Fala Colunista – Felipe Estre e o risco de normalizar a ‘teoria do louco’ em Trump
Na entrevista com o professor Felipe Estre, autor do artigo, o tema central é a chamada “teoria do louco” e como sua aplicação difere entre líderes. O professor explica que a teoria nasceu com Nixon, que simulava irracionalidade como recurso estratégico em contextos específicos, sempre dentro de limites calculados. Já Donald Trump, em contraste, transforma […]
Na entrevista com o professor Felipe Estre, autor do artigo, o tema central é a chamada “teoria do louco” e como sua aplicação difere entre líderes. O professor explica que a teoria nasceu com Nixon, que simulava irracionalidade como recurso estratégico em contextos específicos, sempre dentro de limites calculados. Já Donald Trump, em contraste, transforma a imprevisibilidade em método, banalizando-a e aplicando-a em todas as frentes, inclusive contra aliados, o que mina a previsibilidade essencial à diplomacia.
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Estre ressalta que, enquanto Nixon utilizou traços da teoria de modo pontual, Trump a adota de forma contínua, confundindo impulsividade com estratégia. Essa atitude fragiliza a credibilidade dos EUA, gera desconfiança generalizada e compromete a própria lógica do sistema internacional, já que compromissos e alianças passam a ser vistos como frágeis ou descartáveis. A imprevisibilidade deixa de ser tática e se torna sistêmica, um “louco” generalizado que desestrutura a diplomacia.
A conversa destaca ainda que o impacto global desse comportamento é profundo. Trump ainda pensa em termos de áreas de influência, mas não está claro se o mundo aceita mais essa lógica. A Rússia, por exemplo, reafirma seu interesse nesse modelo ao invadir a Ucrânia, mas a resistência ucraniana mostra que países sob “influência” não estão mais dispostos a aceitar passivamente. Essa tensão se vê também no isolamento da Venezuela e no caso do Brasil, que busca espaço nos BRICS como alternativa à predominância norte-americana.
Por fim, Estre argumenta que o risco maior está na normalização desse “louco sistêmico”. Diferente de uma encenação estratégica, a política de Trump cria instabilidade permanente. Se todos passam a relativizar compromissos, a própria governança global se fragiliza. Assim, a entrevista mostra como a transformação da teoria do louco em regra mina pilares da ordem internacional e abre espaço para novas formas de alinhamento político, em um cenário de incerteza crescente.
Economista pela PUC-Rio e Mestre em Relações Internacionais e em Administração Pública pela Universidade Columbia, em Nova York. Atua nas áreas de resolução de conflitos,gestão de projetos de infraestrutura para PPPs, licitações e concessões, bem como em análise política, economia e dados, para os setores público e privado, no Brasil e no exterior.
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