Raiz das relações internacionais – Entre o raciocínio abstrato e a concretude das evidências
Esta coluna mensal propõe um exercício sistemático: integrar teoria e evidência, unir conceito e mensuração e, por fim, combinar suposição e resultado

“O mundo é um construto de nossas sensações,
percepções, reminiscências. Convém considerar
que ele exista objetivamente por si só. Mas, certamente,
não se torna evidente por sua mera existência”.
(Erwin Schrödinger)
Vivemos em uma era em que o excesso de informação sufoca o entendimento. Números aparecem soltos e, muitas vezes, isolados de ideias. Teorias são proclamadas como slogans, distantes da verificação empírica. E, nesse cenário, a ciência segue sendo um dos poucos lugares onde o rigor ainda resiste. É a partir dessa premissa que nasce √RI – Teoria & Dados.
Esta coluna mensal propõe um exercício sistemático: integrar teoria e evidência, unir conceito e mensuração e, por fim, combinar suposição e resultado. A cada edição, discutiremos temas centrais das Relações Internacionais e das Ciências Sociais. Buscaremos, com isso, oferecer ao leitor não apenas respostas, mas, também, melhores perguntas. Para garantir a transparência e aumentar o potencial de reuso, sempre que possível, dados originais e scripts computacionais serão compartilhados com os leitores. Acreditamos que isso será um diferencial de validade e confiabilidade das inferências apresentadas.
A título de exemplo: Nas universidades brasileiras se pesquisa muito sobre RI? Usando dados públicos da CAPES e um novo pacote de R, mapeamos todas as teses e dissertações que citam “Relações Internacionais” no título, conforme ilustra o Gráfico 1. Cabe, claro está, se questionar sobre o que causou a oscilação, elaborando hipóteses, propondo variáveis e buscando na literatura pertinente argumentos analíticos plausíveis.
Gráfico 1
E tem mais: em cada artigo você vai aprender algo novo e/ou vai ter acesso a algum conteúdo diferenciado. Nesse ensaio de apresentação, compartilhamos a base de dados com as 254 teses e dissertações que citam Relações Internacionais no título defendidas no Brasil entre 1987 e 2022, conforme ilustra a Figura 1.
Figura 1
Assim, de posse das informações originais e dos resultados, o leitor poderá inspecionar os dados com suas próprias lentes teóricas e metodológicas e, assim, corroborar ou desafiar nossas conclusões. Eis aí a beleza da ciência: seu caráter conjectural e refutável! Como defende Karl Popper, ela permite que todo conhecimento seja sempre provisório, aberto à crítica e passível de ser superado por melhores explicações. Thomas Kuhn também enaltece a ciência ressaltando seu caráter reflexivo sobre seus próprios marcos e limites – condição essencial para sua transparência e integridade. Com ênfase em métodos estatísticos e computacionais, nossos textos se posicionam no cruzamento entre o raciocínio abstrato e a concretude das evidências. Serão análises informadas, mas acessíveis; densas, porém com linguagem amigável.
√RI – esse radical, essa raiz – não é apenas uma imagem matemática. É um símbolo do que queremos extrair: o núcleo racional da análise política, o ponto onde o argumento encontra o dado, onde a teoria é testada com disciplina. Mais que uma seção de opinião, esta coluna é um convite à curiosidade científica, de longe, a forma mais poderosa de resistência intelectual.
Seja bem-vindo!
Marcelo de Almeida Medeiros é professor titular do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (DCP/UFPE) e Pesquisador PQ-1C do CNPq. Dalson Britto Figueiredo é professor associado do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (DCP/UFPE) e Pesquisador PQ-C do CNPq.
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