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Livro faz apologia da diplomacia como ofício invisível do uso do tempo contra o mal

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Em entrevista, diplomata Paulo Fernando Pinheiro Machado fala sobre ‘Centelhas da Tempestade’, obra em que discute a desintegração do atual sistema internacional por quatro forças: pandemia de Covid-19, Segunda Guerra Fria, desigualdade estrutural e novas tecnologias

Por Daniel Buarque

O trabalho de diplomatas em todo o mundo enfrenta uma barreira importante para o reconhecimento da sua atuação. Quanto mais eficaz for o empenho desses profissionais, mais invisível eles vão se tornar. “O ofício do diplomata, é usar o tempo para evitar um mal, mais do que criar alguma coisa. É muito difícil a gente avaliar o que os diplomatas estão fazendo, porque muitas vezes eles estão usando o tempo para evitar que um mal maior aconteça. Só que, se esse mal maior não acontecer, ninguém vai ficar sabendo se a ação diplomática teve sucesso ou não”, explicou o diplomata Paulo Fernando Pinheiro Machado em entrevista à Interesse Nacional

A avaliação é um dos pontos importantes que ele aborda no livro “Centelhas da Tempestade: A Diplomacia em um Mundo em Transformação”, que acaba de ser lançado. A obra pode ser lida como uma ode ao trabalho dos diplomatas, e discute a importância da diplomacia em um momento de grandes transformações mundiais. Para Pinheiro Machado, o planeta esta passando por um processo de desintegração do atual sistema internacional por quatro forças: pandemia de Covid-19, Segunda Guerra Fria, desigualdade estrutural e novas tecnologias.

Leia abaixo a entrevista completa.

Daniel Buarque – o livro soa como uma ode, uma apologia da diplomacia. Em um contexto atual, com tantas instabilidades e uma guerra que deixa o mundo em atenção, como fica o papel da diplomacia?

Paulo Fernando Pinheiro Machado – É muito difícil a gente avaliar como a diplomacia pode atuar ou não, porque ela opera em um tempo diferente. O uso do tempo é a chave para entender a diplomacia em relação a outras atividades. Não é como, por exemplo, a atividade militar, a atividade política, a atividade jornalística. O ofício do diplomata, é usar o tempo para evitar um mal, mais do que criar alguma coisa. É muito difícil a gente avaliar o que os diplomatas estão fazendo, porque muitas vezes eles estão usando o tempo para evitar que um mal maior aconteça. Só que, se esse mal maior não acontecer, ninguém vai ficar sabendo se a ação diplomática teve sucesso ou não. Então essa é a grande tragédia da diplomacia. Ela é tanto mais eficaz quanto mais invisível ela for. E isso em um mundo em que as pessoas têm uma demanda por ações imediatas e frases de efeito acaba dando um pouco fora do contexto

Daniel Buarque – Um dos focos do seu livro é justamente discutir elementos de longo prazo da vida internacional. Como é possível fazer esse distanciamento e pensar longo prazo quando estamos mergulhados em um noticiário em que tudo parece tão urgente?

Paulo Fernando Pinheiro Machado – A ideia é separar os problemas mediatos dos problemas imediatos. Assim lidar com os problemas imediatos, esperando que o tempo traga outras soluções para os problemas mediatos. Isso é sempre algo que é muito difícil de balançar. O diplomata passa para o nível de estadista a partir do momento em que ele consegue calibrar essas duas coisas. É ação no curto prazo com vistas para objetivos de longo prazo. Para para que isso seja possível, é necessário que o diplomata, o estadista, tenha em mente uma visão da ordem internacional. É daí que vem a alegoria do diplomata como caçador de nuvens. As nuvens são o curto prazo, são aquelas coisas que estão mudando o tempo inteiro. A gente tem que conseguir ver o que está atrás delas, os elementos imutáveis, ou mutáveis de muito longo prazo. A gente conseguir se fixar naqueles elementos é maiores que vão dar um norte que a gente tem que seguir. A reflexão diplomática é muito mais profunda, tem que lidar com capacidades reais, com poderes reais e não é tão simples quanto se pensa.

Daniel Buarque – O livro diz que a diplomacia é um instrumento para a realização externa de objetivos internos. Como é possível pensar nesse instrumento quando não se consegue definir claramente quais são os objetivos da política interna? 

Paulo Fernando Pinheiro Machado – Esse ponto é crucial. É muito difícil criar uma ação externa com um objetivo claro, se a gente não tem claro qual é a nossa visão de Brasil?  Não é um privilégio do Brasil, mas em em muitos países criou-se uma divisão muito grande de dois polos com visões diferentes desses países. Por exemplo, nos Estados Unidos há dois projetos de país completamente distintos. E a gente tem isso no Brasil até de forma menos clara. O Brasil padece disso historicamente, pela dificuldade da imagem do Brasil, pois o Brasil é um estado que veio antes de uma nação. São vários projetos de nação que vão se confluindo, mas não se realizam. Essa é uma dinâmica muito importante no Brasil e cria realmente um entrave para a ação externa, já que o problema interno não foi resolvido. 

Daniel Buarque – Por outro lado, existe uma visão sobre a solidez da tradição diplomática Brasileira. Como podemos ter uma tradição diplomática tão sólida sem ter esse outro lado da definição do projeto do país? 

Paulo Fernando Pinheiro Machado – Essa é uma das grandes contradições. E há níveis em que se pode analisar isso. O Brasil desde os tempos coloniais, por exemplo, é um espaço de tolerância. Isso muitas vezes havia um aspecto positivo e um aspecto negativo, que era ser o país da acomodação. Havia esse tom de liberdade, que se reflete no aspecto externo na visão de o Brasil de ser um país amante da paz, que acredita no direito Internacional, na solução pacífica de controvérsias, que acredita no direito do outro ao desenvolvimento. 

Daniel Buarque – O livro apresenta quatro principais forças que estão desintegrando o atual sistema internacional e moldando o novo sistema ainda em formação, que irá substituí-lo. Essas quatro forças são a pandemia de Covid-19, a Segunda Guerra Fria, a desigualdade estrutural e as novas tecnologias. Como vê o sistema que está em gestação?

Paulo Fernando Pinheiro Machado – O que se vê claramente é um caminho em que a tecnologia permite um controle muito maior da vida das pessoas, uma diminuição da liberdade e das possibilidades de realização do ser humano dentro desse sistema. O maior risco é que se construa um sistema no qual o homo sapiens deixe de ser o elemento e a gente passe a ter outras formas de ser humano. Um exemplo disso é a biogenética, a possibilidade de fazer edição genética em bebês, ou a criação de híbridos, um relacionamento do ser humano com a máquina, com inteligência artificial que vai mudar a relação das pessoas com a realidade. O grande debate para as próximas décadas vai ser como construir um sistema que seja tecnologicamente muito pesado, mas que ao mesmo tempo tenha no centro dele a valorização do ser humano. Como é que a gente entra nesse sistema e o estrutura de uma maneira que seja baseada no direito, em regras claras, mas que tenham o ser humano como o centro e como preocupação fundamental em um momento em que a própria ideia de ser humano está sendo colocada em xeque. 

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