O que representa a viagem de Lula à Rússia e à China
A grande questão hoje é se houve ou não uma adequação do momento da visita do presidente Lula à Rússia. Parece que não. A posição externada pelo governo brasileiro de apoio a uma solução negociada na Ucrânia poderia ter sido expressa de outra maneira, ainda que não houvesse uma visita presidencial

Por Alberto do Amaral*
Nesta edição de sua coluna, o professor Alberto do Amaral fala sobre a recente viagem do presidente Lula à Rússia, país com quem o Brasil tem relações históricas. Amaral destaca que o Brasil foi o primeiro país a reconhecer a Rússia como sucessora da União Soviética após a integração do império soviético, em 1991.
Em 2002, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, as relações entre Brasil e Rússia adquiriram um caráter de parceria estratégica. Desde então, as relações aprofundaram-se.
“O presidente Putin visitou o Brasil durante algumas oportunidades. Os presidentes brasileiros Lula, Michel Temer, Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro visitaram a Rússia. Brasil e Rússia têm um intercâmbio na área científica bastante estreito, na área espacial, na área cultural. A relação econômica entre Brasil e Rússia funda-se basicamente na exportação de produtos agrícolas pelo Brasil, importação de fertilizantes provindos da Rússia. A grande questão hoje é se houve ou não uma adequação do momento da visita do presidente Lula à Rússia. Parece que não. A posição externada pelo governo brasileiro de apoio a uma solução negociada na Ucrânia poderia ter sido expressa de outra maneira, ainda que não houvesse uma visita presidencial.”
O colunista aproveita a deixa e também fala da visita do presidente Lula a Pequim, para a qual vê dois grandes sentidos: reforçar o multilateralismo e ampliar ainda mais o relacionamento bilateral entre Brasil e China.
“O Brasil exporta fundamentalmente produtos agrícolas e importa produtos, bens manufaturados, painéis solares, carros elétricos ou híbridos. Hoje a China é o principal parceiro brasileiro: 28% das exportações brasileiras destinam-se à China. Desde 2009, a China tem essa posição privilegiada. O Brasil exporta para a China petróleo, ferro e soja. Se existe uma complementaridade entre Brasil e China, essa complementaridade pode ser ainda mais ampliada, enriquecida com uma diversidade em que os dois parceiros possam ampliar a exportação de bens industriais e commodities, assim como de bens agrícolas por parte do Brasil, sobretudo.”
Alberto do Amaral é professor da Faculdade de Direito da USP
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