Desafios do Comércio Exterior
Em 2010, a revista The Economist apontou o Brasil em matéria de capa, na qual louvava o bom desempenho da economia e as perspectivas positivas que se abriam para o país. Três anos depois, a revista publicou reportagem argumentando que a economia desandara, pedindo a cabeça do ministro da Fazenda. Não é difícil ver por que a revista mudou tão radicalmente de ideia. O crescimento do PIB despencou de 4,3% ao ano, em 2005-2010, para 2,0% anuais, em 2011-2013, enquanto a expansão do investimento caiu de 9,2% para 2,3% ao ano. Além disso, neste último triênio, a inflação média ficou em 6,1% ao ano, e o déficit em conta corrente aumentou 1,5% do PIB. A poucos dias do início da Copa do Mundo de futebol promovida pela Fifa, todos os brasileiros torcem para que a reconhecida “competitividade” de sua seleção seja ratificada em campo, e que o Brasil seja o campeão. Porém, voltando no tempo, no ano de 2010, a Coreia do Sul alcançou a 7ª posição no ranking de países exportadores da OMC e o 15º lugar na Copa do Mundo de futebol realizada na África do Sul. Parodiando conhecido provérbio, considerou-se “feliz no comércio exterior e infeliz no futebol”. Naquele mesmo ano de 2010, o Brasil conquistou a 6ª colocação no torneio de futebol mundial e a distante 22ª posição no ranking de exportação, classificações que impediram a aplicação do mesmo adágio como consolação, pois ambos resultados não são condizentes com a qualidade de seu futebol, nem com o potencial de sua economia. Deletando o futebol, priorizando o comércio exterior e retornando à realidade, em 2013, entre os 15 maiores países exportadores, 14 tinham suas pautas de exportação concentradas em produtos manufaturados, cenário que demonstra a importância da exportação desta categoria de produtos. Por outro lado, entre os dez maiores PIBs mundiais, oito países também estão incluídos entre os dez maiores exportadores, sendo o Brasil uma das duas exceções, ao ocupar a 7ª posição no PIB, mas alcançar apenas a 22ª classificação como país exportador. A Coreia do Sul é o 7º maior país exportador, com vendas internacionais de US$ 560 bilhões, em sua quase totalidade de produtos industrializados, e, por analogia com seu PIB, este valor representa o potencial de exportação do Brasil, e não os atuais US$ 240 bilhões. Como particularidade, com base em dados da OMC para o ano de 2012, no ranking em que são computadas apenas exportações de produtos manufaturados, a Coreia do Sul sobe para a 5ª posi- ção, enquanto o Brasil desce para o 28º posto, atrás de Singapura, 12º, México, 13º, Tailândia, 17º, Malásia, 20º, República Tcheca, 21º, Hungria, 27º, e somente uma posição à frente do Vietnam, em 29º. Em 2011, ao atingir 1,41% de participação nas exportações mundiais, o Brasil alcançou seu melhor resultado nos últimos 50 anos, mas nos períodos subsequentes esta participação caiu para 1,33% em 2012, queda novamente em 2013 para 1,32% e, uma vez mais, em 2014, deve cair para projetados 1,22%, índice que remete o Brasil de volta à mesma participação obtida em 2008. A título de informação complementar, o Brasil ocupou a 21ª posição no ranking mundial de importação em 2013, ano em que, pela primeira vez nos últimos dez anos, seu índice de participa- ção nas importações mundiais superou o referente às exportações, tendo atingido 1,24% em 2010, 1,29% em 2011, 1,26% em 2012, 1,36% em 2013, e estimados 1,23% em 2014. Manufaturados perderam competitividade Analisando-se estes dados, uma profunda dú vida salta aos olhos: por que o Brasil não é – um grande player no comércio internacional? A resposta a esta indagação deve-se mais a fatores de ordem interna, representados por entraves e deficiências, e menos a razões externas. Mas como explicar o fato de, nos últimos 12 anos, o Brasil ter ampliado fortemente suas exportações e obtido robustos superávits comerciais, se apresentava entraves e deficiências internas? Os bons resultados alcançados neste período foram alcançados, primordialmente, devido a fatores externos, totalmente fora de controle do Brasil, ainda que altamente positivos para o país, e que se deveram, simultaneamente, à explosiva elevação das cotações das commodities e ao forte aumento no quantum da demanda internacional por estas mercadorias. Explicitando numericamente os resultados obtidos desde o início deste século com base em dados oficiais da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, no ano de 2000, a participação dos produtos manufaturados nas exportações era de 59,07% e das commodities, de 38,21%. Em 2013, estes índices se inverteram completamente, passando a ser de 38,44% para manufaturados e de 59,27% para commodities, com produtos como açúcar refinado, suco de laranja, etanol, óleos combustíveis e café