09 setembro 2022

Editorial: Projeto de país

Enquanto o Brasil continua sem desenvolver um plano de projeção internacional do país, o governo da Índia completa 75 anos da sua independência com um plano de tornar a nação mais desenvolvida e importante para o mundo

Enquanto o Brasil continua sem desenvolver um plano de projeção internacional do país, o governo da Índia completa 75 anos da sua independência com um plano de tornar a nação mais desenvolvida e importante para o mundo

O primeiro ministro indiano, Narendra Modi, durante discurso em comemoração aos 75 anos de independência do país

Por Rubens Barbosa

Muito se discute e se critica a ausência de um projeto para o Brasil. Na campanha eleitoral, nenhuma palavra sobre as perspectivas do país quer interna, quer externamente.

Enquanto isso, por ocasião das comemorações 75º aniversario da Independência da Índia, no último dia 15 de agosto, o primeiro ministro Narendra Modi pronunciou histórico discurso em que anuncia um projeto para seu pais nos próximos 25 anos.

Depois de reconhecer os personagens que ajudaram na luta pela Independência e observar que o país ao longo de todo esse período enfrentou momentos de progresso e momentos de dificuldades, lembrou que os 100 anos de colonialismo deixaram marcas profundas no país e no sentimento do povo indiano e que quando os britânicos saíram deixaram o país com divisões, guerras e pobreza.

Sem mencionar indicadores econômicos e sociais, ou tendencias política e ideológicas, quando se discute as perspectivas do Brasil, como se faz por aqui, Modi, falou para a nação e para o sentimento do povo indiano, buscando conseguir a adesão da população para um projeto nacional.

Conclamando o povo indiano a seguir com determinação e decisão na busca de um futuro melhor, apresentou seu plano para tornar a Índia um país desenvolvido em 25 anos, quando em 2047 completar o primeiro centenário da Independência.

  • De maneira cândida e direta, Modi apresentou as principais linhas de seu programa para tornar a Índia um país desenvolvido:
  • Determinação para o país avançar para tornar-se um país desenvolvido
  • Superar a subserviência mental, deixada pelos 100 anos de colonização (que chamou de escravidão) que frustrou o país e deixou um complexo de inferioridade nas mentes da população
  • Orgulho da herança e do legado da civilização indiana.
  • Unidade e solidariedade em um país com tantas raças e línguas
  • Dever de todos para com a nação, desde o premiê os mais humildes, elemento básico para alcançar o objetivo maior nos próximos 25 anos
  • Força da base popular (pequenos agricultores e pequenas empresas, vendedores ambulantes e taxis de bicicleta)
  • Modernização (Índia digital, 5G)
  • Autossuficiência em energia e agricultura (fertilizantes, drones)
  • Setor privado fortalecido (Incubadoras, startups)

Concluindo sua mensagem de otimismo e confiança no futuro de seu e no projeto de tornar o país desenvolvido até 2047, Modi pediu o apoio de todos para combater dois grandes males que muito afetam a Índia: a corrupção e o nepotismo.

Fica flagrante o contraste entre o ato político na Índia ao comemorar sua Independência com a apresentação de um projeto de país para o futuro e o ato eleitoral na celebração do bicentenário da Independência do Brasil em que o pais foi ignorado e a comemoração cívica foi sequestrada para promoção de uma candidatura.

Na completa ausência de uma visão de estadista pensando grande, a partir do Bicentenário da Independência, por parte da classe política, o projeto do governo da Índia é uma inspiração para todos aqueles que ainda não desistiram de tornar o Brasil um país desenvolvido e que possa ocupar um lugar preeminente no mundo.


*Rubens Barbosa foi embaixador do Brasil em Londres, é diplomata, presidente do Instituto Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e coordenador editorial da Interesse Nacional.

Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994–99) e em Washington (1999–04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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