14 outubro 2011

A Copa do Mundo é Nossa?

Para começar o jogo, pense nisso: na França, em 1998, o presidente do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo foi Michel Platini, melhor jogador da história do futebol francês até que, naquela Copa, Zinedine Zidane lhe tomasse a coroa. Platini não era o presidente da FFF, a Federação Francesa de Futebol.


Na Alemanha, em 2006, o presidente do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo foi Franz Beckenbauer, o Kaiser, melhor jogador da história do futebol alemão até hoje. Beckenbauer não era o presidente da DFB, a Federação Alemã de Futebol.

No Brasil, para 2014, o presidente do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo é Ricardo Terra Teixeira, que jamais jogou futebol.


Teixeira é também o presidente da CBF, a Confederação Brasileira de Futebol.


A secretária executiva do COL é sua filha, neta de João Havelange; o diretor jurídico é também advogado de Teixeira e o homem de imprensa é o mesmo da CBF.


Para continuar o jogo, ainda no primeiro tempo, lembre-se disso: o estádio do Morumbi, que há 50 anos serve o futebol mundial, palco de decisões da Copa Libertadores da América com as presenças do São Paulo, do Palmeiras e do Santos, além de já ter recebido um sem-número de jogos da Seleção Brasileira, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, e de ter sido sede dos jogos do Corinthians no primeiro Mundial de Clubes da Fifa, foi descartado para receber os jogos da Copa 2014, cinco ou seis no máximo, num evento que dura trinta dias.


Ao se submeter aos caprichos de Teixeira, brigado com a direção do São Paulo FC, dono do Morumbi, três governadores tucanos esqueceram do lema da cidade paulistana – Non ducor, duco (Não sou conduzido, conduzo) – e se submeteram ao despautério de construir um novo estádio numa cidade que tem também o Pacaembu e terá a nova arena do Palmeiras.

Orgia de construção de novos estádios

Em compensação, estão em construção estádios em Cuiabá, em Manaus e em Brasília, onde nem futebol realmente profissional há. Como se ergue outro no Recife, embora a cidade tenha três estádios e seus três donos, o Sport, o Santa Cruz e o Náutico, já tenham anunciado que não cogitam a possibilidade de usar a nova arena. Natal também tenta erguer seu estádio, chamado Arena das Dunas, Sanud ao contrário, e ali pelo fim do jogo voltaremos à alusão aparentemente tão estranha.


É importante frisar que, quando a Copa do Mundo foi realizada nos Estados Unidos, nem sequer um estádio foi erguido para recebê-la, assim como a França, quatro anos depois, construiu apenas um, o Stade de France, em Saint-Denis, nos arredores de Paris.


No Brasil, porém, o Maracanã foi demolido para ser feito outro, embora o lendário santuário do futebol tenha sido reformado para os Jogos Pan-Americanos de 2007.


Do mesmo modo, acontece com o Mineirão, e na São Paulo do Morumbi, do Pacaembu e da nova arena do Palmeiras, ergue-se, em Itaquera, o Fielzão, para o Corinthians.


No Rio de Janeiro, por sinal, existe o mais moderno estádio do país, o Engenhão, inaugurado no Pan e nem cogitado para receber jogos da Copa.


Porto Alegre, Curitiba, Salvador e Fortaleza também estão na festa dos estádios, seja na reforma do Beira-Rio, na ampliação da Arena da Baixada ou da reconstrução da Fonte Nova e do Castelão.
Enquanto isso os aeroportos, as estradas, a rede hospitalar, a hoteleira… Em torno da construção de arenas esportivas, por sinal, não são poucas as mentiras que se inventam para justificá-las. Não é verdade que sejam, necessariamente, polos de progresso para as regiões em que se instalam e basta olhar exatamente para a região do Engenhão para constatar.


Do mesmo modo acontece no Soweto, em Joanesburgo, que não foi beneficiado pela construção do Soccer City, um estádio desnecessário e a quatro quilômetros do histórico Ellis Park, o estádio em que Nelson Mandela quebrou de vez o preconceito dos negros com o rúgbi, esporte dos brancos, ao ir prestigiar a final da Copa do Mundo da modalidade.
É famosa a história que cerca a New Orleans Arena, inaugurada em 1999 com capacidade para receber vinte mil pessoas que só provou mesmo sua utilidade, segundo os habitantes da cidade na Louisiana, quando o furacão Katrina, em 2005, destruiu a região e o ginásio foi usado como abrigo dos que perderam tudo.

