Acordo Mercosul-UE é boa notícia em ano marcado por crises para a cidadania global
Para Pedro Dallari, “a integração da União Europeia com o Mercosul e, de uma maneira mais ampla, da Europa com a América Latina, gera uma perspectiva de efetivo fortalecimento do multilateralismo”
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O professor Pedro Dallari analisa o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, que foi firmado na última sexta-feira, dia 6 de dezembro, entre dirigentes sul-americanos e europeus.
“Este é um acordo essencialmente comercial, a princípio. Seu objetivo é integrar dois espaços geográficos, que já são integrados cada um por si. Tanto o Mercosul quanto a União Europeia são basicamente uniões de países que asseguram a liberdade de circulação econômica dentro de cada espaço, de tal maneira que, em uma explicação muito simples, não haja praticamente barreiras comerciais dentro de cada bloco.”
“Assim, o que se pretende com um acordo entre o bloco do Mercosul e o da União Europeia é integrar os dois blocos de tal maneira que não haja barreiras comerciais, impostos de exportação e importação, ou seja, que os cinco países do Mercosul e os 27 países da União Europeia possam comercializar seus produtos livremente”, explica Dallari. Para ele, embora o acordo dependa de uma série de providências para efetivamente entrar em vigor, há a perspectiva de um mercado comum com uma integração de 718 milhões de pessoas.
Segundo o professor, “o impacto dessa integração vai além da perspectiva que se tem de um mero acordo comercial. Na verdade, em um contexto de crises muito graves, com acentuação do aquecimento global e dos extremos climáticos, com a guerra na Ucrânia, com os conflitos no Oriente Médio, a crise no multilateralismo e uma tendência de relações internacionais baseadas numa bipolaridade envolvendo Estados Unidos e China, a integração da União Europeia com o Mercosul e, de uma maneira mais ampla, da Europa com a América Latina, gera uma perspectiva de efetivo fortalecimento do multilateralismo”.
Dallari cita o texto produzido pelo Ministério de Relações Exteriores do Brasil sobre o acordo, que considera “com muita clareza que, em um quadro global de crescente contestação do Estado de Direito, da justiça social e da solução pacífica de conflitos, o acordo entre o Mercosul e a União Europeia representa a associação entre duas regiões que compartilham valores e interesses comuns, como a defesa da democracia, o multilateralismo e a promoção dos direitos humanos.
E essa foi justamente a diretriz defendida recentemente na USP, na Cátedra José Bonifácio, por Álvaro de Vasconcelos, que coordenou uma obra notável intitulada Europa e América Latina: A Convergência Necessária“.
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