03 abril 2025

O Brasil e o mundo pós-ocidental

Concomitantemente, as crises não param de se multiplicar pelo mundo afora, tanto nos chamados “Ocidente central” e “Sul global”, sinalizando que as hierarquias e o modelo westfaliano dos Estados nacionais, com os quais convivemos ao longo destes últimos quatro séculos, estão cedendo espaço para um mundo muito mais complexo, onde as relações e as alianças se constroem seguindo padrões e interesses multipolares, e não mais “nacionais”

A grande incógnita, que se instalou no contexto mundial após a eleição de Donald Trump como o 47º Presidente dos Estados Unidos, é qual será o rumo que o país tomará neste seu segundo mandato, sobretudo diante das propostas por ele anunciadas, algumas das quais – controversas – já tomadas, inclusive com relação ao Brasil?

Este artigo foi publicado na edição 69 da Revista Interesse Nacional – Clique aqui para ver a revista completa

Estava em Nova York no dia sua posse e assisti pela televisão ao seu discurso. Relembro aqui algumas das passagens: “…a América reclamará o seu lugar de direito como a maior, mais poderosa e mais respeitada nação do planeta, inspirando o respeito e a admiração de todo o mundo… A ambição é o sangue vital de uma grande nação e, neste momento, a nossa nação é mais ambiciosa do que qualquer outra. Não há nação como a nossa nação… Depois de tudo que já passamos, estamos à beira dos quatro maiores anos da história americana”.

Muito do seu ufanismo resulta da percebida superioridade americana no setor da Inteligência Artificial (IA), que colocaria os EUA numa posição praticamente inalcançável para as outras nações e definiria a sua total supremacia na área mais disruptiva da civilização contemporânea. Só que, enquanto Trump discursava, uma relativamente empresa chinesa, a DeepSeek, lançava o mais recente e impressionante “modelo de linguagem grande” (LLM), um tipo de inteligência artificial que processa, compreende e gera linguagem humana. De acréscimo, a sua tecnologia é aberta, ou seja, a empresa permite o acesso ao modus operandi. Foi o caos: os principais índices das Bolsas de Nova York fecharam sem rumo único, e as empresas de tecnologia perderam US$ 1 trilhão em valor de mercado num só dia.

De repente, a liderança dos EUA sobre a China em IA pareceu menor do que em qualquer outro momento desde que o ChatGPT se tornou conhecido. Esta recuperação da China é surpreendente porque ela estava muito atrás – até porque os Estados Unidos se empenharam em desacelerar o seu progresso nesta área. Com efeito, o governo de Joe Biden temia que a IA avançada pudesse garantir a supremacia militar do Partido Comunista Chinês (PCC); e, desta forma, os EUA reduziram as exportações para a China de chips para treinamento de IA mais avançados e inviabilizaram acesso a muitos apetrechos necessários para o desenvolvimento de processos substitutos.

Num outro setor – o automobilístico – a competição entre os dois gigantes igualmente se acirra. No seu discurso, Trump afirmou que “acabaremos com o New Deal verde e revogaremos o mandato dos veículos elétricos, salvando a nossa indústria automobilística e mantendo os meus compromissos sagrados aos nossos grandes trabalhadores do setor automobilístico americano… a América será mais uma vez uma nação industrial e temos algo que nenhuma outra nação industrial jamais terá: a maior quantidade de petróleo e gás de qualquer país da Terra: “we’re gonna drill, baby” , afirmou – “e vamos usá-la!”. Post facto, anunciou que os Estados Unidos revogarão sua participação na “Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima”, a COP. Trump fez a opção evidente pelo mundo do petróleo, e pelas consequências que o segundo maior emissor de gases de efeito estufa do planeta pode acarretar.

Estas afirmações ocorrem num contexto de expansão dos carros híbridos e elétricos chineses pelo planeta afora, desafiando a indústria mundial de automóveis. Tanto é assim que as montadoras japonesas Nissan e Honda assinaram recentemente um Memorando de Entendimento descrito por elas como uma “opção para a manutenção da competitividade global”. O motivo não declarado seria para não serem “engolidas” pelas automobilísticas chinesas. O alvo é a Build Your Dreams/BYD, a maior fabricante mundial de veículos elétricos. A BYD assumiu, em outubro de 2023, o complexo industrial que pertenceu à Ford, em Camaçari, na Bahia. O Brasil seria um dos mercados prioritários para ela. Ou seja, entramos numa outra fase da globalização onde dois dos setores de maior futuro não mais estariam “nas mãos” dos americanos, contrariando o ufanismo de Trump.