solúvel sendo classificados como manufaturados, apesar de serem comercializados como commodities. A principal razão para esta inversão de índices foi que as exportações de produtos manufaturados perderam competitividade e estão estagnadas nominalmente desde 2008, além de estarem concentradas em mercados importadores que apresentam problemas, casos da Argentina e Venezuela. O Brasil estava preparado para participar deste novo cenário econômico mundial? Não estava, como ainda não está, pois as deficiências ou entraves que haviam no início do século XXI perduram até hoje, algumas mais e outras menos graves, mas com seus reflexos negativos ainda sendo observados. Entre os entraves que se tornaram menos graves, podem ser listados os seguintes: • o controle cambial deixou de ser uma prioridade, com os prazos para negociação das divisas sendo liberalizados; • as importações tornaram-se mais livres, com a eliminação de grande parte de seus controles; • as operações administrativas de exportação tornaram-se mais ágeis, com a eliminação de diversas autorizações e controles prévios. Por sua vez, algumas deficiências que existiam tornaram-se mais graves, dentre as quais podem ser citadas as seguintes: • o custo de logística tornou-se mais elevado, especialmente devido à insuficiente, deficiente e onerosa infraestrutura de transporte; • a participação de 17 órgãos anuentes e/ou intervenientes governamentais no comércio exterior, alguns com superposição de funções, aumentou a burocracia, e como consequência natural, também os custos; • o fortalecimento da participação do Brasil no Mercosul tornou-se uma camisa de força, pois impediu que acordos comerciais bilaterais e/ou regionais fossem negociados, representando um isolamento comercial; • a prioridade conferida ao comércio exterior Sul- -Sul, em contrapartida ao abandono do diálogo comercial ao Sul-Norte, significou perda de mercados externos de manufaturados para o Brasil; • a criação de cultura exportadora ficou mais distante, seja analisando a redução da quantidade de empresas exportadoras, seja a duplicação das empresas importadoras; • ainda continua havendo concentração de exportação em poucos países e produtos, mas com a diferença de que isto agora ocorre com exporta- ções de commodities, produtos vulneráveis, sobre os quais o Brasil não tem qualquer controle, seja em termos de preço ou quantidade. Torna-se importante registrar que países, normalmente, definem políticas para seu comércio exterior com o objetivo primordial de elevar suas exportações, cuja consequência natural é gerar, ou aumentar, superávit em sua balança comercial. Este objetivo é plenamente justificável em razão de que aquilo que gera atividade econômica é a corrente de comércio, ou seja, o somatório de exportações e importações, e não o montante de superávit comercial. Em outras palavras, países não elaboram programas de comércio exterior tendo como finalidade a obtenção de superávit comercial, pois superávit é efeito, e não causa. Os alicerces indispensáveis OBrasil, por ser um país dotado de ampla extensão territoria
l, possuidor de amplas terras qualificadas para a agricultura, detentor de grandes e diversificadas reservas minerais, beneficiado por adequados níveis de água e de sol é, e sempre será, um país exportador de peso, na acepção real da palavra. Com todos estes atributos, o que impede o Brasil de ser um grande player internacional? Conforme mencionado anteriormente, o Brasil possui entraves e deficiências internas que precisam ser eliminadas mediante a realização de reformas estruturais, e não através de medidas conjunturais, que são meros paliativos, para o país ser reconhecido como um grande player internacional. A taxa de câmbio não é considerada entrave ou deficiência, pois, se o mercado de câmbio é livre para flutuar conforme as leis do mercado, esta é uma realidade que não se deve discutir. A propósito, a taxa de câmbio deve ter como função ser apenas fator de conversão de moedas estrangeiras, e não fator de competitividade, razão pela qual deve ser neutra. Desta forma, quais são os desafios a serem enfrentados pelo comércio exterior brasileiro nos próximos quatro anos, seja para manter e/ou elevar os atuais volumes de exportação de commodities e os superávits comerciais obtidos, seja para o Brasil ser um grande player no comércio internacional, com reinserção da exportação de produtos manufaturados? Como ocorre na construção de qualquer edifício, a existência de sólidos alicerces, também denominadas estruturas, é a base indispensável para que qualquer empreendimento tenha sustentação e êxito por longo tempo. E na atividade de comércio exterior acontece o mesmo, apenas com os alicerces, ou estruturas, tendo diferentes designações e funções. Nesse