18 novembro 2022

Editorial: O Brasil voltou

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva falou o que a comunidade internacional queria e precisava ouvir, ao discursar na COP 27, no Egito. Depois de um período de ausência, o Brasil voltou em grande estilo ao cenário internacional e se apresenta como um dos atores mais importantes em um tema global: a questão ambiental

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva falou o que a comunidade internacional queria e precisava ouvir, ao discursar na COP 27, no Egito. Depois de um período de ausência, o Brasil voltou em grande estilo ao cenário internacional e se apresenta como um dos atores mais importantes em um tema global: a questão ambiental

O presidente eleito Luiz Inácio lula da Silva discursa durante a COP (foto: Ricardo Stuckert)

Por Rubens Barbosa*

Depois de um período de ausência, um ponto fora da curva, o Brasil voltou em grande estilo ao cenário internacional. O tema do meio ambiente e da mudança do clima é hoje talvez o tema global de maior importância para todos os países. Pela primeira vez na história do Brasil independente, nosso pais está como um dos atores mais importantes em um tema global.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva falou o que a comunidade internacional queria e precisava ouvir, ao discursar na COP 27, no Egito. Lula adotou o tom de mudança esperado na Cúpula do Clima e, em discurso afirmativo, faz com que o país volte a ser um dos líderes e protagonistas da agenda internacional. O Brasil agora vai passar a ser de novo um dos líderes e um dos protagonistas nas discussões ambientais.

Deu vários recados internos e externos, fez cobranças, fez propostas, em um discurso que recolocou a política externa do Brasil no seu leito tradicional.

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Internamente, prometeu recriar os órgãos controladores da preservação da floresta, criar o Ministério dos Povos Originários, adotar medidas fortes para coibir os ilícitos da Amazônia, para permitir que o Brasil alcance e cumpra as metas das reduções de emissão de gás carbônico, anunciadas na última reunião da COP 26, que tratou das metas do Acordo de Paris. Reafirmou os compromissos do Brasil e adiantou como pretende fazer para viabilizar esses compromissos.

Dentre as principais sugestões no cenário externo anunciadas pelo presidente eleito, cabe mencionar o pedido para a realização da COP 30 no Brasil em 2025, a criação de um grupo sul-americano de meio ambiente e o apoio ao grupo Brasil-Indonésia-Congo, recém criado. No tocante a realização da COP em 2025, Lula observou que na conversa com o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediria para que a COP de 2025 seja realizada na Amazônia. Trata-se de um oferecimento simbólico porque, como a região está no foco das preocupações globais sobre a mudança do clima, oferecer a realização na Amazônia é um gesto muito forte e poderoso. Apesar da escassez de fundos internacionais, devido às dificuldades enfrentadas como a guerra da Rússia contra a Ucrânia, Lula também cobrou recursos dos países desenvolvidos para ajudar os países em desenvolvimento como Brasil, Indonésia e países da África, prometidos há alguns anos.

Centro da política externa

A presença do presidente eleito no Egito serviu também para mostrar uma mudança de orientação na politica externa, com a volta do Brasil a ter um papel de protagonismo no cenário internacional e começar a recuperar a percepção externa do país. Com o pronunciamento na COP, Lula colocou o meio ambiente no centro da política externa, o que é muito importante, porque vai fazer com que a credibilidade do país se reverta rapidamente, favorecendo investimentos e apoio financeiro ao Brasil.

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Conselho de Segurança da ONU

Lula mencionou a questão da governança global ao fazer uma crítica específica às Nações Unidas, ainda baseadas na ordem internacional de 1945, depois do fim da guerra, e a necessidade de modernizar o Conselho de Segurança, o órgão decisório mais importante, que não mais representa as modificações ocorridas no cenário internacional nos tempos atuais. O pronunciamento do presidente eleito dá mais força para ao Brasil como um dos candidatos para assumir uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, se efetivamente a reforma no órgão ocorrer.

Combate à fome

O presidente eleito ainda mencionou no discurso no Egito o enfrentamento à fome, fazendo referência ao impacto sobre as populações mais pobres em varias partes do mundo, em virtude das mudanças climáticas. Com isso, colocou o Brasil também como protagonista nessa questão.


*Rubens Barbosa foi embaixador do Brasil em Londres, é diplomata, presidente do Instituto Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e coordenador editorial da Interesse Nacional.

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Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994–99) e em Washington (1999–04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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