Eleição no Reino Unido deve aumentar pressão sobre Boris Johnson
A situação econômica, a saída da União Europeia e o desempenho do primeiro-ministro Boris Johnson pesaram na decisão dos eleitores que fizeram com que o Partido Trabalhista ganhasse mais de 400 postos e o Conservador perdesse mais de 250
Situação econômica, saída da União Europeia e desempenho do primeiro-ministro pesaram na decisão dos eleitores que fizeram com que o Partido Trabalhista ganhasse mais de 400 postos e o Conservador perdesse mais de 250
Por Rubens Barbosa*
O resultado das eleições para os conselhos municipais da última quinta feira, dia 5, no Reino Unido trouxe resultados importantes para o futuro político do pais. O Partido Trabalhista conseguiu cerca de 35% dos votos, o Conservador, 30%, o Liberal com um bom desempenho, 19% e o Partido Verde também melhorando sua performance.
A derrota do Partido Conservador nessas eleições é simbólica, visto que os milhares de assentos nos conselhos municipais e distritais não tem impacto direto na politica nacional. Apesar disso, a pressão sobre o primeiro-ministro Boris Johnson deve aumentar e em seu partido já há movimento para contestar sua liderança.
A situação econômica, a saída da União Europeia e o desempenho do primeiro-ministro pesaram na decisão dos eleitores que fizeram com que o Partido Trabalhista ganhasse mais de 400 postos e o Conservador perdesse mais de 250. O Reino Unido, de forma quase paradoxal, sai dividido politicamente, com o Norte, reduto da classe trabalhadora, menos afluente, com forte influência conservadora, e a região de Londres, mais rica, votando com o Partido Trabalhista.
Os resultados mais importante foram os da Escócia e da Irlanda do Norte. O Partido Nacionalista escocês conseguiu maioria confortável e o Sinn Fein, católico, obteve, pela primeira vez, vitória sobre o Partido Democrático Unionista, protestante. Esse resultado histórico resultará no aumento da pressão sobre o governo em Londres para a realização de referendo sobre a independência da Escócia e a unificação da Irlanda.
A situação na Irlanda do Norte é mais complexa pela resistência dos protestantes `a unificação do Norte com a Irlanda, católica. Não é de se descartar uma forte reação dos protestantes e uma crise de grandes proporções nessa região. O referendo previsto no Acordo de Belfast, que selou a paz na região como condição para a unificação, passou a ser incluído na agenda política.
Na Escócia, o caminho é menos complicado porque o governo de Edimburgo tem interesse em continuar na União Europeia, de onde saiu em função do Brexit com a saída do Reino Unido da União Europeia. O Reino Unido, como entidade politica, está ameaçado e, a médio prazo, poderá ficar reduzido apenas ao Pais de Gales, que também questiona sua união com Londres.
Não há dúvida de que as eleições da semana passada mostram que o Reino Unido está dividido e que o Partido Trabalhista, em uma eleição geral, tem chances de recuperar a liderança politica no Reino Unido.
*Rubens Barbosa foi embaixador do Brasil em Londres, é diplomata, presidente do Instituto Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e coordenador editorial da Interesse Nacional.
Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional
Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994–99) e em Washington (1999–04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.
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