sentido, adiante estão descritos os quatro principais alicerces indispensáveis para que o Brasil alcance seu objetivo de ser um grande player no comércio internacional, e que se transformam em desafios para o comércio exterior brasileiro nos próximos quatro anos. 1 – Criar estrutura institucional de comércio exterior O comércio exterior brasileiro necessita ter um “dono” responsável por sua performance e ter sua própria identidade, forte e independente, na hierarquia governamental, opinando e/ou participando de todo seu arcabouço normativo, de controles e de acompanhamento de seus resultados. Para tanto, deve ser elaborada uma política integrada de governo para o comércio exterior, 41 em substituição às várias políticas isoladas de cada ministério, objetivando eliminar superposi- ção de tarefas, divergências de interpretação entre diferentes órgãos e até mesmo entre os pró- prios órgãos. Nesse sentido, deverá existir um representante, com força estrutural para integrar todas as atividades e formular cobranças relativas ao cumprimento integral de execução da política integrada de comércio exterior estabelecida. A atual Câmara de Comércio Exterior (Camex) pode desempenhar esta função, desde que seja fortalecida para serem subordinados a ela órgãos com atuação, direta ou indireta, no comércio exterior, e que lhe seja conferido poder efetivo para definir políticas e diretrizes de comércio exterior. 2 – Realizar reforma tributária O obsoleto, complexo, burocrático e gravoso atual sistema tributário brasileiro é incompatível com os objetivos projetados pelo país, pois imobiliza capital de giro sem qualquer remuneração, onera o custo de produção de industrializados, reduz sua competitividade e dificulta, ou, até mesmo, inviabiliza sua exportação, ao mesmo tempo em que obriga e estimula a exportação de mercadorias sob a forma de matérias-primas (commodities), sem agregação de valor e sem geração de empregos no Brasil. Sua reforma estrutural torna-se indispensá- vel, pois se constitui num dos alicerces fundamentais, tanto da política industrial quanto de comércio exterior, para oferecer competitividade ao produto brasileiro no exterior, contribuindo para a maximização das vantagens comparativas e competitivas do setor industrial, e viabilizando a inserção internacional nas cadeias produtivas globais. Para tanto, torna-se necessário chegar-se a consenso federativo para cumprir preceito constitucional de completa imunidade tributária nas exportações de bens e serviços. Além disso, o novo modelo deve desonerar o produto exportado, ao longo de toda sua cadeia produtiva, livrando-o de quaisquer impostos, taxas, contribuições e outros gravames, com vistas a eliminar problemas decorrentes de compensa- ções, de acúmulo de créditos ou de ressarcimento aos exportadores. Assim, ajustes pontuais em sua atual concep- ção representam meras ações paliativas e provisórias, sem produzir os efeitos permanentes desejados. O Brasil precisa de uma reforma do seu sistema tributário para torná-lo moderno, simples e competitivo, objetivando desempenhar suas fun- ções de forma racional, sem onerar e inviabilizar a participação de suas empresas. 3 – Criar infraestrutura de transporte Um país que exporta mercadorias com grandes volumes de peso e alguns com baixo valor financeiro requer a existência de uma infraestrutura de transporte integrada e adequada, que possibilite oferecer custos de logística competitivos. Esta realidade ainda não se aplica ao Brasil, que mostra claras deficiências em praticamente todos os modais de transporte e apresenta altos custos de logística, somente aceitáveis neste momento devido ao baixo custo de produção das commodities em geral, aliado às suas elevadas cotações, que permite absorver o proibitivo custo de frete gerado por esta ineficiência. Não é preciso salientar que eventual redução mais acentuada nos preços das commodities pode inviabilizar suas exportações, ainda mais que o Brasil não exerce qualquer controle ou influência sobre suas cotações. Atualmente, o custo do frete interno para exportação de soja representa aproximadamente 25% do valor do produto e cerca de 50% do milho, sendo que neste último a exportação já começa a se tornar inviável economicamente. Mantido este cenário, o Brasil passaria à condição de “exportador” de frete e não de produto. O Brasil tem que ser competitivo em quaisquer condições de mercado, não apenas em momentos de cotações elevadas. Este seria mais um motivo que recomenda a industrialização ou agregação de valor às com- modities exportadas, operação inviabilizada pelo atual sistema tributário, que onera e adiciona custo tributário ao produto durante o processamento industrial. A mesma ineficiência com os custos de logística também se aplica à exportação de produtos manufaturados, pois a matriz de transporte é a mesma, fazendo com que a perda de competitividade seja mais visível e forte, pois estes produtos não estão sujeitos a grandes oscilações de preços e a concorrência é muito maior. Por ser um país exportador de peso, torna-se indispensável para o Brasil dispor de adequada infraestrutura de transporte, pois sem custos de logística competitivos as exportações brasileiras tornam-se vulneráveis, pois ficam dependentes das elevadas cotações das commodities. Já as exportações de manufaturados conseguem atingir apenas alguns poucos mercados importadores próximos, porque seu fôlego permite somente voos de galinha. 