O significado de uma Copa do Mundo

É preciso ter claro o significado de uma Copa do Mundo. O livro Soccernomics, escrito por Simon Kuper, colunista esportivo do Financial Times, e pelo economista Stefan Szymanski (Editora Tinta Negra, 310 pp.), mostra que a Copa do Mundo nada mais é que o anúncio, que dura trinta dias, de um país. Anúncio que corre apenas só um risco: ser um mau anúncio. O livro demonstra que sede alguma de Copa do Mundo ganha dinheiro por recebê-la, mas que a questão nem é essa. Os autores convidam os governantes a falar a verdade para seus povos e a fazer a pergunta que os verdadeiros estadistas devem fazer: quanto custa manter um país feliz por um mês? Conforme for a resposta, vale a pena pagá-lo e, de fato, quem recebe um evento como a Copa do Mundo de futebol passa trinta dias feliz e orgulhoso. Não é preciso, portanto, mentir, inventar e, muito menos, criar monstros como as licitações e orçamentos secretos.


O governo Lula obteve vitórias incontestáveis ao trazer os dois maiores eventos da humanidade, a Copa e a Olimpíada, para o Brasil. E foi ele, porque tanto Ricardo Teixeira quanto Carlos Nuzman, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, em governos anteriores desde Fernando Collor, tinham tentado e amargado mais que fracassos, verdadeiras humilhações.


Foi exatamente na gestão do presidente monoglota que as vitórias vieram e países como os Estados Unidos, com Barack Obama na campanha, foram derrotados.


O risco, no entanto, dos enormes triunfos se transformarem em derrotas escandalosas existe e não é pequeno. Porque se o Brasil pode perfeitamente fazer a Copa do Mundo do Brasil no Brasil (se a África do Sul fez, por que não faríamos?), não pode, nem deve, fazer a Copa do Mundo da Alemanha no Brasil.


E a orgia das construções de novos estádios, em vez de priorizar o legado às cidades, demonstra que estamos tentando dar um passo maior que nossas pernas.


No finzinho do primeiro tempo é preciso lembrar que, em artigo assinado na página 3 da Folha de S. Paulo, Teixeira garantiu que esta seria a Copa da iniciativa privada. Mas um estudo do Tribunal de Contas da União já demonstrou que nada menos do que 98,5% do que se gastará para fazer a Copa será de dinheiro público, do BNDES, da Infraero e da Caixa Econômica Federal, sem falar de incentivos e isenções fiscais, porque, como se sabe, a Fifa não pagará nem um tostão de impostos por tudo que disser respeito à Copa.
É hora do intervalo, para pensar.


Todo e qualquer país que se candidate a receber uma Copa do Mundo, do mais poderoso ao mais humilde, de quebra entrega boa parte de sua soberania.


Porque a Fifa, que se orgulha de ter mais filiados que a ONU (e tem mesmo, 208 contra 192), não brinca em serviço e tem sede pantagruélica. Basta dizer que a cerveja que patrocina a entidade, dos Estados Unidos, foi a única encontrável nos estádios da orgulhosa Alemanha, para desespero do Partido Verde local, indignado com o desrespeito à tradição, e à qualidade, da bebida alemã.


No Brasil não chegaremos a tanto, mas veremos a suspensão da lei que impede a venda de bebidas alcoólicas nos estádios, porque a mesma Budweiser vem aí.

Futebol no mundo globalizado

Mas, afinal, que fenômeno é este, do que estamos falando?
Assunto para o segundo tempo.


Porque é impossível entender o que culmina com a Copa no Brasil sem entender o que se passou com o futebol no mundo “golbalizado”, com o perdão do trocadilho infame já feito uma vez, três anos atrás, para um texto feito por este escriba para a revista Política Externa, praticamente aqui reproduzido com as obrigatórias atualizações.


A Terra é uma bola, como se sabe. E joga-se bola na Terra por todos os cantos. E a Terra é uma bola cada vez menor, do tamanho de uma de futebol. Que também se transformou com a tal da globalização.


Da primeira Copa do Mundo transmitida para o mundo inteiro pela TV, em 1970, no México, a chamada aldeia global testemunhou o incrível crescimento de uma de suas mais influentes multinacionais, a Fifa, com sede na Suíça, em Zurique. E quem melhor soube aproveitar o desenvolvimento do futebol como um negócio extraordinário foi o continente europeu.


Não há sequer um grande nome do futebol mundial que não esteja na Espanha, na Itália, na Inglaterra ou na Alemanha. E os países periféricos, embora tecnicamente do Primeiro Mundo do futebol sob ponto de vista do talento que produzem, se transformaram em meros exportadores de pé de obra, numa inversão tal de valores que em vez de exportarem o espetáculo acabam por exportar os artistas.


Brasil e Argentina são os dois mais eloquentes exemplos do fenômeno no continente americano, algo que afeta também, e cada vez mais, a África.


