Escalada na guerra
Rússia ameaça usar armas nucleares na guerra contra a Ucrânia e aumenta o risco de um conflito mais amplo e generalizado; enquanto isso, o Brasil às vésperas da eleição presidencial continua sem um posicionamento claro sobre as sombrias perspectivas internacionais
Rússia ameaça usar armas nucleares na guerra contra a Ucrânia e aumenta o risco de um conflito mais amplo e generalizado; enquanto isso, o Brasil às vésperas da eleição presidencial continua sem um posicionamento claro sobre as sombrias perspectivas internacionais
As declarações do presidente Vladimir Putin favoráveis a um referendo para a anexação dos territórios ucranianos ocupados até aqui, inclusive a Crimeia, e a possibilidade de uso de armas nucleares táticas, caso o território russo seja atacado (em especial, os novos depois do referendo), indicam uma escalada preocupante no conflito entre a Rússia e a Ucrânia. E não se trata de um blefe, como acentuou o presidente russo.
Embora seja um reconhecimento de que os objetivos militares iniciais não tenham sido alcançados e de que, de certa forma, a fraqueza tática e estratégica russa no campo de batalha possa ser compensada pela ameaça de utilização de armas nucleares táticas, a nova fase da guerra coloca desafios para os EUA e a OTAN.
Diversos líderes europeus, vieram a público para dizer que o pronunciamento de Putin deveria ser levado a sério, e novas sanções e mais armamentos para a Ucrânia deveriam ocorrer. O presidente Biden, embora condenando fortemente a Rússia, disse que uma escalada, com a ameaça de guerra em bases mais radicais, deveria ser evitada. O problema é que não se vê espaço para qualquer fórmula de entendimento a curto prazo, sobretudo depois do pronunciamento do presidente Zelensky com as condições de abertura de conversações para a suspensão do conflito, inaceitáveis para a Rússia, como a condenação de Putin, a devolução dos territórios ocupados e garantias de segurança para a Ucrânia contra-ataques de Moscou.
As incertezas cresceram e a possibilidade de um conflito que extravase as fronteiras da Ucrânia se tornaram mais concretas, apesar de ninguém estar preparado para uma guerra de maior dimensão na Europa. Os problemas energéticos e de alimentos com a alta dos preços na maioria dos países europeus ameaçados de ter suas populações muito afetadas pelo inverno que se aproxima e a aproximação das eleições do meio do mandato para o Congresso nos EUA tornam o momento ainda mais delicado.
Resta aguardar a reação ocidental ao resultado previsível do referendo com a anexação dos territórios ocupados hoje na Ucrânia pela Rússia e a reação de Moscou, caso os ataques ucranianos continuem contra o agora território russo. Sem falar nas consequências da reação política interna como resultado do agravamento do conflito e da convocação de 300.000 reservistas para eventualmente lutar no front ucraniano.
Enquanto isso, em dez dias, teremos eleições presidenciais no Brasil e nenhum candidato se manifestou sobre as sombrias perspectivas internacionais e sobre a posição do Brasil.
Editor-executivo do portal Interesse Nacional. Jornalista e doutor em Relações Internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. Mestre pelo KCL e autor dos livros Brazil’s international status and recognition as an emerging power: inconsistencies and complexities (Palgrave Macmillan), Brazil, um país do presente (Alameda Editorial), O Brazil é um país sério? (Pioneira) e O Brasil voltou? (Pioneira)
Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional