A desaceleração da indústria brasileira
O fortalecimento da indústria será indispensável para o crescimento sustentável da economia, para o aumento do emprego e da renda no país. Chegou a hora de a indústria se articular para cobrar dos futuros candidatos a Presidência da República planos concretos para ajudar o crescimento e o fortalecimento do setor industrial

A retomada de um crescimento sustentável da indústria brasileira é um dos desafios para o futuro governo. Foram bons os tempos em que a indústria brasileira representava 26% do PIB, como na segunda metade da década de 1980. Hoje a indústria de transformação representanta cerca de 11% do PIB.
Segundo estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), com dados da UNIDO, no segundo trimestre de 2025, a indústria brasileira desacelerou e caiu significativamente em ranking global. O Brasil caiu de 38º. Para 59º. Em comparação entre 79 países.
‘A indústria de transformação global cresceu 1,1% no segundo trimestre, em relação ao trimestre anterior, já descontados os efeitos sazonais. Essa variação vai na contramão do resultado do Brasil, que apresentou queda de 0,6%’
De acordo com os dados da UNIDO, a indústria de transformação global cresceu 1,1% no segundo trimestre, em relação ao trimestre anterior, já descontados os efeitos sazonais. Essa variação vai na contramão do resultado do Brasil, que apresentou queda de 0,6%, enquanto houve um aumento médio de 0,5% na América Latina e Caribe.
Na comparação anual, o quadro é ainda mais desfavorável. Em 2024, a taxa de crescimento no mundo foi de 4%, na América Latina e Caribe, 2,4% e no Brasil, 0,4%.
O fraco desempenho da indústria pode ser explicado por causas estruturais e conjunturais.
De imediato, a alta taxa de juros (15%) e o preço da eletricidade afetam diretamente a capacidade de investimento. As razões estruturais são a baixa produtividade e competitividade, a ineficiência da burocracia estatal, problemas de infraestrutura e logística e elevada carga tributária, o chamado Custo Brasil.
‘Em uma visão de curto e médio prazo, não se espera uma mudança de cenário para a indústria nos próximos meses, e a indústria deve continuar com baixo desempenho’
Em uma visão de curto e médio prazo, não se espera uma mudança de cenário para a indústria nos próximos meses, e a indústria deve continuar com baixo desempenho, podendo mesmo, dependendo do comportamento da economia, ter um desempenho negativo. O segundo semestre de 2025 começou repetindo a mesma tendência de desaceleração observada desde o início do ano.
Pelas projeções do Banco Central, a economia brasileira vai crescer menos e em ano eleitoral não se espera grandes mudanças.
O programa Nova Indústria Brasileira, aprovado pelo governo Lula, apresentou alguns avanços, mas ainda não está impactando positivamente a evolução da indústria. Espera-se que a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII) possa ter o mesmo sucesso que a EMBRAPA na agricultura.
‘Do ponto de vista da indústria, o índice indica que o desempenho brasileiro é moldado pelas commodities, e não pela exportação de tecnologia e conhecimento’
O Ranking Mundial de Competitividade 2025, divulgados pelo International Institute for Management Development (IMD), em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC), mostrou o Brasil avançando quatro posições no saindo do 62º para o 58º lugar entre 69 países analisados. Embora este seja o melhor desempenho desde 2021, a análise aponta que a melhora não representa um avanço estrutural pois o país ainda está entre as nações com desempenho inferior à média. E pior, do ponto de vista da indústria, o índice indica que o desempenho brasileiro é moldado pelas commodities, e não pela exportação de tecnologia e conhecimento.
Os avanços tecnológicos começam de forma ainda tímida a serem incorporados pelas indústrias, mas falta uma visão estratégica, de médio e longo prazo, para estabilizar a economia e dar segurança jurídica aos investidores.
Nenhum país das dimensões e da população do Brasil cresceu somente respaldado pelo crescimento do agronegócio e das exportações dessa área. O fortalecimento da indústria será indispensável para o crescimento sustentável da economia, para o aumento do emprego e da renda no país. Chegou a hora de a indústria se articular para cobrar dos futuros candidatos a Presidência da República planos concretos para ajudar o crescimento e o fortalecimento do setor industrial.
Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994–99) e em Washington (1999–04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.
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