Não fosse assim e a Seleção Brasileira teria mais que apenas dois jogadores que atuam no país convocados para defendê-la no começo das eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul. Ou no time pentacampeão, em 2002, na Alemanha, teria mais que só o goleiro Marcos e os volantes Gilberto Silva e Kléberson entre os titulares, os dois últimos, em seguida, vendidos para o exterior. E por quê? Porque nem o real nem o peso podem concorrer com o dólar ou com o euro, dizem os conformados – e os cartolas que lucram com tal estado de coisas.


Dos cartolas duas CPIs recentes no Congresso Nacional já trataram devidamente. E uma investigação da parceria Corinthians/MSI, feita pela Polícia Federal, dois anos atrás, apenas acrescentou novas informações sobre os métodos da lavagem de dinheiro indiscriminada, que também é face da globalização, para legalizar dinheiro de drogas, contrabando de armas e outros crimes.


Trata-se de crime, também transnacional, é claro.

CBF apoia ida de ídolos brasileiros para a Europa

E não só o êxodo que incomoda. A CBF tem uma política deliberada de apoiar a ida de nossos ídolos para a Europa, por diversas razões. Dona da maior grife do futebol mundial, a entidade não quer concorrência interna como nos anos 1960, quando, por exemplo, Santos e Botafogo eram, com frequência, capazes de excursionar pelo mundo com cotas maiores que a da Seleção Brasileira.


Além do mais, argumenta-se na CBF que nossos jogadores adquirem uma consciência tática e uma saúde física que não teriam se ficassem no Brasil, além de se acostumarem a enfrentar em seus campeonatos aqueles que encontrarão nas Copas do Mundo.


Se, nos tempos do complexo de vira-latas de Nelson Rodrigues, os atletas brasileiros se assustavam com a saúde de vaca premiada dos europeus, hoje são eles que ficam atemorizados ao ver a Seleção Brasileira perfilada com os melhores jogadores de cada time europeu reunidos numa equipe só.


Se, em tese, tal política traz benefícios à CBF, por outro acarreta prejuízos óbvios ao futebol disputado no país. Um dos mais visíveis é o de que não se encontram camisas de clubes brasileiros nas lojas de material esportivo pelo mundo afora, embora as da Seleção sejam as mais expostas nessas mesmas lojas. Só que não é tão difícil encontrar as do Boca Juniors e do River Plate, porque os grandes clubes argentinos são menos submissos que os nossos.
Outro prejuízo, ainda mais letal, está em que a torcida brasileira paulatinamente perde seus vínculos com a Seleção. Não se discute mais apaixonadamente em torno de uma convocação, porque nem o centroavante do Flamengo, nem o meia do Corinthians, nem o goleiro do Cruzeiro estão cotados, ao contrário do atacante do Barcelona, do defensor do Milan ou, até, do atleta que joga na Ucrânia. Sim, porque a globalização que atingiu o futebol brasileiro não se restringe a levar os jogadores para países do dito Primeiro Mundo, leva também para a Turquia, Ucrânia etc., demonstração cabal de que a explicação para o êxodo não está na economia nacional, mas, sim, no modelo de gestão arcaico, e nada transparente, de nosso futebol.


Por incrível que pareça, em pleno século XXI, o futebol brasileiro convive com a globalização e com suas capitanias hereditárias ao mesmo tempo, numa simbiose deletéria.


A perda de vínculo com a Seleção é tamanha que o time da CBF é capaz de passar dois anos sem se exibir no Brasil, como aconteceu recentemente. Verdade que a vida fora do país mudou muito o comportamento de nossos jogadores, cada vez menos parecidos com os boleiros de antigamente e cada vez mais com os popstars de hoje em dia, todos com seus empresários, procuradores, agentes, assessores de imprensa e muita, mas muita artificialidade.
Quem esteve nas Copas do Mundo, aliás, muitas vezes se perguntou se estava vendo um campeonato esportivo ou um festival de rock. Nostalgia, romantismo, saudosismo? Talvez um pouco, mas só um pouco.

Mercantilização do futebol

Diante da inexorável mercantilização do futebol é inútil combatê-la, mas é essencial denunciar seus descaminhos, até para torná-la mais eficaz. Como aconteceu no Brasil nos anos 1970, quando os bicheiros tentaram se apropriar dos clubes de futebol como já haviam feito com as escolas de samba, em busca de reconhecimento social, agora são os bilionários de fortunas suspeitas que repetem a estratégia, em escala planetária, como se constata na Inglaterra.
Clubes londrinos tão tradicionais como o Chelsea e o Arsenal são alvos da cobiça dos que se beneficiaram da privatização das empresas estatais da ex-União Soviética, o primeiro já devidamente dominado. A boa imprensa britânica grita, critica, denuncia e não por ser contra o avanço do capitalismo, mas por querer vê-lo dentro dos limites compatíveis com a prática esportiva.


