24 março 2025

Ainda as tarifas e o comércio

Imposição de taxas pelo presidente americano cria um cenário de incertezas e preocupações nas relações comerciais, mas pode também abrir oportunidades para o Mercosul e o Brasil

(Foto: Casa Branca)

Há cerca de uns dez anos atrás comentava-se que as proteções dos mercados no comércio internacional seria através de medidas técnicas ou regras fitossanitárias.

Com a recente posição do Governo Trump de proteger seu mercado interno através do lançamento de uma política protecionista a partir da elevação das tarifas de importação, o tema volta à atualidade.

O anúncio em meados de março da aplicação de tarifa adicional para aço e alumínio e seus produtos industrializados foi aplicada contra todas as procedências, segundo justificativa do governo americano de propiciar o ressurgimento da indústria local para estes setores.

‘Com as tarifas, todas as exportações ficarão elevadas em igual e, em consequência, haverá o encarecimento para as produções dos setores que passaram a utilizar produtos importados’

Por tratar-se de uma medida de abrangência geral, todas as exportações ficarão elevadas em igual e, em consequência, haverá o encarecimento para as produções dos setores que passaram a utilizar produtos importados, uma vez que não será possível a rápida substituição de importações.

Há muito tempo os Estados Unidos, com base em uma política ambiental, tomaram a decisão de tentar salvar a poluída cidade de Pittsburgh  terminando com a produção de aço na região bem como a geração de energia a partir das termelétricas operadas a carvão.

Em nova política adotada agora está proibida a ampliação de centrais eólicas de produção de energia em benefício das usinas a carvão  amparado em uma nova política industrial, e claro terá sucesso no médio e longo prazos se baseada em financiamentos atrativos e interesse do setor  privado na iniciativa.

‘As exportações brasileiras para os Estados Unidos de aço e alumínio estão concentradas em produtos acabados e é de se esperar pouca alteração para nossas exportações’

As exportações brasileiras para os Estados Unidos de aço e alumínio estão concentradas na  maioria em produtos acabados  e é uma parte importante de nossa pauta exportadora de produtos com valor agregado e, como estamos sujeitos à tarifação como os demais exportadores, é de se esperar pouca alteração para nossas exportações.

Também entrou em vigor a aplicação pelos Estados Unidos de tarifa adicional de 20% aos produtos importados da China. Trata-se de aumento  adicional sobre as já elevadas tarifas aplicadas, objeto de ações governamentais anteriores e, desta forma, as importações da China estarão sujeitas à tarifas de 39%, um valor elevado que temos que aguardar para avaliar as consequências.

Nos últimos anos a China adotou uma política de boa vizinhança com seus parceiros asiáticos: Vietnã, Tailândia, Malásia etc., e estabeleceu a produção local, a partir de empresas chinesas instaladas nesses países. É bem possível que parte das exportações chinesas seja deslocada para estes países livrando-se desta maneira das elevadas tarifas americanas.

‘A elevação tarifária por parte da China pode alterar a origem de importações, e o Mercosul é uma região privilegiada para suprir esta necessidade’

A elevação tarifária por parte da China sobre milho, soja e outros produtos agrícolas e pecuários exportados pelos Estados Unidos a primeira vista representa um fator de encarecimento destes produtos e seus derivados, mas é bem provável que esteja no “radar chinês” alterar a origem destas importações, e neste caso o Mercosul é uma região privilegiada para suprir esta necessidade. 

A definição sobre a aplicação de taxa de 25% sobre a totalidade das exportações aos Estados Unidos dos produtos  do México e Canadá foi adiada depois de sua aplicação anunciada, seguramente pela ação dos setores automobilístico e de alimentos dos Estados Unidos, que são altamente dependentes das importações canadenses e mexicanas.

As exportações canadenses e mexicanas aos Estados Unidos têm uma pauta bem variada e são da ordem de US$ 500 bilhões/ano para cada país,  com boa parte dos produtos dos setores agrícola e alimentos, que em caso de taxação poderá ocasionar um aumento significativo de preços e, em consequência, inflação nos Estados Unidos.

Outro setor envolvido é o automotivo, onde a estratégia das empresas de atuação internacional escolheram produzir autos, caminhões e ônibus, e sobretudo autopeças no México, beneficiando-se do Programa Pitex, com importações de partes e componentes do mercado internacional, livre de impostos  para agregação local de mão de obra e exportação de conjuntos montados.

Interromper esta política de produção vigente há mais de 20 anos desde a criação do acordo NAFTA e reformado recentemente no primeiro governo Trump é o que as empresas americanas produtoras no México estão procurando interceder junto ao governo americano na busca de uma solução abrandada e negociada.

É de se esperar, para o encaminhamento desta situação uma ampla negociação das partes, incluindo os setores privados dos países envolvidos, difícil de prever-se hoje o caminho a ser seguido.

Mario Mugnaini Jr. é colunista da Interesse Nacional, engenheiro industrial químico e empresário, foi vice-presidente da Fiesp/Ciesp entre 1998 e 2002, secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior Camex MDIC entre 2003 e 2007 e presidente da Investe SP, Agência Paulista de Investimentos e Competitividade de 2009 a 2011.

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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Comércio Exterior 🞌

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