“Ocidente central” e “Sul global”

Concomitantemente, as crises não param de se multiplicar pelo mundo afora, tanto nos chamados “Ocidente central” e “Sul global”, sinalizando que as hierarquias e o modelo westfaliano dos Estados nacionais, com os quais convivemos ao longo destes últimos quatro séculos, estão cedendo espaço para um mundo muito mais complexo, onde as relações e as alianças se constroem seguindo padrões e interesses multipolares, e não mais “nacionais”. 

Tautológico? Mas nem sempre óbvio. Nada disto é novo no jogo das hegemonias e do primado do Estado nacional. Na verdade, este é um fenômeno recente nos anais da História: a paz de Westfália, que encerrou a Guerra dos 30 Anos e estabeleceu princípios como soberania, igualdade jurídica entre os Estados, territorialidade e não intervenção. 

Vivi grande parte da minha carreira diplomática na Ásia. Servi em 11 países durante quase 16 anos. A quais conclusões pude chegar? A mais basilar é que está sendo complexa a aceitação pelo Ocidente de que a dinâmica do mundo mudou e que é necessário conviver com paradigmas novos e distintos nas relações internacionais. A Ásia tornou-se fator decisivo na economia/política globalizada. Basta consultar a tabela do FMI sobre os maiores PIBs em 2024 para vermos que entre os cinco primeiros, três são asiáticos: China (2º), Japão (4º) e Índia (5º). 

Esta presença crescente, e irreversível, a meu ver, instiga sentimentos ambíguos: de um lado, respeito pelo despertar de um gigante de História muito antiga e, de outro, temor das consequências que este protagonismo crescente possa acarretar. 

Mais que tudo, evidencia o despreparo deste lado do planeta para lidar com esta realidade. Acostumado a exportar seus valores e a impor seus conceitos civilizatórios como verdades absolutas sobre esta mais da metade da população planetária, o “Ocidente central” não tem sabido lidar com a realidade de que não serão mais possíveis situações como as Guerras do Ópio, promovidas em meados do século XIX pelos ingleses para impor à China o consumo da droga, a fim de equilibrar uma balança comercial bilateral deficitária; ou a abertura forçada do Japão Tokugawa às potências ocidentais; ou, ainda, o fim melancólico do Raj britânico e a independência arbitrária e intempestiva oferecida à Índia e ao Paquistão, com as sequelas que deslanchou. 

Como podemos perceber, o “Ocidente central” está em crise de identidade, que deve ser similar à de todos os grandes impérios precedentes na sua decadência. Para os que nasceram nos estertores da hegemonia britânica, no final da II Guerra, e passaram pela hegemonia compartilhada entre americanos e soviéticos, e pela hegemonia absoluta americana até o início deste século, e que agora será uma hegemonia novamente compartilhada, desta vez entre americanos e chineses, o que se está configurando? Sabemos que nenhum espaço permanece vazio: esta é uma lei da física que se aplica a todos os fenômenos, inclusive os políticos.

O ambicioso realinhamento da geoeconomia/geopolítica

O que se passou com a China? Com a aceleração do processo de desconstrução do radicalismo maoísta, fruto da abertura e da crescente integração do país ao exterior e às cadeias mundiais de comércio, a partir do final dos anos 70, a China em 2020 tornou-se o maior exportador do planeta (US$ 2,49 trilhões, ou 13,3% do total mundial), e o segundo maior importador em 2019 (US$ 2,06 trilhões). 

Dois vetores passaram a nortear o seu projeto de desenvolvimento da China e o seu espraiamento pelo mundo neste primeiro quartel de século: o Plano Made in China 2025 e a Belt and Road Initiative/(BRI) ou Nova Rota da Seda, através dos quais o seu governo central propôs-se a aggiornar o país. Esta política teve impulso no XIV Plano Quinquenal da China, anunciado em maio de 2015, no qual foram estabelecidas metas destinadas a expandir sua economia. Foram selecionados dez setores de ponta que atualizarão, consolidarão e alavancarão a indústria chinesa. Nesse plano, intitulado Made in China 2025 foram definidas dez áreas, cujo objetivo é atualizar e alavancar a manufatura para transformar o país em potência tecnológica global, capaz de influenciar cadeias de suprimento, na convicção de que o mundo passa pela 4ª revolução industrial, sendo imprescindível fazer parte dela. 

O foco do governo chinês tem sido consolidar a sua indústria de ponta. O braço externo do projeto é a Belt and Road Initiative/BRI, que tanto incomoda a gestão Trump. A meta é reconstruir a antiga rota que levou os seus produtos para outros continentes e fez a sua fortuna através dos séculos. Como antes, o objetivo é interligar a Ásia, a Europa, a África e a América Latina, através de uma rede de sistemas tanto tecnológicos quanto empresariais e financeiros, lançando mão dos bilhões de dólares de reservas que a China acumulou no seu processo de expansão e internacionalização. Trata-se de um projeto ambicioso de realinhamento da geoeconomia/geopolítica do planeta neste século.