Afinal, foi um escocês, Bill Shankly, ex-técnico e gerente do Liverpool em seu período de ouro, filósofo do futebol que era, o autor da célebre frase: “É claro que o futebol não é uma questão de vida ou de morte. É muito mais do que isso”.
Militante do Partido Comunista Brasileiro, João Saldanha morreu sem se conformar com os rumos que o futebol tomava ainda em 1990. Ele que se insurgia até contra as placas de publicidade nos estádios por considerar que, além de botar em risco a integridade física dos jogadores, elas poluíam o visual do jogo.


De fato, numa época em que eram de ferro, as placas fizeram algumas vítimas entre os que não conseguiam brecar em tempo de não se chocar contra elas. Mas passaram a fazer parte do cenário do futebol, sem maiores problemas.
A publicidade nas camisas dos times, então, horrorizava o velho João Sem Medo, incapaz de aceitar aquelas manchas nos mantos sagrados de times tão tradicionais.


Fato é que apenas o Barcelona, um caso à parte no mundo do futebol por causa do nacionalismo catalão, conseguiu resistir ao fenômeno, fundamental para as finanças de qualquer grande clube. Não só o time espanhol não recebia para anunciar patrocinador como, ao contrário, pagava à Unicef para expor sua marca. Mas até esta exclusividade acabou. Já nesta temporada o Barça ostenta, a peso de ouro, a marca da Qatar Foundation, do país, não por acaso, sede da Copa de 2022, em seu verão de 52 graus Celsius.


Conviver com tudo isso, portanto, não só passou a fazer parte do dia a dia do futebol como, na verdade, passou a ser legítima preocupação na busca de mais rentabilidade e excelência do espetáculo. Com todos os riscos que embute.
Para o historiador marxista Eric Hobsbawm, “a capacidade de o futebol ser um símbolo de identidade nacional há muito é conhecida. No meu livro sobre nacionalismo eu escrevi que ‘a comunidade imaginária de milhões parece ser mais realista do que um time de onze pessoas’. Atualmente, indubitavelmente, isto é mais importante do que nunca na história, já que grandes jogadores são recrutados de quase todos os cantos do mundo. Acho que só participar de uma Copa do Mundo é que faz as pessoas que vivem no Togo ou em Camarões darem-se conta de que são cidadãos de seus países. Posso entender o apelo deste tipo de patriotismo, mas eu não tenho entusiasmo nenhum pelo nacionalismo”.


E cada vez mais autores se debruçam sobre o tema, como no excelente livro do jornalista americano Franklin Foer: Como o Futebol Explica o Mundo, Um Olhar Inesperado sobre a Globalização (Jorge Zahar Editor).


Da questão religiosa, na Escócia, passando pelo antissemitismo, violência de torcidas, na Inglaterra, racismo na Ucrânia, novas oligarquias na Itália, sempre tendo o futebol como tema, nos Estados Unidos, inclusive, onde a esquerda o elegeu por ser menos truculento que o chamado futebol americano, até a corrupção dos cartolas (adivinhe onde), no Brasil, é claro, Foer produz uma série de reportagens formidáveis. Segundo ele mesmo, com o cuidado de não ser “demasiado hostil à globalização que, com todas as suas falhas, fez com que o futebol chegasse aos recantos mais distantes do planeta e à minha vida”.

Tentativa de corrigir os rumos

E este é o ponto. Porque não se trata de nenhuma bandeira quixotesca a rebeldia contra o que está estabelecido, mas, sim, trata-se de tentar corrigir rumos sem aceitar passivamente o que para muitos está escrito e ponto final. No fundo, é como disse Hobsbawm em entrevista à Folha de S. Paulo: “O futebol sintetiza muito bem a dialética entre identidade nacional, globalização e xenofobia dos dias de hoje. Os clubes viraram entidades transnacionais, empreendimentos globais. Mas, paradoxalmente, o que faz o futebol popular continua sendo, antes de tudo, a fidelidade local de um grupo de torcedores para com uma equipe. E, ainda, o que faz dos campeonatos mundiais algo interessante é o fato de que podemos ver países em competição. Por isso acho que o futebol carrega o conflito essencial da globalização. Os clubes querem ter os jogadores em tempo integral, mas também precisam que eles joguem por suas seleções para legitimá-los como heróis nacionais. Enquanto isso, clubes de países da África ou da América Latina vão virando centros de recrutamento e perdendo o encanto local de seus encontros, como acontece com os times do Brasil e da Argentina. É um paradoxo interessante para pensar sobre a globalização”. De fato.


