19 dezembro 2025

O Brasil no espaço

Acordo abre espaço para um avanço estratégico para explorar economicamente as atividades espaciais, fomentar a indústria nacional, ampliar o uso das infraestruturas públicas por agentes econômicos privados e, em particular, promover o uso comercial dos centros de lançamento brasileiros. 

Foto: Innospace/Divulgação/Agência Brasil

Na tarde desta sexta-feira (19), está previsto o primeiro lançamento comercial de um veículo espacial a partir do território nacional, no Centro de Lançamento de Alcântara. Trata-se da Operação Spaceward 2025, responsável pelo lançamento do foguete sul-coreano HANBIT Nano, da empresa Innospace. O veículo transportará cinco satélites e três experimentos, desenvolvidos pelo Brasil e pela Índia. 

Com esse lançamento, o Brasil entra no mercado global de lançamentos espaciais e passa a competir com outros centros ao redor do mundo.

O aproveitamento do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, criado para lançamento de satélites, e o desenvolvimento de veículos lançadores de satélites (VLS) são prioridades no âmbito do Programa Nacional de Atividades Espaciais do Ministério da Defesa. 

‘A estratégica localização geográfica da base de Alcântara permitirá o lançamento de foguetes com economia de combustível’

A estratégica localização geográfica da base de Alcântara, situada a dois graus de latitude sul da linha do Equador, permitirá o lançamento de foguetes com economia de combustível em relação ao consumido em Cabo Canaveral, nos Estados Unidos, e de outras bases ao redor do mundo.

A situação privilegiada da Base de Alcântara, criada a mais de 40 anos e que já realizou mais de 500 lançamentos, abre grandes perspectivas comerciais para o Brasil, mas uma série de dificuldades, desde o acidente de 2003 em que morreram 21 técnicos e engenheiros, às vésperas da colocação em órbita do VLS-1 (que seria o primeiro veículo brasileiro lançador de satélites), até as dificuldade para aprovar o acordo de Salvaguarda Tecnológica com os EUA, atrasou os trabalhos na Base, que permitiria a entrada do Brasil no importante nicho de mercado de satélites de telecomunicações e de meteorologia. 

‘O grande desafio foi tornar o Centro operativo e competitivo, o que aconteceu com mudanças na governança do setor e a definição de uma estratégia, de longo prazo, que desse previsibilidade para as eventuais empresas interessadas de outros países’

Com a entrada em vigor do acordo, o grande desafio foi tornar o Centro operativo e competitivo, o que aconteceu com mudanças na governança do setor e a definição de uma estratégia, de longo prazo, que desse previsibilidade para as eventuais empresas interessadas de outros países. Com esse atraso, o Brasil foi ultrapassado por outros países na corrida espacial. Outras bases surgiram na China, Índia, Rússia, Coréia, Japão, Austrália e Nova Zelândia. 

Essas atividades no passado ficaram limitadas a entidades públicas civis e militares. Hoje a corrida espacial tem envolvido cada vez mais a iniciativa privada, como mostram Elon Musk e Jeff Bezos. No Brasil, estamos apenas iniciando essa cooperação com o setor privado.

O programa espacial e o Centro de Lançamento de Alcântara são responsabilidade do ministério da Defesa. A Agência Espacial Brasileira, do Ministério da Ciência e Tecnologia.  Recentemente foi criada a empresa estatal ALADA, Empresa de Projetos Aeroespaciais do Brasil S.A.

‘O programa espacial brasileiro está atrasado e ainda não foi possível completar o desenvolvimento de um veículo lançador de satélites nacional’

O programa espacial brasileiro está atrasado e ainda não foi possível completar o desenvolvimento de um veículo lançador de satélites nacional. Dificuldades técnicas e carência de recursos podem explicar a demora em avançar nesse programa. 

Recente acordo entre a ALADA, o Comando da Aeronáutica do ministério da Defesa e a Agência Espacial Brasileira (AEB) abre espaço para um avanço estratégico para explorar economicamente as atividades espaciais, fomentar a indústria nacional, ampliar o uso das infraestruturas públicas por agentes econômicos privados e, em particular, promover o uso comercial dos centros de lançamento brasileiros. 

Essa parceria -espera-se – poderá ser muito importante para o fortalecimento e a evolução do Programa Espacial Brasileiro.

Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994–99) e em Washington (1999–04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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