19 maio 2022

Fernanda Odilla: Apesar de ter muitas iniciativas de combate à corrupção, Brasil tem dificuldade de envolver a população no processo

No Visões do Brazil, parceria com o Instituto Brasil do King’s College London, pesquisadora da Universidade de Bolonha discute formas pelas quais a sociedade luta contra corrupção em diferentes países, como o Brasil se destaca no desenvolvimento de métodos para aumentar transparência e o que o país pode aprender com o que é feito no resto do mundo

No Visões do Brazil, parceria com o Instituto Brasil do King’s College London, pesquisadora da Universidade de Bolonha discute formas pelas quais a sociedade luta contra corrupção em diferentes países, como o Brasil se destaca no desenvolvimento de métodos para aumentar transparência e o que o país pode aprender com o que é feito no resto do mundo

O Brasil tem se destacado em um estudo internacional sobre iniciativas de combate à corrupção em diferentes partes do mundo. O país tem sido um dos que registram maior número de projetos diferentes buscando uma maior transparência no uso do dinheiro público. Ainda assim, muitas das iniciativas brasileiras enfrentam dificuldades em se difundirem na sociedade e envolver os cidadãos em suas ações.

Manifestação contra a corrupção no Distrito Federal (Toninho Tavares/Agência Brasília)

“A gente foi surpreendido por uma enorme quantidade de iniciativas da sociedade que desenvolvem tecnologias próprias, como chatbot, robô que automatiza raspagem e cruzamento de dados e até a inteligência artificial. Se comparado com os outros países do projeto, o Brasil é disparado o que tem mais iniciativas”, explicou a pesquisadora Fernanda Odilla, doutora em ciências sociais e políticas públicas pelo Brazil Institute do King’s College London que atualmente é pesquisadora do grupo que analisa a corrupção em vários países na Universidade de Bolonha, na Itália.

Segundo ela, é possível argumentar que o avanço no país se dá porque o Brasil é um dos países que têm mais demanda desse tipo. A corrupção é considerada um problema grave no Brasil, e o país não está bem posicionado nos rankings de percepção de corrupção. Seria compreensível, portanto, entender as pessoas reagindo de alguma forma. 

O resultado dessas iniciativas, entretanto, surpreende de forma negativa. Apesar de surgirem vários projetos, e de eles conseguirem dar o passo mais difícil, que é ter a ideia e tirar ela do papel, “essas iniciativas enfrentam muita dificuldade de engajar o cidadão comum. Fazer as pessoas usarem essas ferramentas”, disse Odilla. “É isso que eu estou tentando entender no momento. Qual é essa dificuldade? Se é falta de interesse, se o interesse enviesado, selecionado, ou se é de fato uma estafa, um cansaço que acabou resultando em uma tolerância à corrupção.” 

Depois de trabalhar por anos como repórter de política em Brasília, Odilla tem dedicado seus estudos acadêmicos no mestrado e no doutorado a entender a punição para corrupção. Em sua pesquisa no King’s, ela buscou analisar o que motiva as pessoas a investigar a corrupção, a reagir contra a corrupção e como ocorrem as punições administrativas contra a corrupção.

Seu trabalho analisou os casos de servidores públicos do Executivo federal que foram expulsos por causa de corrupção, traçando um perfil dessas pessoas. “Os punidos por corrupção, em sua maioria, são homens que não estão no início da carreira e que normalmente recebem salários maiores”, explicou. Segundo ela, esses que recebem salários maiores são também aqueles que conseguem ser reintegrados ao cargo após recorrem ao Judiciário.

Editor-executivo do portal Interesse Nacional. Jornalista e doutor em Relações Internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. Mestre pelo KCL e autor dos livros Brazil’s international status and recognition as an emerging power: inconsistencies and complexities (Palgrave Macmillan), Brazil, um país do presente (Alameda Editorial), O Brazil é um país sério? (Pioneira) e O Brasil voltou? (Pioneira)

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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