De um lado, a força propulsora do capitalismo em busca de mais e mais lucro e rentabilidade. Do outro, a sobrevivência de um modelo nacionalista que convive dialeticamente com a internacionalização, como se para ser um ídolo global é necessário ser, antes, do seu país natal.


Muito antes do fenômeno da globalização, o jornalista Renato Pompeu em seu romance A Saída do Primeiro Tempo (Editora Alfa-Omega), já propunha uma “teoria do futebol”. Nela, com extrema graça e criatividade, defende, por exemplo, que a semana inglesa foi criada para permitir que os súditos de Sua Majestade, a Rainha, jogassem bola aos fins de semana

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Sim, cada vez mais surgem pensadores que explicam o mundo pela bola e recentemente mesmo chegou às livrarias outra brilhante pensata sobre o tema, do historiador medievalista da USP, Hilário Franco Júnior, A Dança dos Deuses – Futebol, Sociedade, Cultura (Companhia das Letras).

Influência do futebol na vida das pessoas

Ao tratar da importância que o esporte assumiu no mercado do entretenimento, Franco mostra que 3% do PIB europeu vêm dele, com parcela importante do valor constituída pelo que o futebol gera. Calcula-se que o futebol gere empregos para 450 milhões de pessoas pelo mundo afora, o que permite dizer que, direta ou indiretamente, cerca de dois bilhões de almas vivem do esporte, quase 1/3 da população mundial.


A estimativa é do ex-presidente da Fifa, João Havelange, o brasileiro que estava na hora certa no lugar certo e comandou a virada da entidade ao assumi-la em 1974, quando as fronteiras já começavam a cair. Apesar de ter criado um modelo exclusivista, para pouquíssimos, Havelange aliou-se ao capital multinacional da Adidas e da Coca-Cola, entre outros, para disseminar o futebol pelos continentes africano e asiático, além de dedicar especial atenção aos Estados Unidos, que até recebeu a Copa do Mundo de 1994. Se o futebol dos homens ainda não é um sucesso na terra de Tio Sam, o das mulheres é, campeãs olímpicas que são.


Ainda segundo Franco revela, o estudo “Soccereconomics 2006”, feito pelo banco holandês ABN-AMRO, “estimou em 0,7% a taxa suplementar de crescimento no país que ganhasse o Mundial daquele ano, em função do maior consumo de bebidas, comidas, material esportivo e suvenires, mas sobretudo devido ao aumento da autoestima nacional, que leva a população a investir e consumir mais”.


De fato, nem sempre se avalia corretamente o quanto o futebol influencia a vida das pessoas. Há quem diga, por exemplo, que Fernando Henrique Cardoso deve muito de sua primeira eleição à vitória na Copa do Mundo de 1994. Claro que o Plano Real teve influência decisiva, mas, lembremos: o Brasil vinha da derrocada do governo Collor, acabara de sofrer o trauma da perda do maior ídolo nacional de então, o piloto Ayrton Senna, e estava com sua autoestima em estágio de elevadíssima depressão, quadro ideal, talvez, para mudar tudo, para tentar o que ainda não havia sido tentado depois de governos ditatoriais e do fracasso dos primeiros governos democráticos, de José Sarney e Fernando Collor, eleito diretamente, ainda por cima.


Quem sabe um operário não daria jeito na coisa? Só que não foi daquela vez, porque a vitória obtida por Romário e sua trupe em gramados americanos mudou o humor do país, que preferiu esmagadoramente o professor que tinha virado ministro e estabilizado a moeda.


Tão importante, no entanto, como vencer a inflação, era o tetracampeonato, depois de 24 anos da conquista do tri. Mas, atenção, à medida que vamos chegando ao fim do segundo tempo: não leve a ferro e fogo tamanha digressão. Porque nada autoriza a que se suponha que o tricampeonato seja creditado à ditadura Médici, pois a História dá a ele o lugar que fez por merecer, o das sombras, e a Pelé, Tostão & Cia o que lhes cabe, o da glória. Em bom português, imaginar que o povo confunda vitórias esportivas com os governantes do momento é ledo engano, assim como é desrespeitar sua inteligência. Mas que afeta humores, afeta, e muito. Daí, também, o inconformismo de quem tem senso crítico em relação ao estágio do futebol no dito país do futebol, o nosso. Na verdade, nem somos. A Inglaterra é muito mais país do futebol pelo que o reverencia. E mesmo a Argentina parece levar vantagem em dosagem de paixão.

Maltratamos o futebol no país do patropi

Importante dizer que em todas as pesquisas de tamanho de torcidas no Brasil, o contingente maior é o dos que não se interessam por futebol, só depois vindo as torcidas do Flamengo e do Corinthians. O que não impede que se constate como maltratamos o futebol no patropi.