4 – Realizar reforma trabalhista A legislação trabalhista brasileira remonta ao passado, sem ter se adaptado aos novos cenários de modernização criados com a evolução do mundo, que desenvolveu novas relações de trabalho e desempenha papel fundamental na permanente busca de produtividade e competitividade, visando à redução de custos. Nesse sentido, a legislação trabalhista brasileira necessita ser reformada para se atualizar e ficar compatível com os atuais novos tempos. O Brasil, por dispor de elevada disponibilidade e diversidade de matérias-primas, é grande fabricante de produtos que utilizam mão de obra intensiva e tem tudo para se tornar grande exportador destes produtos. Porém, muitas vezes por razões trabalhistas, deixa de aproveitar estas oportunidades. Ressalte-se que a reforma da
legislação trabalhista não deve ter como objetivo reduzir salários. Ao contrário, estes podem até aumentar, pois sua finalidade é discutir novas alternativas de relações de trabalho e estruturas de encargos trabalhistas. Sempre é destacado que os salários nominais no Brasil não são altos, entretanto seus encargos encarecem o custo de pessoal, muitas vezes inviabilizando operações de exportação e/ou facilitando importações, com ambas situações impedindo a geração de milhares de empregos no Brasil. Além da criação e da consolidação dos alicerces estruturais descritos, outros pontos também necessitam ser incluídos entre os desafios do comércio exterior nos próximos quatro anos, sem ordem de importância na sua apresentação, pois todos os tópicos desempenham papel de destaque em sua respectiva área de atuação. A – Lei geral de comércio exterior: A recomendação é consolidar numa única lei a grande quantidade de legislação sobre comércio exterior atualmente vigente, ordenando a participação dos órgãos anuentes e/ou intervenientes, com vistas a evitar a superposição de tarefas, eliminar a burocracia dispendiosa e disciplinar a emissão de normas que impõem gravames. B – Fundo de financiamento a programas de exportação: A criação de um fundo rotativo, com diversificadas fontes de recursos, porém contando com a participação da União no aporte do montante inicial de recursos, se destina a construir estrutura que assegure, gradualmente, reforço nas condições para a concessão de financiamentos às exportações de produtos manufaturados, indistintamente, nas fases de pré e pós-embarque; Paralelamente, também contribuirá para facilitar o acesso ao crédito por parte de micro, pequenas e médias empresas, incentivando a maior participação destas organizações nas atividades de exportação. Como objetivo complementar, este fundo rotativo será realimentado com as operações que forem sendo liquidadas, reduzindo-se paulatinamente a dependência atual e anual de alocação de recursos no orçamento geral da União para financiamento à exportação, que muitas vezes não estão disponíveis no início do ano e outras vezes acabam antes de o ano findar, prejudicando as exportações. Em outras palavras, o que se deseja é que o 43 ano do comércio exterior brasileiro para fins de financiamentos à exportação tenha os mesmos 12 meses praticados no mercado internacional, e não menos que isso. C – Cabotagem: Num país que possui quase 10 mil km de costa, a cabotagem desempenha importante papel na logística de comércio exterior, pois representa importante base de apoio doméstico para o transporte internacional de carga de exportação e/ou importação. Nesse sentido, dotar a cabotagem de isonomia com relação a outras atividades similares desenvolvidas é questão de justiça e fator de competitividade para o comércio exterior brasileiro. Sob os aspectos burocrático e de custo, não há razão para se adotar na cabotagem um conjunto de exigências próprias do transporte internacional, quando as mesmas não são aplicáveis aos demais modais de transporte, as quais tornam o tempo de viagem mais demorado e elevam os custos do frete. Situação similar se observa nos tributos sobre a aquisição de combustíveis, pois, enquanto as empresas que fazem o transporte internacional estão isentas de