05 maio 2022

Alessandra Castilho: Itamaraty atuou para legitimar ditadura brasileira no exterior

No Visões do Brazil, parceria com o Instituto Brasil do King’s College London, doutora em relações internacionais discute pesquisa que mostra como diplomatas atuaram para tentar melhorar a imagem internacional do Brasil durante o regime militar

No Visões do Brazil, parceria com o Instituto Brasil do King’s College London, doutora em relações internacionais discute pesquisa que mostra como diplomatas atuaram para tentar melhorar a imagem internacional do Brasil durante o regime militar

O Ministério das Relações Exteriores desenvolveu uma articulação para tentar conter os desgastes da imagem internacional do Brasil durante a ditadura militar e buscar legitimação para o regime autoritário no exterior. Esta atuação do Itamaraty é o foco da análise da pesquisadora Alessandra Castilho, que acabou de concluir o doutorado dela no programa conjunto entre a USP e o Instituto Brasil do King’s College London. 

Segundo Castilho, é possível perceber três momentos da imagem do Brasil no período da ditadura: No primeiro, em 1964, há o apoio de potências estrangeiras ao golpe, reconhecendo o novo regime. Em seguida, já em 1965, começa a ser percebida uma virada mais autoritária, com aumento de violações de direitos. E depois de 1968, com o AI-5, o Brasil se tornou bastante criticado no sistema Internacional, principalmente com relação à violação de direitos humanos. 

Militares ocupam avenida do Rio de Janeiro em 1968 (Arquivo Nacional)

Foi especialmente neste terceiro momento que se desenvolveu uma articulação da diplomacia Brasileira para conter a má imagem do Brasil no exterior, a pesquisadora explica. Segundo ela, este trabalho do Itamaraty se deu pela “atuação em fóruns internacionais, principalmente na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, na Comissão de Direitos Humanos da ONU para barrar denúncias, além de todo um programa de relações públicas que foi arquitetado”. 

Este programa, segundo ela, foi batizado de “A campanha contra o Brasil no exterior”, e buscava fazer uma “contra-campanha” para combater “o que eles viam como uma campanha de difamação orquestrada pelo movimento comunista Internacional”. O projeto foi bem-sucedido em muitos momentos em que conseguiu evitar julgamentos externos do que acontecia no país.

Além da abordagem histórica da pesquisa sobre a atuação do Itamaraty durante a ditadura, Castilho alega que é possível ver como o discurso da lógica da Guerra Fria empregada à época parece semelhante ao comportamento do MRE nos dias de hoje. 

“É algo muito parecido com o que você vê nos discursos da política externa. Se na época o foco eram os direitos humanos, hoje é a política brasileira com relação à COVID-19, a política brasileira para o meio ambiente”, disse. Segundo ela, no discurso presidencial atual, as críticas são vistas como uma campanha conspiratória para difamar o Brasil perante a comunidade Internacional da mesma forma como acontecia na ditadura, mesmo sem nenhuma evidência de qualquer conspiração real.

Editor-executivo do portal Interesse Nacional. Jornalista e doutor em Relações Internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. Mestre pelo KCL e autor dos livros Brazil’s international status and recognition as an emerging power: inconsistencies and complexities (Palgrave Macmillan), Brazil, um país do presente (Alameda Editorial), O Brazil é um país sério? (Pioneira) e O Brasil voltou? (Pioneira)

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