Em plena fase de globalização da economia, o futebol brasileiro ainda está no estágio da acumulação pré-capitalista e, como tal, vive na base da pirataria, como bem demonstraram duas CPIs no Congresso Nacional no ano 2000. Lamentável que nos sujeitemos a ser polo passivo numa atividade em que somos, sem sombra de dúvida, como na música, de Primeiro Mundo.


Já foi dito e aqui é repetido que as diferenças econômicas entre os maiores centros do futebol mundial explicam muita coisa, mas não justificam todas elas. Por exemplo: o Brasil tem o oitavo PIB do mundo e a Espanha o 12º. A Itália está em sexto lugar no ranking, mas a Rússia está em décimo, assim como a Turquia está em 17º, com 1/3 de nosso PIB, e a Ucrânia em 53º, quase quinze vezes menor que o brasileiro. E perdemos jogadores para todos esses países, sem exceção, entre tantos outros. É claro que o euro pesa, que a União Europeia pesa, que o preço dos ingressos pesa, que as cotas de TV pesam. Mas nosso mercado publicitário é equivalente ao de Espanha e Itália, nossa população é muito maior, a capacidade instalada de nossos estádios é do mesmo porte e o que nos falta é gestão, é visão, e é, também, menos corrupção no futebol.


Porque em nossa Belíndia ainda não fomos capazes nem de dar à Bélgica aquilo que ela está disposta a pagar em termos de conforto e segurança nos estádios, nem de dar à Índia aquilo que merece como forma de lazer popular compatível com seu padrão de vida. E não será na Copa de 2014 que daremos, porque Copa do Mundo não é evento para os mais pobres, muito ao contrário.


Na verdade, vivemos sem saber o que queremos ser quando crescer em matéria de política esportiva e não temos sido capazes de nos aproveitar das oportunidades que a globalização oferece, limitados ao papel de exportar matéria-prima, como nos tempos da dependência do país essencialmente agrícola.
Nosso futebol, assim como nosso vôlei, é tão bom como o café que produzíamos e se, então, vendíamos o que por aqui havia de melhor sem nos preocupar com a criação de um mercado interno digno desse nome, agimos igualmente hoje em dia em relação aos nossos craques.

Fifa não é contestada no Brasil

Ao exercer seu poder imperial, a Fifa jamais é contestada no Brasil, diferentemente do que acontece na Europa. A ponto de, ainda em 1990, o então só bilionário presidente do Milan, Silvio Berlusconi, acima de qualquer suspeita de esquerdismo, ter feito o alerta de que as Copas do Mundo eram daninhas ao progresso dos clubes. Sua argumentação era de uma clareza incontestável. A Itália tinha acabado de sediar a Copa e havia sido eliminada, nas semifinais, pela Argentina, em Nápoles. Duas temporadas do Campeonato Italiano, em 1988 e 1989, tinham sido prejudicadas pelas reformas nos estádios que receberiam a Copa, sem, portanto, capacidade total naqueles anos, em prejuízo das bilheterias. O Milan cedeu quase todos os seus jogadores tanto para a seleção italiana como para a holandesa, cujos três maiores jogadores (Rijkard, Gullit e Van Basten) lhe pertenciam. Pois bem, não só a Holanda foi eliminada na primeira fase. A Itália, que era a favorita por jogar em casa, acabou eliminada também.


“E agora, findo o fiasco geral, vem a dona Fifa e diz: ‘Reerga o futebol’ ”, reclamava o empresário que viraria o mais poderoso homem da Itália anos depois. Berlusconi radicalizava e propunha que as Copas do Mundo fossem disputadas pelos clubes, com suas legiões de estrangeiros, ao argumentar que o futebol globalizado já não dava conta de se manter tendo como grande atração, a cada quatro anos, um torneio de seleções nacionais. “Que se limitem ao enfrentamento nos Jogos Olímpicos”, propunha.


Hoje, a liga dos clubes europeus exerce forte influência para limitar as vontades da Fifa e, por utópico que pareça, talvez não esteja longe o dia em que a proposta do histriônico premiê se torne realidade. Ao contrário, no Brasil, temos sido incapazes de fortalecer a estrutura clubística e, em vez de aprofundarmos o potencial capitalizador de nosso futebol, vivemos, isso sim, à base da socialização da miséria.


A superestrutura dirigente do futebol nacional é muito mais do que conservadora, é extremamente reacionária, como tal refratária a qualquer mudança de modelo de gestão e, para piorar, corrupta e corruptora, além de sedutora. Provas recentes disso temos às fartas. No governo Lula foi aprovada a Timemania, uma loteria que será utilizada para que os clubes paguem suas dívidas com o Estado brasileiro, aí compreendidas as com a Previdência Social e com a Receita Federal.