tributação, as empresas que fazem o transporte de cabotagem são obrigadas a pagar todos os tributos que incidem sobre combustíveis nas operações de mercado interno como suporte para operações de comércio exterior. Desta forma, estes dois exemplos mostrados elevam os custos de frete na cabotagem e, indiretamente, reduzem a competitividade do produto a ser exportado, seja commodity ou manufaturado. D – Antecipar prazo de implantação do Portal Único de Comércio Exterior: Todos conhecem a realidade da pesada burocracia que impera no comércio exterior brasileiro, envolvendo 17 ministérios e órgãos governamentais anuentes ou intervenientes, realizando análises, controles, fiscalizações, cobranças, entre outros, algumas vezes com duplicidade de tarefas, gerando custos ociosos em termos de tempo e de finanças, que afetam a competitividade do produto brasileiro, especialmente o manufaturado. Nesse sentido, o recém-lançado Portal Único de Comércio Exterior representa uma efetiva oportunidade de diminuir a burocracia no comércio exterior e, por conseguinte, de reduzir os custos e de aumentar a competitividade do produto brasileiro na exportação, alcançando também os custos de importação. Embora não elimine o excessivo número de órgãos intervenientes no comércio exterior, o Portal racionaliza suas atuações e pode minimizar este problema. Todavia, prevê-se apenas para 2017 o prazo para sua implantação estar totalmente concluída. Nesse sentido, recomenda-se antecipar seu prazo total de implantação, acelerando a adoção de medidas para agilizar seu processo operacional e reduzir o custo burocrático. E – Decisões de médio ou longo prazos: As operações realizadas no comércio internacional, especialmente envolvendo produtos manufaturados, têm suas avaliações, decisões e reflexos tomados em um tempo que ultrapassa o curto prazo, pois tanto as negociações quanto os prazos dos contratos de compra e venda demandam, pelo menos, médio prazo. Exemplo recente ocorreu com o mecanismo do Reintegra, anunciado em 2011, implantado em 2012 e revogado em 2013, criando expectativas positivas para as exportações, mas gerando insegurança e possíveis prejuízos para quem negociou contrato de exportação acreditando em sua prorrogação. Nesse sentido, recomenda-se que iniciativas de política de comércio exterior adotadas pelo governo brasileiro sejam permanentes, ou pelo menos de médio ou longo prazos, pois medidas de curto prazo de vigência acabam se transformando em temporárias ou provisórias, gerando insegurança para a tomada de decisão. Esta recomendação deve-se ao fato de que governos geralmente pensam no curto prazo, até a próxima eleição, enquanto empresas e mercados internacionais pensam em médio ou longo prazos, e quem não se adaptar a essa realidade pode deixar de participar ativamente ou até mesmo ficar fora do mercado. F – Estimular negociação de acordos comerciais: O mundo comercial tem incrementado a negociação de acordos comerciais bilaterais e/ ou regionais, mediante redução de tarifas aduaneiras, concessão de facilidades não tarifárias e abertura de mercados, medidas que ampliam operações de exportação e importação entre os países envolvidos e, naturalmente, isolam comercialmente as nações que não participam destes acordos, situação vivenciada pelo Brasil. Enquanto o Brasil tem apenas três acordos negociados, ainda assim inexpressivos, países como Chile, México e até mesmo os Estados Unidos apresentam números bem mais significativos. Nesse sentido, deve ser estimulada a utiliza- ção, pelo Brasil, desta estratégia adotada por outros países, com vistas à abertura de mercados e também à sua inserção competitiva nas cadeias produtivas globais, viabilizando o aumento das exportações brasileiras, notadamente de produtos manufaturados. G – Relançamento do Reintegra:A Organiza- ção Mundial do Comércio (OMC) reconhece como legítimo o ressarcimento ou restituição de tributos que, indiretamente, gravam o processo de fabrica- ção de produtos exportados, medida adotada por diversos países sob diferentes denominações. Sua aplicação mundial tem como finalidade evitar que produtos sejam exportados com tributos agregados, reduzindo sua competitividade internacional. Especificamente ao Brasil, a própria Constituição estabelece a não incidência de tributos sobre as vendas para o exterior. Assim, torna-se urgente oferecer condições de competitividade à produção nacional, e o relançamento do Reintegra constitui-se em importante ferramenta para se alcançar este objetivo. A exemplo do que ocorre em outros países, seus índices percentuais de ressarcimento devem ser fixados
