No Visões do Brazil, parceria com o Instituto Brasil do King’s College London, pesquisador dinamarquês analisa a operação policial que deixou mais de 20 mortos no Rio de Janeiro e os impactos da violência do Estado para a cidadania no Brasil
A operação policial que deixou mais de 20 mortos na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, foi apresentada pelas forças de segurança e pelo governo do Estado como uma vitória contra “bandidos” da maior facção criminosa do Rio de Janeiro. Para o pesquisador dinamarquês Christoffer Guldberg, entretanto, a ação precisa ser problematizada para entender que as pessoas que estão sendo mortas em ações deste tipo são cidadãos que precisam ter seus direitos respeitados.

“É automaticamente aceito que [os mortos] são bandidos. Em uma sociedade democrática, de direito, não é papel da polícia decidir quem é bandido. E também não tem pena de morte no Brasil”, avaliou Guldberg, que defendeu sua tese de doutorado neste ano após pesquisar cidadania e pacificação em favelas no Rio, com foco no caso Amarildo.
Segundo ele, é importante ressaltar que não há uma população no meio de policiais e bandidos, eque todos são cidadãos que estão tendo seus direitos desrespeitados. “A ideia da cidadania e as práticas da cidadania são expressas de maneira jurídica formalmente abrangente, mas em que os direitos que pertencem a essa cidadania formal são desigualmente distribuídos”, explicou
O pesquisador disse que é importante analisar os contextos e objetivos dessas operações. Assim, ele diz, é possível ver que há clara influência do racismo e de uma tentativa de controlar e limitar a ação de populações pobres e negras nas favelas.
“Desde a abolição temos práticas de criminalização de pessoas negras, práticas que visam controlar as pessoas negras e, particularmente, as pessoas negras e pobres”, disse. Neste contexto, a criminalização das drogas é na verdade uma tentativa de “criminalizar certos tipos de pessoas”.