Ao dar com uma mão, o governo não se preocupou em exigir, com a outra, alguma forma de contrapartida, premiando, enfim, os que construíram a dívida. Não se exigiu, por exemplo, para aderir à loteria, a administração empresarial do futebol profissional, como se faz na Europa. Até mesmo a Lei de Incentivo ao Esporte nada exigiu como mudança de modelo. Tudo isso num governo presidido por quem, torcedor que é, está cansado de conhecer as mazelas da cartolagem. Mais: por quem assinou as duas primeiras leis de seu mandato, em 2002, o Estatuto do Torcedor e a chamada Lei da Moralização do Esporte, ambas milagrosamente aprovadas, a primeira por unanimidade, no período FHC e generosamente sacramentadas por Lula.


Em seu discurso, na cerimônia de assinatura, Lula garantiu: “Nunca mais o torcedor será tratado como gado no Brasil e nunca mais os dirigentes esportivos deixarão de ser responsabilizados por seus atos”. Não havia, então, um cartola no ato, no Palácio do Planalto. Poucos meses depois, no entanto, à custa de levar a Seleção Brasileira ao Haiti, presidentes da República e da CBF estavam de braços dados, congraçamento que só se aprofundou de lá para cá e as Timemanias da vida são só uma face dessa moeda. A outra é a organização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, algo de que o país pode sim dar conta, desde que com a nossa cara e o nosso tamanho. Mas, repita-se, o que se anuncia é uma Copa do Mundo da Alemanha no Brasil, desperdício de dinheiro público em novos estádios, sinônimos de elefantes brancos tão logo a Copa termine.

Brasil precisa de nova classe dirigente no esporte

Para deixar de ser mero coadjuvante na globalização do futebol, o Brasil precisa de uma nova classe dirigente em seu esporte, executivos que tenham saído das escolas com a perfeita compreensão do fenômeno, capacitados a pensar o futebol como negócio na indústria do entretenimento, conscientes de que, no entanto, este é um negócio diferente dos demais, no qual se o lucro é vital, ser campeão é o primeiro objetivo. Negócio singular em que a cabeça fria do empresário precisa ser usada para exacerbar a cabeça emocional do consumidor, no qual o ídolo não pode ser tratado como mercadoria qualquer, mas como alguém vital para a prosperidade do empreendimento.


Administrado como se deve, certamente o futebol brasileiro não poderá fazer frente às propostas milionárias de um Milan, uma Inter, de um Barcelona ou Real Madrid, àqueles jogadores que tiverem brilhado numa Copa do Mundo, craques já consagrados, como nem mesmo os alemães e franceses conseguem concorrer.


Mas não só os preços pagos serão equivalentes aos das transações entre os próprios clubes europeus, cinco, seis vezes maiores do que o investido para tirar os ídolos brasileiros, como se evitará o êxodo das promessas que vão embora antes mesmo de disputar uma Copa do Mundo, por quantias invariavelmente ridículas.


Porque há casos emblemáticos. O do atacante Élber, já aposentado, é um deles. Ele surgiu no futebol em Londrina e com 19 anos, em 1991, foi jogar na Suíça, no Grasshopper (?!). Lá fez sucesso e se transferiu para o Sttuttgart, da Alemanha, de onde foi para o poderoso Bayern de Munique, Lyon, da França, sempre fazendo gols e até chegando à Seleção Brasileira, com menos brilho. Terminou sua carreira em 2006, no Cruzeiro, e, então, ao defender o clube mineiro, pela primeira vez jogou no Maracanã, santuário não só do futebol brasileiro, mas do mundial.


Outro caso é o do centroavante Afonso, que surgiu no Atlético Mineiro aos 20 anos, em 2001, e nem bem jogou como titular foi, no ano seguinte, para a Suécia, de onde se transferiu para o holandês Heerenveen (??!!), onde tantos gols fez que acabou convocado para a Seleção Brasileira, sem que Dunga, o técnico, jamais o tivesse visto jogar, assim como a esmagadora maioria da torcida e da imprensa especializada brasileiras.


Élber e Afonso existem aos montes, assim como os mais raros Ronaldo e Kaká, ou, mais raros ainda, Pelé e Mané Garrincha, que jogaram a vida toda no Brasil, em outros tempos, é claro, tempos que acabaram como o próprio Pelé testemunhou quando decidiu terminar sua carreira no New York Cosmos, ao integrar o esforço de popularização do futebol nos Estados Unidos.