individualmente para cada produto e definidos conforme sua cadeia produtiva, com alíquotas variáveis limitadas a 10% do valor exportado e vigência por tempo indeterminado. H – Promover feiras e exposições no exterior: O Brasil é reconhecido mundialmente como um país produtor e exportador de commodities, mas também muitos desconhecem que o país possui um grande, moderno e diversificado parque industrial fabricante de produtos manufaturados com baixa, média e alta tecnologia. Para reverter esta situação e criar condições para elevar suas exportações, especialmente de produtos manufaturados, a realização de feiras e exposições no exterior, exclusivamente para produtos brasileiros, em países selecionados conforme sua localização estratégica ou seu potencial de importação, representa efetiva oportunidade para divulgar o Brasil como país industrial, além de proporcionar a abertura de novos mercados, a conquista de novos clientes e a realização de novos negócios de exportação. Esta forma de promover exportações é largamente utilizada por países com forte agressividade comercial, principalmente fabricantes e exportadores de produtos manufaturados, e com destacada participação no ranking mundial de exportação. I – Definir mercados prioritários: A acirrada concorrência comercial mundial exige que países adotem criteriosos parâmetros para selecionar seus mercados prioritários, sem envolver ideologia ou aspectos políticos. Naturalmente, esta escolha deve levar em consideração os produtos que se deseja comercializar no mercado internacional ou que apresentam maior nível de competitividade. Nesse sentido, torna-se importante definir se o Mercosul continua como união aduaneira, se será transformado em área de livre comércio e como será a forma de participação do Brasil. Simultaneamente, todos os esforços devem ser envidados para concretizar a negociação do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. 45 Adicionalmente, devem ser desenvolvidas ações para o Brasil reaproximar-se comercialmente dos EUA, o maior mercado importador do mundo e a vitrine comercial para outros países. Após a definição dos mercados prioritários, deverão ser escolhidas as ferramentas a serem utilizadas para maximizar a participação brasileira naqueles países selecionados. Pelo exposto, pode-se afirmar que o desafio principal que se impõe vencer em prol do comércio exterior brasileiro, nos próximos quatro anos, é realizar as necessárias reformas estruturais e adotar as ações complementares listadas, indispensáveis para a criação de sólidos alicerces para aplicação de um conjunto de ações voltadas para o fortalecimento do comércio exterior brasileiro. A viabilização destes desafios tem como prioridade, nos próximos quatro anos, alcançar os seguintes objetivos: • tornar a exportação uma atividade sempre atrativa, estrategicamente e/ou economicamente; • estimular o desenvolvimento da cultura exportadora; • ampliar a base de empresas exportadoras, tornando-a compatível com o porte do Brasil; • recuperar a participação de produtos manufaturados na pauta de exportação brasileira, mantendo ou elevando, porém, os atuais volumes de exportação de commodities; • recuperar a competitividade perdida dos produtos manufaturados a partir de 2007; • elevar os índices de participação do Brasil no comércio mundial e melhorar a posição brasileira no ranking de países exportadores; Este conjunto de ações propostas tem como finalidade “mais redução de custos e menos taxa de câmbio”, eliminando a dependência da taxa de câmbio na exportação e reduzindo a elevada volatilidade nas taxas cambiais, fatores que geram menor competitividade, atratividade e insegurança para fechar negócios. Apenas como um exercício de futurologia, em 2014, o Brasil vai constatar queda em sua corrente de comércio, ou seja, queda na atividade econômica, não importando o resultado da balança comercial, pois é apenas efeito da redução dos valores de exportação e importação. Em 2015, 2016, 2017 e 2018, esta situação pode se repetir. Basta que sejamos passivos e deixemos o mundo econômico tentar resolver nossos problemas. Em outras palavras, temos que rezar muito, em mandarim, para que a China mantenha seu crescimento econômico em nível elevado e mantenha as cotações das commodities em patamar suficiente para continuar escondendo nossos problemas. O Brasil precisa voltar a rezar em português. Finalmente, apenas como reflexão, em 2013, o valor do PIB do Brasil foi de US$ 2,242 trilhões e o da Coreia do Sul, de US$ 1,221 trilhão. Naquele mesmo ano, as exportações de produtos manufaturados do Brasil alcançaram US$ 93 bilhões e as da Coreia do Sul, US$ 550 bilhões, ou seja, seis vezes mais que as do Brasil. Será que o parque fabril da Coreia do Sul é seis vezes maior que o do Brasil?
José augusto de castro é presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB)
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