Daniel Buarque: Governo consolida diplomacia ambiental como ferramenta para projeção do Brasil no mundo
Após anos de deterioração da imagem do país por conta da falta de cuidado com o ambiente durante o governo Bolsonaro, Brasil se beneficia e ações contra o aquecimento global. Visita de John Kerry ao país e aceno de apoio americano ao Fundo Amazônia indicam que ações na área podem ajudar o país a conquistar […]
Após anos de deterioração da imagem do país por conta da falta de cuidado com o ambiente durante o governo Bolsonaro, Brasil se beneficia e ações contra o aquecimento global. Visita de John Kerry ao país e aceno de apoio americano ao Fundo Amazônia indicam que ações na área podem ajudar o país a conquistar um papel relevante no mundo.
Por Daniel Buarque*
Em menos de dois meses, o novo governo brasileiro está conseguindo consolidar a diplomacia ambiental como sendo uma das principais ferramentas para a projeção internacional do país.
Por mais que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha voltado a abrir várias frentes de atuação para fazer o país ter um papel relevante no mundo — como a tentativa de ter um papel de liderança regional e a proposta de mediação de paz na guerra da Ucrânia –, o reconhecimento externo das políticas de proteção da Amazônia e de combate ao aquecimento global parece ser um caminho importante a ser seguido pelo país.
Isso é especialmente relevante pela comparação com o governo anterior. Após quatro anos de deterioração da reputação do país na área ambiental por conta das ações de Jair Bolsonaro, que sabotou ações de proteção da Amazônia, a mudança de discurso e de ação iniciada logo após a eleição de Lula começa a indicar a possibilidade de retorno importante para o prestígio brasileiro.
Essa nova realidade começou a se desenhar antes mesmo da posse de Lula, quando ele foi convidado para ir à Conferência do Clima no Egito, e começou a ter contato com governos de outros países.
À época, o professor de relações internacionais Antonio Carlos Lessa já apontava que a política ambiental poderia ajudar na construção de uma reputação positiva para o país. “Se o Brasil conseguir estruturar a política externa a partir do protagonismo na agenda ambiental, temos um bom caminho para começar. Não vai ser difícil de se construir uma imagem crível de novo”, disse, em entrevista à Interesse Nacional.
E os sinais mais evidentes disso foram desenvolvidos após a posse, especialmente em fevereiro. Em viagem aos Estados Unidos, Lula se encontrou com o presidente Joe Biden, que anunciou a intenção de colaborar com o Fundo Amazônia. Nesta semana, foi a vez de o Brasil receber o enviado especial do governo dos Estados Unidos para o clima, John Kerry. Ele reforçou a disposição do governo americano em contribuir para o fundo e, ainda que tenha evitado falar em valores, gerou otimismo no governo.
Esses acenos do governo americano indicam que o Brasil está bem posicionado para se beneficiar de uma preocupação global crescente com o aquecimento global. O país pode de fato ganhar um papel importante na discussão sobre proteção do meio ambiente, e isso tem o potencial de elevar o status do Brasil no mundo.
Mas é importante saber que o aumento da projeção do país também pode trazer um maior escrutínio sobre a real situação do Brasil. Por mais que o mundo aplauda a postura do governo brasileiro e o discurso de defesa do meio ambiente, vai ser preciso mostrar ações práticas nesse sentido, e apresentar resultados reais. Apesar de toda a manifestação de boas intenções do governo Lula, o desmatamento da Amazônia bateu recorde para o mês fevereiro. É claro que não se pode responsabilizar a administração que assumiu o poder há apenas dois meses, mas é evidente que os desafios são imensos, e que vai ser preciso agir para mudar esta realidade a fim de manter o apoio e a boa vontade internacionais e de poder usar isso para consolidar o Brasil como um país fundamental para a saúde do planeta.
*Daniel Buarque é colunista e editor-executivo do portal Interesse Nacional, doutor em relações internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. É jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor dos livros “Brazil, um país do presente” (Alameda) e “O Brazil É um País Sério?” (Pioneira).
Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional
Editor-executivo do portal Interesse Nacional. Jornalista e doutor em Relações Internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. Mestre pelo KCL e autor dos livros Brazil’s international status and recognition as an emerging power: inconsistencies and complexities (Palgrave Macmillan), Brazil, um país do presente (Alameda Editorial), O Brazil é um país sério? (Pioneira) e O Brasil voltou? (Pioneira)
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