Hayle Gadelha: Não há evidências que o Brasil seja uma potência de soft power
No Visões do Brazil, parceria com o Brazil Institute do King’s College London, diplomata analisa o mito do poder suave brasileiro e diz que país tem potência em medidas tradicionais de poder
No Visões do Brazil, parceria com o Brazil Institute do King’s College London, diplomata analisa o mito do poder suave brasileiro e diz que país tem potência em medidas tradicionais de poder
A projeção internacional do Brasil costuma ser interpretada segundo a ideia de que o Brasil tem muito soft power, e é um país admirado pelo resto do mundo, mas que não tem um grande potencial de hard power –seja poder militar ou econômico. Para o diplomata Hayle Gadelha, esta avaliação não tem base, e os dados mostram que o Brasil na verdade tem mais potência em medidas tradicionais de poder do que em medidas de imagem e reputação.
“Nós crescemos com essa ideia de que o Brasil é um país especialmente simpático, por sua alegria, por sua criatividade, e o que eu quero chamar atenção é que nós fazemos isso sem ter nenhuma evidência que aponte para isso. Pelo contrário, quando nós vamos atrás de evidências, percebemos que, ao invés de ter um soft power mais alto que o nosso hard power, acontece o oposto”, explicou Gadelha, que é doutor em relações internacionais pelo Brazil Institute do King’s College London.
O diplomata analisa os dados sobre o potencial do país: “O Brasil tem o quinto território do planeta, a sexta população, hoje, com a perdas recentes de posição, é décima segunda economia e, na área militar, embora a mensuração seja complicada, no ranking mais citado nós somos hoje estamos na décima posição mundial. Então nós somos uma potência em vários desses recursos tradicionais de poder, enquanto que os rankings que avaliam o soft power, a reputação do país, vão na direção oposta. A gente sequer se encontra entre os vinte principais”, disse.
“Não há evidências de que o Brasil seja uma potência de soft power como nós acreditamos”, avaliou.
Gadelha faz a ressalva de que todos os referenciais de medida de soft power têm uma perspectiva norte-americana e europeia, e que muitos têm problemas –o que pode justificar as discrepâncias encontradas.
Segundo ele, ter uma noção sobre essas diferentes avaliações do país podem ajudar a avaliar a inserção internacional do Brasil e pensar o possível consenso social e a imagem que a sociedade vai querer passar ao mundo.
Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional. A opiniões apresentadas não não refletem a posição oficial do Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
Editor-executivo do portal Interesse Nacional. Jornalista e doutor em Relações Internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. Mestre pelo KCL e autor dos livros Brazil’s international status and recognition as an emerging power: inconsistencies and complexities (Palgrave Macmillan), Brazil, um país do presente (Alameda Editorial), O Brazil é um país sério? (Pioneira) e O Brasil voltou? (Pioneira)
Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional