Venda de jogadores rendeu R$ 28 bilhões ao Brasil desde 1995
País mais perde do que ganha com a venda de atletas muito jovens, e se beneficiaria se eles passassem mais tempo em gramados brasileiros antes de se transferirem para o exterior
Desde 1995, as transferências de jogadores de futebol brasileiros para o exterior somaram mais de US$ 5,63 bilhões (R$ 28 bilhões), segundo dados fornecidos pelo Banco Central. O órgão começou a contabilizar os valores das transferências em 1995, quando a exportação de jogadores rendeu ao país US$ 19 milhões (R$ 95 milhões).
O Banco Central informou ainda que a série abrange também atletas de outros esportes, apesar de a maioria ser de jogadores de futebol.
Até hoje, o maior volume de dólares entrando no país em virtude da transferência de atletas para o exterior foi em 2018, com US$ 383,7 milhões (R$ 1,9 bilhão). Na sequência, aparecem 2023, com US$ 354,3 milhões (R$ 1,77 bilhão), e 2019, com US$ 329,8 milhões (R$ 1,65 bilhão).
De 1995 a 2023, período contabilizado pelo Banco Central, a transferência de atletas para o exterior totalizou US$ 5,63 bilhões (R$ 28 bilhões).
Apesar de o volume ser significativo, a forma como acontece boa parte das transferência é negativa para o futebol brasileiro, pois envolve muitas vezes jogadores jovens, com menos de 20 anos. Um exemplo recente é o de Endrick, então com 16 anos, que foi vendido pelo Palmeiras ao Real Madrid em dezembro de 2022, por 35 milhões de euros (R$ 190 milhões).
A ida precoce desses atletas impede que os clubes formadores lucrem com outras formas de negócios, como venda de camisetas, campanhas de marketing, venda de direitos de TV ou mesmo para atrair mais público aos estádios.
Na Europa, destino de muitos desses jovens atletas, como é o caso de Endrick, os clubes buscam ao máximo diferentes formas para rentabilizar tais contratações.
Com o passar do tempo e o sucesso nos gramados, muitos desses jovens jogadores se transformam em espécie de submarcas, que às vezes superam em alcance o próprio time.
Em resumo, o Brasil mais perde do que ganha com a venda de jogadores ainda jovens. O ideal seria que eles passassem mais tempo em gramados brasileiros antes de se transferirem para o exterior.
André Luís Nery é colunista da Interesse Nacional, jornalista, mestre e doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (Prolam-USP)
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