‘Estamos vendo uma transformação na percepção global da Amazônia’, disse Carlos Nobre em webinar
Cientista ambiental brasileiro eleito membro da Royal Society participou da série Diálogos A Recuperação do Brasil e o Interesse Nacional, apresentada pelo embaixador Rubens Barbosa, em 2021. O objetivo era discutir qual seria a situação do Brasil na área ambiental ao final da crise gerada pela pandemia de Covid-19
Cientista ambiental brasileiro, eleito membro da Royal Society, participou da série Diálogos: A Recuperação do Brasil e o Interesse Nacional, apresentada pelo embaixador Rubens Barbosa, em 2021. O objetivo era discutir qual seria a situação do Brasil na área ambiental ao final da crise gerada pela pandemia de Covid-19 e ações para a retomada do crescimento econômico
O cientista ambiental brasileiro Carlos Nobre foi selecionado neste mês pela Royal Society como um dos cerca de 60 cientistas excepcionais de todo o mundo por suas excelentes contribuições à ciência. Nobre é o segundo membro brasileiro na academia, depois do imperador Dom Pedro II, eleito em 1871.
Pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, diretor científico do Instituto de Estudos Climáticos da Universidade Federal do Espírito Santo e diretor da Amazon Third Way Initiative/Projeto Amazônia 4.0. Nobre alegou que a escolha da Royal Society é justificada por sua trajetória de dedicação ao estudo do clima e da floresta. “Como um alerta aos riscos que a Amazônia vem correndo e aos riscos das mudanças climáticas para o Brasil”, disse ao Jornal da USP.
Nobre participou em julho de 2021 da série Diálogos: A Recuperação do Brasil e o Interesse Nacional, apresentada pelo embaixador Rubens Barbosa. O objetivo era discutir qual seria a situação do Brasil ao final da crise gerada pela pandemia de Covid-19 e ações para a retomada do crescimento econômico. O foco específico da conversa era uma discussão sobre os impactos das mudanças na política ambiental, especialmente sobre a Amazônia. Segundo ele, o Brasil assistia a uma mudança na forma como o mundo lida com a questão ambiental e com a preocupação com florestas, o que deve ter grande impacto até sobre a economia brasileira e o comércio exterior.
“Estamos vendo uma grande transformação na percepção global da importância da Amazônia. Isso se deve a vários movimentos que estão convergindo. O mais óbvio é a preocupação de detentores de capital, que se deram conta que o investimento tem que ser responsável e poder acelerar uma trajetória pós-pandemia em direção à sustentabilidade. Isso é uma preocupação global muito relacionada à Amazônia. Como fazer com que os investimentos, o capitalismo, tenha um grau de responsabilidade com a sustentabilidade.”
O que fez despertar este assunto, segundo ele, foi o grande aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia nos últimos anos. Isso gerou uma preocupação mundial, com consequências econômicas e cobranças de fundos de investimento internacionais. “Se o Brasil e outros países amazônicos não conseguirem conter o desmatamento e as queimadas, não vai receber investimentos. Isso foi uma mensagem que trouxe um choque para o sistema econômico brasileiro.”
No outro sentido, explicou, há um movimento de jovens em todo o mundo que se preocupam muito com o desaparecimento das florestas. Este é um movimento que não pode ser acusado de protecionismo de países europeus. “É um movimento muito mais profundo. É uma mudança de estilo de vida. É uma geração que quer um outro planeta. Que combate o aquecimento global e também quer preservar todos os ecossistemas do mundo, em particular as florestas tropicais.
“Estamos na convergência desses dois movimentos. Um econômico muito sério que não quer mais apoiar atividades econômicas que levem ao desmatamento (…) e junto esse movimento global que pode realmente colocar o planeta numa trajetória de sustentabilidade. É muito importante que o Brasil leve isso em consideração.”
Editor-executivo do portal Interesse Nacional. Jornalista e doutor em Relações Internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. Mestre pelo KCL e autor dos livros Brazil’s international status and recognition as an emerging power: inconsistencies and complexities (Palgrave Macmillan), Brazil, um país do presente (Alameda Editorial), O Brazil é um país sério? (Pioneira) e O Brasil voltou? (Pioneira)
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