12 maio 2025

As projetadas novas rotas do comércio internacional

Novas rotas de comércio exterior estão redesenhando os fluxos globais, com projetos interoceânicos, portos de águas profundas e corredores logísticos em diversos continentes. Iniciativas na América do Sul, na Eurásia e até no Ártico apontam para um futuro em que o tempo, o custo e a geopolítica definirão os caminhos do comércio internacional

Os chineses, desde os tempos de comércio entre o Oriente e a Europa, dominaram o transporte terrestre, partindo da China para atingir a mais notável cidade de comércio da época, Veneza, comercializando seda, pedras preciosas, e certos tipos de metais.

Recentemente a China lançou as bases de um mega projeto de infraestrutura, compreendendo a realização de obras de ferrovias de forma a modernamente atingir os mercados da Europa e África para suas exportações.

Trata-se da “Nova Rota da Seda”, iniciativa da China e participação de  países localizados no  trajeto de realizar esta logística complexa, previsto seu término em 2049.

‘A China está financiando projetos de ligação ferroviária com o Vietnã, criando as bases para a concretização de sua presença comercial na região’

Em paralelo, a China está financiando projetos de ligação ferroviária com o Vietnã, através da implantação do trem de alta velocidade bem como por meio de projetos similares com outros países, criando as bases para a concretização de sua presença comercial na região.

Bem distante do projeto “Rota da Seda”, mas sem dúvida estabelecido dentro da estratégia chinesa de aumentar sua presença comercial na América Latina, foi desenvolvido o projeto do porto de Chancay no litoral  norte do Peru, com financiamento e construção pela China.

Trata-se de um projeto de porto em águas profundas, de forma a permitir o uso de grandes porta contêineres e graneleiros no comércio da China com os países andinos em uma fase inicial, mas no longo prazo, mediante obras de infraestrutura atingir o Brasil, a Argentina e o Paraguai .

‘[A mudança] permite a redução da viagem marítima de 40 para 28 dias, além da economia da passagem pelo Panamá’

As exportações das commodities agrícolas do Brasil para a China utilizam o Canal do Panamá, que comparado com a ligação terrestre entre um porto no Sudeste do Atlântico e um porto no Pacífico e atingir-se um porto chinês, permite a redução da viagem marítima de 40 para 28 dias, além da economia da passagem pelo Panamá.

Os chineses , com sua paciência milenar, podem esperar e trabalhar no tempo para encontrar parcerias para viabilizar a interligação do porto de Chancay ao noroeste e sudeste do Brasil e de igual forma o Paraguai e o norte da Argentina.

Outro novo caminho facilitador para as exportações dos países  do Mercosul para o Sudeste Asiático é o projeto denominado  “Interligação Bi Oceânica ”, ligando o oceano Atlântico ao Pacífico, investimento rodoviário  de 3.000 km, a cargo dos países do Mercosul.

‘O projeto no Brasil engloba as estradas do Estado de São Paulo, a construção da nova ponte sobre o rio Paraná,  entre os estados de Mato Grosso do Sul e Paraná’

O projeto, prevista sua conclusão em 2026, no Brasil engloba as estradas do Estado de São Paulo, a construção da nova ponte sobre o rio Paraná,  entre os estados de Mato Grosso do Sul e Paraná, passando em seguida pelo Paraguai, norte da Argentina e finalmente chegando aos portos de  Antofagasta e Iquique no Chile.

A grande dificuldade está no cruzamento da Cordilheira dos Andes, entre a Argentina e o Chile, com elevada altitude a ser vencida, notadamente no período de inverno, além de a estrada atual não permitir o uso de grandes caminhões. 

A solução, bem conhecida, é a realização de um túnel, o que permitiria uma ligação mais rápida e a utilização de caminhões bi-articulados com expressivo ganho econômico no transporte.

‘A interligação a partir do norte do Chile seria uma solução para a ampliação do uso econômico  do porto’

A interligação a partir do norte do Chile via rodoviária ampliada pode-se chegar ao porto do Chancay, o que seria uma solução para a ampliação do uso econômico  do porto. 

Por fim, a nova discussão no momento á a “Rota do Ártico”, passando ao lado da costa da Groenlândia para atingir-se a Ásia, um projeto no passado nunca discutido sua viabilidade, mas seguramente hoje com as informações disponíveis sobre o degelo na região, as perspectivas podem indicar interesse na rota.

A Rússia não tem demonstrado opinião contrária à esta iniciativa americana, pois a nova rota permite uma saída de seus portos asiático ao Atlântico Norte. 

O presidente Donald Trump tem se referido a este projeto e demonstrado  interesse em ter a Groenlândia sob a influência política americana, na realidade um forte interesse na prospecção mineral na ilha, potencial ainda não totalmente conhecido.

Trata-se de  uma perspectiva de geopolítica embrionária americana , mas o tempo  indicará sua potencialidade de concretização.

Mario Mugnaini Jr. é colunista da Interesse Nacional, engenheiro industrial químico e empresário, foi vice-presidente da Fiesp/Ciesp entre 1998 e 2002, secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior Camex MDIC entre 2003 e 2007 e presidente da Investe SP, Agência Paulista de Investimentos e Competitividade de 2009 a 2011.

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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