Será chover no molhado dizer que a globalização está aí e não adianta vociferar contra ela, murro em ponta de faca. Mas que outro murro, o do choque de gestão, pode tornar o Brasil mais ativo neste banquete também no futebol, só não vê quem não quer, ou se aproveita da pirataria, como os corsários ingleses, que se deram bem, é verdade, na origem do capitalismo, embora o Império Britânico tenha se dado ainda melhor, algo, por enquanto, distante da terra de Macunaíma. Distante, sim, mas próximo a ponto de cobiçar a possibilidade de fazer na Inglaterra a Copa que está em andamento no Brasil.

Sanud e CPIs do Congresso Nacional

História para a prorrogação, depois de tudo que já foi dito no primeiro e segundo tempos deste jogo. Lembra-se da Sanud, Dunas ao contrário, lá do começo do jogo? Pois é, é disso que trataremos agora. Uma empresa com este nome, sediada em paraíso fiscal, aflorou nas CPIs do Congresso Nacional que investigaram a CBF.


À época, a revista Veja publicou a nota seguinte: “O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, usou uma empresa de fachada, a R.L.J. Participações, com sede no Rio de Janeiro, para esquentar dinheiro ilícito vindo de um paraíso fiscal, o principado de Liechtenstein. A operação foi assim: em julho de 2000, a R.L.J. registrou em seu balanço uma dívida de 2,9 milhões de reais com a Sanud Etablissement, de Liechtenstein. Documento sigiloso do Banco Central de 1º de novembro passado, ao qual VEJA teve acesso, indica que, nos últimos seis anos, a R.L.J. não recebeu empréstimo da Sanud e, nesse mesmo período, não mandou um único centavo a Liechtenstein a título de pagamento. Além disso, no ano passado, a Sanud já não existia havia dezenove meses. Seu fechamento, que não poderia ocorrer sem a quitação de todos os seus créditos, inclusive os 2,9 milhões de reais de Ricardo Teixeira, está documentado em correspondência do Coaf, órgão brasileiro de fiscalização financeira”.


Entramos nos acréscimos.
Recentemente o programa “Panorama”, da BBC, desenterrou o caso e revelou que a ISL, falida gigante do marketing esportivo associada à Fifa, depositara US$ 9,5 milhões na conta da Sanud.


Procurado pela emissora britânica, o presidente da CBF e, lembre-se, do COL preferiu calar.
Pois foi em meio a tal clima de escândalo que transcorreu a última reeleição do presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter, para perplexidade até do primeiro-ministro da Inglaterra, David Cameron, que simplesmente a chamou de “farsa”. Tudo porque a Inglaterra, que pode organizar uma Copa do Mundo perfeita servindo-se apenas de Londres, foi reveladoramente caroneada pela Rússia como sede do torneio em 2018.


A candidatura do berço do futebol moderno teve apenas um voto além do próprio. Sim, o ouro do Império perdeu para a prata dos emergentes que fizeram a festa na partilha da velha União Soviética.
E é para não ficar mal com essa gente, ao constatar o atraso nas obras para a Copa-2014, que o governo brasileiro propôs o instrumento de tornar sigiloso o que deve ser transparente nas licitações, porque o que é público ao público pertence ou, ao menos, deveria pertencer.

Dilma dá sinais de independência e insatisfação

Amarrada por compromissos assumidos no governo Lula ou não, o fato é que a presidenta Dilma Rousseff começou a dar sinais de independência e de insatisfação em relação à condução das coisas sobre a Copa. E fez questão de dar um tapa de luva de pelica nos organizadores do evento ao nomear Pelé como embaixador da Copa do Mundo. Não que Pelé que, lembremos, foi ministro extraordinário do Esporte no governo FHC, seja um crítico ácido da cartolagem encastelada no poder do futebol brasileiro, porque não é, mas ela fez com a imagem dele aquilo que Teixeira fazia questão de negar, fazia questão de não dar.


E ao colocar Pelé sentado entre ela e Teixeira na primeira cerimônia oficial da Copa do Mundo no país, na Marina da Glória, em fins de julho último, a presidenta sinalizou com clareza que CBF e COL são uma coisa e o governo quer ser outra, tanto que tratou Teixeira por “senhor”, e apenas uma vez, mas fez questão de se referir a Pelé duas vezes em seu discurso, na primeira chamando-o de “queridíssimo”. Há, enfim, alguma esperança, ainda antes do apito afinal, depois do qual não haverá mais nada a fazer.

É formado em Ciências Sociais pela usp. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do sbt (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000, e apresentou o Bola na Rede, na Rede tv, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede cnt, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999. Atualmente, está também na espn-Brasil. Colunista de futebol de O Globo entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 a 2010, do programa cbn ec, na rede cbn de rádio, na qual é comentarista. Foi colunista da Folha de S. Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance! até voltar, em 2005, para a Folha

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