Mudança do clima e a vulnerabilidade da Amazônia ao El Niño
A luta contra as mudanças climáticas e a proteção da Amazônia estão intrinsecamente ligadas. Cabe a todos nós tomar medidas para reduzir nossas emissões de carbono e apoiar a conservação das florestas tropicais, a fim de minimizar os impactos devastadores de eventos como El Niño. É uma responsabilidade que compartilhamos para garantir um futuro mais seguro e sustentável para as próximas gerações
A luta contra as mudanças climáticas e a proteção da Amazônia estão intrinsecamente ligadas. Cabe a todos nós tomar medidas para reduzir nossas emissões de carbono e apoiar a conservação das florestas tropicais, a fim de minimizar os impactos devastadores de eventos como El Niño. É uma responsabilidade que compartilhamos para garantir um futuro mais seguro e sustentável para as próximas gerações
Por Lincoln Muniz Alves*
Não é de hoje que o fenômeno El Niño (aquecimento anormal e persistente das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial) provoca impactos severos em diversas partes do mundo. A Amazônia, uma região de superlativos, com dimensões continentais, é particularmente sensível ao El Niño. Quando esse fenômeno ocorre, a região enfrenta períodos de secas severas.
A seca é um fenômeno que já faz parte da história desse bioma. Indicadores paleoclimáticos sugerem a ocorrência de secas na região há milhares de anos. Na história recente, grandes secas têm sido registradas, entre elas as de 1983, 1997/98, 2005, 2010, e têm sido associadas à variabilidade interanual dos padrões de circulação e temperatura da superfície do mar dos oceanos Pacífico e Atlântico tropical.
O padrão da seca atual já pode ser considerado como uma das grandes secas do século, dados os níveis de rios e lagos atingindo mínimos históricos, os impactos já observados nos sistemas naturais e em grande parte da população.
Por outro lado, o mundo vem experimentando mudanças ambientais significativas, com reflexos diversos. E os cientistas vêm há décadas alertando que, no futuro, secas como as que estávamos vivenciando serão mais frequentes aumentando a vulnerabilidade da floresta (elevando o risco de queimadas e a emissão de carbono) e de grande parte das 25 milhões de pessoas que vivem na área brasileira da Amazônia.
Estudos de atribuição
A atual seca tem relação com a mudança do clima? Apesar de diversos eventos climáticos extremos no mundo e no Brasil já terem sido atribuídos à mudança do clima, é prematuro responder essa pergunta sem se debruçar sobre os dados e fazer uma estudo de atribuição, como foi feito recentemente no caso da onda de calor no Sudeste do Brasil.
Um estudo de atribuição é uma abordagem científica que visa entender a influência das mudanças climáticas em eventos extremos, como a seca e El Niño. Usando modelos climáticos avançados, os cientistas podem comparar as condições climáticas atuais com cenários hipotéticos onde o aquecimento global não ocorreu. Isso ajuda a determinar se a mudança do clima está tornando o El Niño e a seca atual mais prováveis e intensos.
Entretanto, à medida que a mudança do clima se manifesta, o aumento da frequência e intensidade dos eventos extremos é uma ameaça que não podemos ignorar. Os estudos de atribuição já nos fornecem evidências sólidas de que as mudanças climáticas desempenham um papel significativo nesse aumento.
Portanto, a luta contra as mudanças climáticas e a proteção da Amazônia estão intrinsecamente ligadas. Cabe a todos nós tomar medidas para reduzir nossas emissões de carbono e apoiar a conservação das florestas tropicais, a fim de minimizar os impactos devastadores de eventos como El Niño. É uma responsabilidade que compartilhamos para garantir um futuro mais seguro e sustentável para as próximas gerações.
*Lincoln Muniz Alves é pesquisador no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)
Este texto é uma republicação do site The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original
Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional
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