Para embaixador, atualmente há um “mal estar” entre os dois governos
A escalada da tensão entre Brasil e Venezuela e a ausência de crítica à falta de democracia e aos agravos aos direitos humanos aumentam o desgaste interno do governo brasileiro e tornam explícita a contradição entre a ideologização e a partidarização da política externa e os interesses nacionais
Vice-presidente da Venezuela confirma asilo político ao candidato
Itamaraty lembrou dos compromissos assumidos nos Acordos de Barbados
Tensão na Venezuela é um desafio e uma oportunidade sem precedentes à política externa brasileira, que tem agido de forma correta. Ao tratar a questão a partir de seus riscos à democracia e à geopolítica, o Brasil reafirma seu protagonismo e valoriza seu papel na superação daquela que já se coloca como a principal crise regional deste século
Postura extremamente cautelosa do Itamaraty, que não reconheceu resultado das eleições, é resultado de confluência de fatores que incluem tradição de não-interferência, divisões na esquerda e legado da aliança entre diferentes setores da sociedade brasileira que derrotou ameaça de guinada autoritária nas eleições de 2022
Mecanismos de promoção e proteção democrática – tais como comissões eleitorais e cláusulas democráticas – e de mediação e resolução de conflitos foram desgastados, perderam sua legitimidade. Não existem hoje na região mecanismos institucionalizados para o enfrentamento de crises políticas
Tensão criada pelas suspeitas de fraude nas eleições na Venezuela e pela expulsão mútua de embaixadores com a Nicarágua é um presente para o governo, que pode redirecionar sua política externa para uma defesa da democracia independentemente de amizades e simpatias ideológicas
O regime de Maduro não vai deixar o poder, o que deixa Lula e seus contemporâneos nas Américas com uma pergunta terrível: é mais eficaz simplesmente conter o estado falido na Venezuela ou deve-se estabelecer um precedente com uma invasão pró-democracia no país?
O vizinho latino-americano ganhou um valor simbólico semelhante ao de Cuba e seu processo revolucionário nos anos 1960. Hoje, a Revolução Bolivariana e o chavismo polarizam o espectro ideológico, inclusive dentro da própria esquerda