Iniciativa Cinturão e Rota, comandada pelo país asiático, à qual já se juntaram dezenas de nações em todo o mundo. O Brasil, como declarou o presidente Lula, prefere aumentar a “sinergia” no relacionamento entre os dois países, ou seja, aumentar a aproximação, mas sem se comprometer com os vínculos possibilitados pela Iniciativa Cinturão e Rota.
Será em Belém do Pará, no Brasil, também, em novembro de 2025, a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP 30. A 29ª está sendo realizada em Baku, no Azerbaijão, país produtor de petróleo, o que não deixa ser uma contradição…
Mas, até lá, o fator novo que influenciará a COP a ser realizada no Brasil será a presença do presidente Donald Trump na Casa Branca, em Washington. Já são por demais conhecidas as posições hostis do futuro presidente dos EUA ao combate às fontes de poluição que resultam em desastres climáticos, que estão se reproduzindo pelo mundo.
Trump é partidário do aumento da exploração de petróleo nos EUA, no momento em que, apesar dos obstáculos, a discussão sobre sua substituição no campo dos combustíveis, por outros não ou menos poluentes, ganha espaço. Em seus discursos de campanha ganhou destaque a expressão “Drill, drill” (perfure, perfure), constantemente repetida em seus comícios através dos EUA.
E esse poderá ser apenas um dos controvertidos aspectos da administração trumpiana, que vem convidando para seu secretariado (o equivalente ao ministério no Brasil) vários quadros que não têm qualquer vivência com os temas que tratarão de cuidar – o que abre especulações de que poderão adotar políticas inadequadas, se não preconceituosas, em relação aos temas.
Se os Estados Unidos sob a direção do democrata Joe Biden, simpático à adoção de medidas de combate aos desastres climáticos, fizeram muito pouco efetivamente, o descompromisso do novo governo dos EUA com a questão resultará em sensível perda de eficiência, ou desidratação, das políticas que estão sendo propostas pela maioria dos países. Trata-se de uma perspectiva altamente preocupante.
O outro grande ator global, a China, o maior poluidor do mundo, promete atingir o seu pico de produção de carbono até 2030 e a neutralidade até 2060, segundo declarações de Xi Jinping. “Mas o caminho, o método, ritmo e intensidade para atingir esse objetivo devem ser determinados por nós mesmos e nunca serão influenciados por outros”, disse recentemente o mandatário chinês, segundo a agência chinesa Xinhua.
2025 promete ser um ano agitado em relação às discussões sobre esta questão climática, que se tornou uma das mais importantes, se não a mais, da agenda mundial nos próximos anos e décadas.
Mas, além dela, a assunção do governo Trump colocará em risco a atual corrente de comércio internacional, via a elevação das tarifas para as importações de seu país, e colocará em discussão a participação dos EUA na Organização do Tratado do Atlântico Norte – Otan, criada após a Segunda Guerra Mundial para se contrapor à então recém-nascida União Soviética. De quebra, ainda se especula qual será seu apoio a Israel no atual conflito do Oriente Médio e a continuação do apoio ou não à Ucrânia em sua guerra de defesa contra a Rússia.
Frentes de discussões e surpresas não faltarão.
Luiz Roberto Serrano é jornalista e coordenador editorial da Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP
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