26 agosto 2022

A diplomacia ambiental contra o isolamento do Brasil no mundo

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o embaixador Rubens Barbosa apresentou a pesquisa do livro ‘Diplomacia Ambiental’, que avalia o grau de cumprimento de acordos ambientais pelo Brasil e diz que a política ambiental pode ajudar na projeção internacional do país

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o embaixador Rubens Barbosa apresentou a pesquisa do livro ‘Diplomacia Ambiental’, que avalia o grau de cumprimento de acordos ambientais pelo Brasil e diz que a política ambiental pode ajudar na projeção internacional do país

Queimada e vista em meio a área de floresta próxima a Porto Velho (Bruno Kelly/Amazônia Real)

A percepção externa sobre o Brasil atualmente é muito negativa em larga medida por conta do problema de desmatamento da Amazônia. A recuperação do prestígio do país, portanto deve passar pelo cumprimento de acordos internacionais de política ambiental e de uma diplomacia voltada à proteção do ambiente. A análise é do embaixador Rubens Barbosa, diretor editorial da Interesse Nacional, em entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo.

A entrevista discutiu a pesquisa que resultou no livro Diplomacia Ambiental, que analisa 60 normas internacionais e 15 acordos ambientais para avaliar o grau de cumprimento deles pelo Brasil desde 1992.

https://interessenacional.com.br/edicoes-posts/obra-avalia-o-quanto-o-brasil-esta-cumprindo-compromissos-ambientais-internacionais/

Leia abaixo alguns trechos da entrevista:

“A percepção externa sobre o Brasil hoje é muito negativa. Nós tivemos um episódio semelhante no meio do governo militar quando, na década de 80, aconteceu o mesmo problema de desmatamento da Amazônia. A percepção externa foi muito negativa. Foram quase 15 anos para a gente recuperar o protagonismo na área do clima, só em 92, com a Rio 92, o Brasil passou a ser um player, um ator importante no cenário internacional. Agora está acontecendo a mesma coisa. O estudo mostra que, até 2018, o Brasil estava bem na fotografia. Agora, não. Nos últimos anos, por uma série de razões de política ambiental interna, pelo desmonte dos órgãos fiscalizadores e, sobretudo pela queimadas, pela destruição e o garimpo, tudo isso gerou uma reação muito forte e muito negativa.  A recuperação disso, a restauração da credibilidade do Brasil vai passar em parte pelo cumprimento desses acordos, pelo pleno comprimento dos acordos, então o estudo vem nesse momento até para ajudar nisso. Esse trabalho foi feito por professores da USP, sem nenhuma conotação política ou ideológica, nada. É uma coisa objetiva.”  

“[A política ambiental do Brasil] pode ser rapidamente reconstruída a partir de medidas muito simples. O problema é que existe hoje no exterior, em relação ao Brasil, a percepção de que o meio ambiente e a mudança de clima são temas globais, que o mundo se preocupa, e o Brasil se preocupa menos por uma série de ações que o governo tomou. Vou dar um exemplo concreto: o Fundo Amazônia foi suspenso no início do governo porque ele desmontou os órgãos de governança que acompanhavam o emprego dos recursos que vinham do exterior para o combate ao desmatamento. Se houver uma negociação com a Alemanha e com a Noruega, e na primeira semana do governo esses órgãos voltarem a funcionar imediatamente, os recursos, US$ 1 bilhão, que estão parados no BNDES, poderão ser utilizados. Então, o que eu estou querendo dizer é que a percepção externa poderá começar a mudar rapidamente por ações muito pontuais.” 

“Se o Brasil quer entrar na OCDE, se quer aprovar o acordo com a União Europeia, isso passa pela política ambiental. Isso tudo pode ser prejudicial aos interesses brasileiros, não só aos interesses do governo, como aos interesses do setor privado. Cada vez mais vão existir medidas que restrinjam as importações de produtos que saem de áreas que estão sendo desmatadas. Então, não adianta a gente ter uma retórica aqui no Brasil dizendo que isso é um problema de interesses externos para ocupar a Amazônia, ou que é um interesse protecionista para impedir produtos brasileiros. O Brasil só vai entrar na OCDE se cumprir o que ela prevê. A mesma coisa o acordo com a União Europeia. O exterior está dizendo, em outras palavras, vocês têm que cumprir a legislação interna de vocês pra aceitarmos vocês. Eles não estão exigindo nada mais. Estão querendo que a gente cumpra. Só isso.” 

“Nós não somos um país pequeno, de 5 milhões de habitantes. Somos um país continental de 213 milhões de habitantes. Quer dizer, você tem de ter um pensamento estratégico, um pensamento global. Você não pode ficar limitado a questões pontuais sem prever outras consequências.  Por tudo isso que quando se discute a Amazônia de maneira mais ampla, e não apenas do ponto de vista do meio ambiente, é um problema muito complicado porque acaba afetando o Brasil inteiro.”

Leia a entrevista completa

Editor-executivo do portal Interesse Nacional. Jornalista e doutor em Relações Internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. Mestre pelo KCL e autor dos livros Brazil’s international status and recognition as an emerging power: inconsistencies and complexities (Palgrave Macmillan), Brazil, um país do presente (Alameda Editorial), O Brazil é um país sério? (Pioneira) e O Brasil voltou? (Pioneira)

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

Cadastre-se para receber nossa Newsletter