Foram realizadas duas reuniões de cúpula da BRI desde que o projeto foi lançado em 2013, ambas em Pequim. A primeira delas em maio de 2017, reuniu cerca de 30 líderes mundiais. A segunda, em 2019, teve extensa lista de participantes e alguns presidentes latino-americanos. A cereja do bolo, entretanto, foi a presença de Vladimir Putin. Tão conspícua quanto o nível dos participantes foi a ausência de contrapartes de mesmo perfil da Europa e da América do Norte. Existem, é claro, razões políticas para tanto: os europeus estão preocupados com a pirataria de alta tecnologia de que têm sido vítimas, além de a aquisição de suas empresas pelas estatais chinesas. Ademais, estão apreensivos, assim como os americanos, com a lenta transferência do eixo de poder mundial do Ocidente para o Oriente, capitaneado pela China. Ou seja, enquanto o Ocidente se engalfinha em guerras e disputas por temas territoriais, políticos e ideológicos, os chineses aplicam-se em criar condições e espaços no que realmente lhes importa: o futuro.

No horizonte, entretanto, surge outra civilização igualmente muito antiga: a Índia. Nouriel Roubini, professor-emérito da New York University’s Stern School of Business, escreveu que “a Índia está prestes a se tornar o mais importante país do mundo a médio prazo”. Com um PIB robusto, sua economia já apresenta uma enorme margem em ganhos de produtividade. 

A China enfrenta desafios equivalentes ao seu porte: o envelhecimento da população é um deles, além de crises econômicas que o seu crescimento acelerado das últimas décadas deslanchou. Na contracorrente, mais de 50% da população da Índia tem menos de 30 anos de idade. Ou seja, cerca de 700 milhões de indianos têm em torno de 25 anos. O país enfrenta desafios igualmente formidáveis, entre outros, acesso à educação, qualificação da mão de obra, escassez de habitação, saneamento deficiente etc. Mas, os indianos confrontam com vigor estes desafios e registram progresso em áreas fundamentais na contemporaneidade, tais como a tecnologia da informação. 

Tanto é que o Fundo Monetário Internacional/FMI previu um crescimento de 7% do seu PIB entre 2024-2025, maior do que qualquer outra economia. Este PIB provavelmente totalizará US$ 4,33 trilhões em 2025, em comparação com os US$ 4,31 trilhões do Japão, conforme anunciou o FMI na sua última estimativa. Esta previsão concluía que a Índia ultrapassará o Japão em 2026, e, até o fim da década, poderá tornar-se a terceira maior economia do planeta, atrás apenas dos EUA e China. Contará com importante “asset”: a juventude da sua população, cada vez mais educada e sintonizada com a contemporaneidade. Em termos políticos, trata-se de uma democracia vibrante, ainda que refém de um imbróglio político-religioso, diferentemente da percepção que se tem do sistema chinês.

Distopia ideológica? Ameaça real?

E o Brasil, como fica neste cenário? Estaria obrigado a tomar uma posição mais definida “pró-Ocidente”, como advogam os mais radicais? Ou bandear para os novos aspirantes a hegemons? A resposta a esta pergunta é complexa, sobretudo porque definirá o futuro imediato e mediato. 

O jornal O Estado de S. Paulo publicou um artigo em que replica matéria do The Economist sobre a participação do Brasil no projeto da Belt and Road Initiative/BRI. Segundo a matéria, “uma eventual adesão pode até parecer bom negócio, mas é preciso ponderar se isso é realmente necessário e se o custo geopolítico de um alinhamento com a China não será alto demais. Esta questão não é somente oportuna, mas fundamental para balizar os grandes vetores da inserção brasileira no processo de globalização que se está conformando. Para tanto, é importante revisitar a dinâmica da história recente, a fim de chegar a uma conclusão sobre qual destino a Belt and Road Initiative propiciaria ao Brasil. 

Isto posto, chegamos à América Latina, mais especificamente ao sul do continente. Segundo a matéria, “um dos projetos principais recentes da BRI é um grande porto em Chancay, no Peru, no qual a Cosco, maior empresa de transporte marítimo chinesa, vai investir em parceria com uma empresa peruana cerca de US$ 1,3 bilhão para o desenvolvimento da infraestrutura portuária, viabilizando o escoamento para a Ásia de uma plêiade de produtos. O objetivo é óbvio: encurtar em um terço o tempo médio que as importações/exportações da região levam para chegar ao Oriente.

O artigo anota que um dos objetivos paralelos dos chineses é manter a região, sobretudo a América do Sul, como um dos vetores para o incremento do seu comércio mundial, que cresceu, na região, de US$ 18 bilhões, em 2002, para US$ 450 bilhões, em 2022. Desta forma, a República Popular já superou os EUA como o principal parceiro comercial de Brasil, Chile, Peru, entre outros países da região. Só no Peru, os chineses investiram cerca de US$ 24 bilhões nos setores de mineração, energia e transportes. Entretanto, no caso do México e da América Central, a presença da China sofre a concorrência política do “nearshoring” americano.

São abundantes os fatos que provam a grande vitalidade da BRI: a maioria dos seus projetos têm revelado continuidade e numerosos outros já foram iniciados. Porém, há crescentes queixas de que os chineses não cumprem seus compromissos e não acatam decisões que não lhes interessem e perduram as suspeitas de “manipulação ideológica”. Com efeito, um dos temores estratificados são os fatores envolvidos num percebido processo de “aliciamento” da região pelos “comunistas”. 

Neste ponto, recorro à minha experiência de campo tanto na China como em países asiáticos: não notei, no convívio, nem na China e nem no tratamento com temas chineses, qualquer empenho de Pequim em “converter” o nosso, ou outros governos ao seu ideário. À China interessa questões econômicas e comerciais. Vejo, na contracorrente, o temor de alguns de serem abduzidos pelo comunismo chinês, embora seja, cada vez mais difícil, qualificar o que seja “comunismo” no país que abriga o maior número de bilionários do planeta.

A “batalha” pela hegemonia da China não se trava somente com a Europa e os EUA: a Índia também tem grande resistência, tanto que, apesar de convidada, sequer mandou representante aos encontros de cúpula da BRI que Pequim promoveu, com isto deixando latente a sua posição. São duas as razões principais no seu caso: a disputa pela hegemonia na região, e, sobretudo, o relacionamento privilegiado dos chineses com os paquistaneses e a inclusão do porto de Gwadar – quase na fronteira com a Índia –, como um dos pontos logísticos estratégicos da BRI marítima, abrindo caminho para as exportações via Mar da Arábia/Oceano Índico em direção ao Ocidente. Mais sensível ainda, o China-Pakistan Economic Corridor atravessaria a região da Caxemira, justamente o foco das disputas entre os dois vizinhos. Ou seja, a política regional é um condicionante definidor entre os dois gigantes asiáticos.

Distopia ideológica? Ameaça real? No caso brasileiro, quais seriam as vantagens e desvantagens dessa ameaça de contaminação por valores que são estranhos à nossa cultura? Recorro sempre à história recente, quando, em 1974, em pleno governo Geisel, o Brasil militar transferiu o reconhecimento do país China, de Taiwan para o Continente, e foi o primeiro país a reconhecer o governo marxista de Agostinho Neto em Angola. Nossos interesses, comerciais, sobretudo, nos indicavam esse caminho. O título que se deu a essa política foi “pragmatismo responsável”, desenvolvida pelo maior chanceler brasileiro Antonio Azeredo da Silveira. 

Neste sentido, onde brasileiros se inserem na nova etapa da globalização, absoluta ou relativa, que se vislumbra? Pessoalmente acredito que em duas áreas possuímos vantagens comparativas. Seriam as do meio-ambiente e a agrícola. A esse respeito, os chineses ainda nos consideram como um dos principais, senão o provedor de algumas matérias-primas, como minério de ferro e alimentos. Cabe sempre lembrar que foram eles que propuseram, em 1993, o estabelecimento de uma parceria estratégica, que elevamos à parceria global. 

Isto ainda é pouco diante de enormes oportunidades que se descortinam e que não foram prospectadas. Com as ameaças da nova administração americana de aplicar tarifas e cotas de importação a produtos de vários países, inclusive China, nós poderíamos vir a ocupar alguns espaços. E, não somente no setor de produtos primários. Abrem-se opções entre outras áreas como rodovias, ferrovias e portos. A Índia é outro universo a ser explorado na Ásia, sobretudo em tempos disruptivos do “trumpismo”, que desafiam os países a buscarem alternativas. 

Neste contexto, devemos perguntar: qual é a melhor “receita” para o Brasil, num planeta em profunda transformação? A lição de Azeredo da Silveira vem à mente, e a resposta parece óbvia: para onde os nossos interesses nacionais legítimos nos direcionam. Corolário: mantemos a nossa integridade política e civilizacional e nos lançamos na aventura universal!

Fausto Godoy é colunista da Interesse Nacional. Bacharel em direito, doutor em direito internacional público pela Universidade de Paris (I) e diplomata, serviu nas embaixadas do Brasil em Bruxelas, Buenos Aires e Washington. Concentrou sua carreira na Ásia, onde serviu em onze países. Foi embaixador do Brasil no Paquistão e Afeganistão (2004/2007) e Cônsul-Geral em Mumbai (2009/10). É coordenador do “Centro de Estudos das Civilizações da Ásia” da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e curador da Ala Asiática do MON.

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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